Crítica: Sky Oceans: Wings for Hire – Talvez tenha decolado cedo demais

Por Arthur Tayt-Sohn

Nota: 6

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge

Desenvolvido pelo estúdio chileno Octeto Studios, Sky Oceans: Wings for Hire traz uma proposta interessante: um RPG de turnos sobre dogfights, os combates entre aviões de caça de curto alcance. Esses combates se tornaram comuns a partir da Primeira Guerra Mundial.

Além disso, o jogo conta com uma apresentação visual que certamente chama atenção: sua direção de arte claramente inspirada em animações do Studio Ghibli e máquinas com bastante influência no trabalho de Akira Toriyama.

Tivemos a oportunidade de jogar Sky Oceans e contamos agora sobre o jogo.

Um mundo em pedaços

Em Sky Oceans, o mundo está em pedaços, literalmente. Após a chamada Era do Esplendor, período onde supostamente os humanos chegaram ao ápice do desenvolvimento tecnológico, ocorreu uma catástrofe que praticamente destruiu o planeta.

O pouco que sobrou foram pequenos territórios que flutuam nos céus. Nesses pedaços de rocha flutuante, surgem tentativas de restabelecer a civilização. Os humanos formam tribos (como são chamados no jogo os povoados), pequenas cidades, postos de controle, minas, etc.

Sky Oceans - Wings for Hire - Blossom

A única forma de se locomover entre esses territórios é voando. Para isso, os humanos contam com pequenos jatos individuais, os airjets, e embarcações maiores, que permitem viagens mais longas através de fortes correntes de ar.

O jogo nos apresenta Glenn Windwalker, um jovem cadete filho de dois dos maiores aventureiros e exploradores dos “sky oceans”. Ele está se formando oficialmente como um piloto da tribo de Blossom e logo se vê em uma trama complexa envolvendo sua família e a Aliança, uma forte organização política.

Voando por turnos

Como já citado, as dogfights de Sky Ocean ocorrem por turnos. Primeiramente há a fase de planejamento e logo após a fase de execução, onde apenas observamos o desenrolar das ações de cada piloto, seja aliado ou inimigo.

Além dos ataques normais, é possível utilizar habilidades elementais (fogo, gelo, vento, etc), utilizar itens e também realizar manobras evasivas. Essa última ação é um conceito interessante no jogo.

Utilizando o “evade”, o piloto realiza uma manobra evasiva que abre mão de realizar uma ação naquele turno, mas permite que ele se defenda dos ataques inimigos. Como na fase de planejamento é possível saber cada ação que será realizada pelo inimigo, conseguimos identificar qual dos nossos pilotos terá maior foco do inimigo e assim protegê-lo.

Sky Oceans - Combate

Isso torna os combates bastante estratégicos e exige que o jogador tenha um maior planejamento das ações. Outra mecânica do jogo que também influencia na estratégia são as habilidades elementais, que também podem causar status negativos no inimigo ou status positivos para os aliados.

Conceitualmente o combate do jogo tem diversas mecânicas interessantes, mas que esbarram em sérios problemas de execução, infelizmente. A IA dos inimigos tem problemas, como por exemplo diversas vezes que um inimigo durante diversos turnos curou um dos seus aliados que já estava com o HP cheio e sequer era alvo dos meus ataques.

O RNG do jogo também é meio imprevisível. Frequentemente alguma habilidade minha com mais de 80% de chance de acerto errava o inimigo. Algumas com mais de 90% de chance. Também faltou um pouco mais de clareza na utilidade de cada classe de jatos, que funcionam mais ou menos como classes dos personagens.

Outro ponto que estranhei no combate é a facilidade com que os personagens sobem de nível. Em praticamente todo combate meus personagens subiram de nível. E os que não estavam em uso no momento acabam ficando muito para trás em níveis.

Sky Oceans - Level UP

Talvez fosse mais interessante um sistema que não usasse níveis, mas que os atributos evoluíssem conforme determinado tipo de ataque ou habilidade fosse utilizado, algo que existe em outros jogos de RPG.

Fora do combate, também existem uma série de mecânicas que não são bem apresentadas, apesar do potencial. Conforme liberamos a nave de transporte, teremos acesso à uma clínica médica, psicólogo e cozinha.

Na clínica podemos descansar alguns dos pilotos e com isso remover status negativos. Darkest Dungeon tem um sistema parecido e é interessante. O psicólogo ajuda a melhorar o relacionamento entre a equipe e libera alguns diálogos para conhecer melhor os personagens.

Sky Oceans - Psicólogo

Na cozinha, podemos preparar alguns alimentos que oferecem bônus aos personagens. Também é possível gerenciar os equipamentos dos jatos, definir habilidades e realizar melhorias na “nave-mãe”.

Inclusive, a nave também pode ser usada em combate, o que acrescenta uma camada interessante de variedade no jogo. Porém, peca pelo gameplay ser basicamente o mesmo das dogfights, o que acaba sendo uma oportunidade perdida de expandir o gameplay.

