Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Synduality: Echo of Ada é um jogo de tiro de extração PVPVE desenvolvido pela Game Studio e publicado pela Bandai Namco. Trata-se de um projeto multimídia da publicadora anunciado em 2022, que desde então recebeu algumas betas e um anime com 2 temporadas pelo Disney+, e agora em janeiro de 2025 finalmente está sendo lançado para PC, PS5 e Xbox Series.
Alguns meses atrás, eu tive oportunidade de jogar a segunda beta fechada a convite da Bandai e fazer minhas impressões sobre ela, que você confere aqui. Agora, com o jogo completo em mãos, qual será o veredito final? Vamos conferir!
O jogo é ambientado no ano de 2222, anos após uma chuva tóxica e misteriosa, as Lágrimas da Lua Nova, quase terem extinguido a humanidade e dado a vida a criaturas xenomórficas, os Enders, que passaram a caçar a população. Sem alternativa de sobrevivência na superfície, a humanidade teve que construir e se mudar para instalações subterrâneas.
Como piloto de um mecha chamado CRADLECOFFIN, somos conhecidos como Drifters e temos como objetivo de coletar recursos da superfície das ruínas da Terra. Para isso, lutamos contra inimigos ou alternamos entre cooperação e competição com outros Drifters.
Somos acompanhados por Magus, um parceiro humanoide que nos auxilia em batalha dentro do CRADLECOFFIN e analisa nossos dados de desempenho, oferecendo conselhos de otimização. Ele também serve como suporte de batalha graças as suas habilidades especiais, o Magus Skill. Cada Magus tem uma personalidade e aparência única.
Infelizmente, por se tratar de um jogo de tiro de extração online, não temos exatamente um enredo profundo ou foco em história aqui. Contamos apenas com uma lore de mundo, aonde vamos descobrindo um pouco mais do que aconteceu a Terra anos atrás por meio de itens, documentos e gravações que vamos adquirindo nas missões.
O mais próximo de uma “campanha” que temos são as missões solo, fornecidas pelo Comitê de Investigação de Amasia. São missões lineares, em seções contidas no mapa e são jogadas com um conjunto de equipamentos pré-definido. Ao completar essas missões, a gente recebe gravações contando um pouco do que ocorreu no mundo pela perspectiva de dois personagens, Alba e sua Magus Ada.
A lore é interessante e bem-vinda, mas fica infelizmente a impressão de ser pouco a se contar pelo potencial de mundo que temos aqui. Vamos adquirindo essas gravações de forma não sequencial, o que não deixa a narrativa dos fatos bonitinha (mas faz sentido com o fato da investigação). Além disso, demora algumas boas horas para liberar essas missões e começarmos a entrar na lore do jogo. O que acho uma pena e acredito que poderia estar disponível desde o início.
O grande foco e destaque de Synduality reside em seu loop de jogabilidade. Encarnamos mesmo no papel de um Drifter que tem que ir completando as missões para fazer um pé de meia e sobreviver no mundo.
Então, como funciona o ciclo? É simples, recebemos missões de organizações diferentes, preparamos os equipamentos que levaremos para a superfície e, estando lá, andamos pelo mapa em busca de completar algum objetivo e depois conseguir voltar à nossa base em segurança. Claro que nem tudo é fácil em um ambiente tão hostil, então devemos lidar com a presença dos Enders, de caçadores de Drifters (NPC), com jogadores hostis e com a chuva tóxica.
Como um shooter extraction da vida, a preparação para encarar esses desafios é primordial, já que caso a gente falhe e não consiga voltar em segurança para a base, a gente perde todo o equipamento que levou. Isso tudo cria o ciclo da gente se preparar bem, se mover inteligente pelo mapa, sabendo priorizar os objetivos e avaliar os riscos, obter sucesso e ir melhorando os equipamentos para ser cada vez mais eficiente.
Juntamos isso a uma boa jogabilidade de mecha onde podemos sentir o peso dessas toneladas de metal e temos uma variedade de armas, granadas, habilidades e peças de robôs para se usar. Nesse sentido acho que o jogo brilha, pois cada peça tem sua utilidade, cada arma tem um uso devido, o que ajuda na questão de dar importância ao planejamento antes de partir em missão.
Essa variedade é boa e existe, mas assim como falei quanto a lore, ela esbarra no problema de no começo do jogo isso não ser presente pelo fato da economia não ser das mais amigáveis. Tudo é bem caro de se comprar ou até craftar, tornando esse avanço inicial travado. Claro que a depender da sua habilidade, e um pouco de sorte, você vai conseguir juntar mais dinheiro ou até achar equipamentos melhores pelo mapa, mas de começo a gente usa o que tem de início, e o que tem não varia muito.
Isso cria uma camada de tensão maior no planejamento e na atenção durantes as missões, já que se a gente perder os itens vai ser bem custoso para recuperar. É algo normal do seu gênero e nenhuma surpresa essa dualidade entre a tensão “boa” e a possível frustração da perda, mas a pessoa que for parar no jogo mais pelo mecha ou pelos “bonecos de anime” pode acabar saindo um pouco mais frustrado do que se espera de jogadores de extraction shooter.
Uma coisa que o jogo faz bem é dar meio que uma separada entre os jogadores mais de boa e os que tão ali pelo PVP, já que ele separa ambos em duas facções: Association Member ou Bounty Target. Se você jogar namoralzinha, sem matar outros jogadores, mas sim cooperar ou só ignorar a presença deles, você vira o Association Member e passa a ganhar missões de organizações públicas e seu ranking no jogo será baseado no valor das recompensas que você coletou. Já se você matar alguém e parar no Bounty Target irá receber missões de organizações de foras da lei, receberá um preço pela sua cabeça e seu ranking será definitivo pelo valor da recompensa que colocarem em você.
Como no começo todos começam como Association Member, você ainda pode encontrar um jogador que tente te atacar para virar um Bounty Target, mas no geral a imensa maioria será de jogadores de boa, já que essa separação de facção cria também uma separação de mapa, tendo assim um mapa mais PVP para quem quiser e os mapas mais de boa para quem quer mais calma.
Essas interações são legais, pois você sempre fica tenso vendo outro jogador por não saber o que esperar, mas quando vocês trocam emotes e seguem suas vidas ou formam uma aliança momentânea para uma missão é bem legal.
Outro fator de destaque que o jogo tem é o Magus, que é a única coisa customizável do jogo, já que o personagem que usamos nem aparece na tela. Então, somos nós quem criamos a aparência e escolhemos o nome do(a) Magus. Não é o melhor criador de personagem do mundo, mas também não é o pior, é apenas ok.
Temos quatro tipos de Magus disponíveis (entenda como tipo do corpo), dois masculinos e dois femininos, usados como a base para que você crie a aparência. Também temos cinco tipos de Magus Skill para escolher uma para que nosso Magus use. Elas variam entre serem mais de combate ou exploração e serem mais ofensivas ou defensivas. Elas apresentam vantagens e desvantagens também.
Ao avançar do jogo a gente vai liberando algumas roupas para os Magus, que também podem ser adquiridas em micro-transações ou pelo passe de temporada. E vamos liberando algumas interações com os(as) Magus (tipo poder limpá-los) a medida que a gente expande a nossa base subterrânea com o dinheiro e recurso que conseguimos nas missões.
A parte de expansão da base é legal, mas o problema reside novamente na economia, já que é bem custoso realizar essas melhorias. Fora os materiais que elas pedem, que nem sempre é fácil de coletar, já que você tem um limite de peso que pode carregar em missão, e tudo é muito pesado enchendo logo sua mochila, o que faz que você tenha que ir e partir em missões muitas vezes para coletar tudo. Além disso, cada expansão tem um tempo real para ser realizado, indo de 10s até quase 2 horas… deixando o processo bem burocrático.
Sendo bem franco e direto, eles sabem que boneco de anime dá dinheiro e atrai a atenção, mas não acho que desenvolveram um bom sistema para se aproveitar desse fato. As roupas são bem qualquer coisa e não varia tanto, o design e gráfico dos Magus é bem… genérico e sem graça, chega a ser criminoso comparar eles com Magus do anime, a customização é ok só e as pequenas interações são bem… pequenas. Se eles queriam se aproveitar e focar num sistema desse, dava para fazer bem melhor.