Além de tantas mecânicas que acabam sendo pouco aproveitadas, até pela duração da campanha não ser das maiores, há uma série de problemas e bugs no geral. Me senti meio perdido nos menus e na apresentação de algumas mecânicas.

Por exemplo, assim que liberei a nave e comecei a explorar o overworld, quis testar como era a batalha e simplesmente iniciei o combate com a vida de todas as partes da nave em zero. Em um turno eu fui derrotado. Precisei avançar um pouco mais na história para conseguir de fato utilizar a nave em combate.

Sky Oceans - Combate com naves

Seria mais interessante para o jogo se houvesse menos mecânicas implementadas e mais esforço em balancear, polir e corrigir bugs no que já existe. Por ser um jogo relativamente curto, não acho que a maioria delas fosse necessária.

O jogo se beneficiaria mais do refinamento das suas principais mecânicas, ajustes na IA e no balanceamento das classes. A inclusão de novas mecânicas e aumento do escopo poderiam vir em um projeto futuro.

Mecanicamente o jogo tem conceitos muito interessantes, mas os problemas técnicos prejudicam a experiência.

Explorando oceanos no céu

Sky Oceans: Wings for Hire é uma típica história de RPG onde um personagem acaba sem querer se envolvendo em eventos e conflitos maiores do que ele poderia imaginar.

Após se formar como piloto da tribo de Blossom, Glenn vê seu lar ser atacado por naves da Aliança, uma força militar e política que parece buscar algo que os pais do protagonista descobriram.

Com o passar do tempo, vamos descobrindo que a história é um pouco mais complexa que isso, conforme vamos sendo apresentados a elementos que datam de períodos muito anteriores ao jogo.

Sky Oceans - Overworld

Se despedindo de Blossom, Glenn conhece novas pessoas e vai descobrindo traços dos humanos da Era do Esplendor e descobrindo pistas sobre o que aconteceu para o mundo chegar ao ponto que chegou e quais são os reais objetivos da Aliança, além de descobrir mais do passado dos seus pais.

É uma história bem padrão de RPG que funciona bem e tem um bom ritmo. Não é uma narrativa extremamente complexa mas é bem escrita. Não é um jogo que tenta ser ambicioso demais com seu roteiro.

O jogo também conta com uma apresentação visual bastante carismática, inspirada em clássicos da animação japonesa.

Particularmente eu gosto muito de designs de máquinas que parecem miniaturas de máquinas reais, um traço muito característico do Akira Toriyama, que pra mim será eternamente o maior ilustrador de máquinas e veículos que já existiu.

Sky Oceans - Airjets

Essa decisão artística foi um grande acerto do jogo, pois permite combinar isso muito bem com os visuais inspirados no Studio Ghibli do restante do jogo. É um tipo de direção de arte que tem bastante apelo entre fãs de animação japonesa. E nós, latino-americanos, amamos essas animações.

Além disso, o jogo conta com cutscenes animadas muito bem feitas. O estúdio Octeto deu uma identidade visual muito carismática ao jogo, o que torna esse um dos pontos fortes de Sky Oceans. É notável que os desenvolvedores tiveram bastante carinho e cuidado com a apresentação visual.

Sky Oceans - Animação

Por outro lado, há vários problemas na parte sonora do jogo. Sons que parecem ser reproduzidos fora do momento certo, momentos em que eu ouvia barulho de passos em chão de metal enquanto eu estava na grama, entre outros.

Os problemas do jogo são bem mais de caráter técnico do que de direção, o que felizmente facilita a correção com alguns patches. Pelo que andei acompanhando, os desenvolvedores estão lançando já algumas correções e isso é importante para garantir a qualidade de vida do jogo após o lançamento.

Talvez tenha decolado cedo demais

Sky Oceans: Wings for Hire é um jogo que tinha bastante potencial ao trazer um conceito muito interessante de RPG, explorando dogfights em um contexto de RPG com foco em estratégia.

Porém, o jogo conta com uma série de problemas técnicos que poderiam ter sido resolvidos com um pouco mais de tempo de desenvolvimento. Além disso, o jogo poderia abrir mão de algumas mecânicas para aprimorar e refinar as mais importantes para um jogo de RPG.

Sky Oceans - Airjets

Mas é importante destacar também a dedicação com a apresentação visual do jogo, que é bastante carismática e que vai agradar fãs de animação. Algo que o estúdio pode aproveitar em novos projetos.

Há potencial no projeto para receber uma sequência ou até mesmo um novo título, aproveitando todos os aspectos positivos que o jogo possui e corrigindo suas falhas. Alguns patches já serão o suficiente para resolver a maioria dos problemas, o que vai beneficiar o jogo.

Que após as melhorias, os piratas dos céus possam decolar ainda mais alto.

Nome do jogo:

Sky Oceans: Wings for Hire

Publisher:

PQube

Desenvolvedora:

Octeto Studios

Plataformas Disponíveis:

PC

Conheça a Nuuvem

Compre com a Nuuvem e ajude o Game Lodge!