Adiantando um pouquinho da minha conclusão, eu acho Synduality um jogo bom, justamente por me prender mesmo eu não gostando de extraction shooter. Só que ele tem algumas coisas que levantam uma certa preocupação em relação a sua longevidade, se tratando de um jogo online.
Uma das preocupações é com a base de jogadores, visto que o jogo não consta com crossplay. Nesse começo eu sempre achei alguém pelo mapa, mesmo jogando no Xbox, que eu não duvido que vá ter a menor base de jogadores. Só que fica a questão do quanto tempo esses jogadores vão durar ali, criando o temor de não ter muito jogador por aí em alguma das plataformas, já que eles não são unidos.
Outra coisa que acho que atrapalha o jogo é que você não consegue partir em missão com um amigo seu. Se você quiser jogar com um amigo só tendo a sorte de se acharem pelo mapa. Em um jogo que a cooperação é uma parte importante, acho um desperdício você não poder fazer uma missão cooperativa desde o início com algum conhecido.
Agora, a coisa mais preocupante para mim é sem dúvida a sua economia e micro-transações. Por muitas vezes analisando a maneira de como funciona algumas coisas, Synduality parece querer ser um jogo grátis, só que sem de fato ser. Ele tem um preço de entrada, menor que outros jogos da geração, diga-se, mas tem seu preço. E dentro dele temos uma loja vasta de micro-transações, de valores relativamente altos e um passe pago.
É possível argumentar que a loja dele só tem cosméticos, que não alteram a jogabilidade (até porque como falei, esses cosméticos são qualquer coisa). E o passe tem a parte premium, mas da bastante coisa grátis também. Essas são duas verdades, além de que não ser tão diferente do que outros jogos (tipo Call of Duty) fazem. Não tem nada de novo ou muito absurdo aqui, mas preocupa.
Como a gente ta falando de um jogo que já seria nichado pela temática anime/mecha e nichado por ser extraction shooter, ter esse amontoado de coisa pode criar uma impressão negativa para um possível jogador e afastá-lo até de experimentar. Além de que, os itens da loja influenciam em nada mesmo, mas o passe de batalha entrega peças de robô, o que da sim uma vantagem a quem está pagando.
Essas peças não são exclusivas, o jogador casual pode adquirir eventualmente, mas o jogador que pagou tem a vantagem de receber uma peça boa de forma “gratuita” e com uma economia in-game tão cara, cria uma vantagem sim. E como o jogo tem PvP, existir essa vantagem não é algo que ache legal.
Esses, na minha visão, problemas não são o fim do mundo. Eles inclusive podem ser ajustados se a desenvolvedora achar pertinente. Só que eles no momento, para mim, existem, e por mais que você ainda se divirta bastante com o jogo, independente qualquer coisa aí, é algo que acho que quem queira que o jogo prospere e queira mergulhar de cabeça no jogo deva se preocupar um pouco.
Synduality: Echo of Ada é um jogo que eu tinha tudo para detestar, já que eu não gosto do gênero de extraction shooter. Só que com uma jogabilidade mecha bem agradável, somado com uma vasta gama de peças e armas para usos diferentes, o jogo consegue criar uma boa combinação mesmo para quem não seja fã do estilo.
O jogo tem seus problemas de economia, subaproveitamento dos Magus, de parecer querer ser um jogo grátis (mas não ser), de ter uma lore que poderia ser melhor aproveitada, mas mesmo com esses e outros pontos negativos a experiência ainda foi positiva para mim.
Não acho o jogo fácil de recomendar de supetão, acho que vale uma boa pesquisada antes para quem se interessar nele, mas acredito que se você gostar de alguma temática presente aqui, tem boas chances de você curtir o jogo. Só não recomendo mesmo para quem não se interessa em mecha e nem em extraction shooter.
Synduality: Echo of Ada
Bandai Namco Entertainment
Game Studio Inc.
PC, Playstation 5, Xbox Series S|X