Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Tales of Graces originalmente é um jogo de Nintendo Wii lançado em 2009 apenas no Japão. No ano seguinte, o título recebeu uma versão para Playstation 3 batizada de Tales of Graces F, com gráficos atualizados e conteúdo a mais, adicionando uma história pós-jogo e chegando ao Ocidente alguns anos depois. Tales of Graces foi um jogo que teve uma recepção meio mista por parte dos fãs da franquia. A jogabilidade do jogo sempre era elogiada, mas nas discussões sobre o mesmo sempre tinham apontamentos de problemas na narrativa, o que para um RPG é algo que pode ser grave.
Agora em 2025, mais de 15 anos de distância do lançamento original, surge Tales of Graces f Remastered, uma versão remasterizada que tira o jogo da “prisão do PS3” e ficando acessível para todas as plataformas modernas.
Estava curioso em revisitá-lo, pois lembrava pouco do jogo e o que tinha mantido em mim foi a impressão negativa que tive ao jogar em 2012. Após terminar essa nova versão, fico feliz em afirmar que Tales of Graces cresceu muito em mim.
Tales of Graces conta a história de Asbel Lhant, um herdeiro de um condado que adora se aventurar, tem bom coração, briga muito com seu pai e sempre arrasta seu irmão Hubert para suas peripécias. Um dia, Asbel e Hubert encontram outra criança dormindo no topo de uma colina que estavam explorando, uma garota misteriosa e com amnésia. Asbel leva a garota consigo para casa para tentar ajudá-la a encontrar alguém que a conheça ou a recuperar suas memórias, e durante esse período, a casa dele recebe uma visita do príncipe Richard, uma criança da idade dele que logo forma um laço de amizade.
O jogo tem um prólogo de mais ou menos três horas desenvolvendo a relação de Asbel com seus amigos de infância, até que uma tragédia acontece que marca o fim de sua infância. A história principal começa com Asbel agora com 18 anos prestes a se formar como cavaleiro, mas descobre de maneira repentina que sua terra natal está em guerra e que precisa de sua ajuda.
Vamos já tirar o grande ponto negativo da frente: Tales of Graces tem muitos problemas em sua narrativa.
O jogo tem uma história mais leve do que o de costume na franquia e usa o “poder da amizade” como ponto principal, o que por si não é problema nenhum para mim. Os problemas começam quando o jogo apresenta ao longo da narrativa vários temas com potenciais interessantes, leva muito bem personagens a lugares, mas parece não ir até o fim ou, as vezes termina seus arcos de forma meio esquisita.
Esse começo tem momentos muito sensíveis e legais envolvendo luto e mágoa por parte dos personagens, mas boa parte deles está em conteúdo opcional e algumas coisas se fecham rápido demais. Constantemente senti que o ritmo da narrativa era problemático, querendo abraçar muita coisa, mas se aprofundando pouco de fato. O jogo tem momentos ótimos, genuinamente bem escritos e emocionantes, mas o sentimento de potencial desperdiçado predomina ao longo do jogo.
Esse jogo tem o que a franquia Tales of faz consistentemente de melhor: dinâmica de personagens.
Através de interações diferentes como tema de vitória nas batalhas, de esquetes (diálogos opcionais ao longo do jogo) e outros momentinhos, os personagens ganham camadas de profundidade e dinâmicas complexas entre si. É um jogo que você termina entendendo bem porque o grupo é um grupo, sente que existe uma dinâmica orgânica ali e que faz sentido estarem juntos.
O jogo tem muitas interações casuais, com piadinhas engraçadas, com aprofundamento em relação a algo do personagem. A experiência com os personagens enriquece muito através das esquetes e de algumas sidequests.
Agora, o maior ponto positivo do jogo e o que o torna algo genuinamente bom, é seu combate.
O jogo é um RPG de ação que no lugar de ter golpes normais ou especiais que custam MP, como de costume, usa um sistema chamado Chain Capacity (CC). Todos os seus golpes custam uma quantia de CC e são feitas para se encaixar em combos. O CC se recupera relativamente rápido quando você defende, fica parado ou se esquiva. Esquivando na hora exata lhe garante uma certa quantia de CC recuperada. Esse sistema de batalha te incentiva a fazer combos variados e não a ficar no famoso button smashing. Para jogar bem, você precisa fazer bons combos, saber quando parar, defender e se esquivar.
Jogos da série posteriores a esse implementaram parte desse sistema, mas com tantas camadas de complexidade e possibilidades a mais que acaba deixando o jogo mais caótico. Aqui, em Tales of Graces, o combate está em seu ápice da franquia.
Esse é um dos meus combates favoritos de um RPG de ação e é um jogo extremamente recompensador. É um jogo que me sinto com vontade de jogar em dificuldades mais altas e me desafiar cada vez mais.
Algo legal em questão de risco e recompensa, é que nas dificuldades mais altas os inimigos dropam itens melhores, você ganha mais recursos e como balanço de dificuldade, explorar as fraquezas dos inimigos gera mais dano. Dificuldades maiores não necessariamente se traduzem a batalhas mais longas, mas batalhas mais exigentes em como se usa o sistema.
Tales of Symphonia Remastered recebeu críticas por não ser uma versão tão boa. Ela teve probleminhas de desempenho e era baseada na versão de Playstation 2, que rodava pior do que a versão original de Game Cube. Nesse quesito, Tales of Graces f Remastered foi um acerto, rodando a 60 frames em todas as versões, exceto na de Switch, e sem nenhum problema de performance em particular. Joguei no PC e o jogo fluiu muito bem.
Meu único problema com o jogo é a ausência de localização em português. A franquia Tales of há 10 anos vem tendo seus jogos localizados, a versão definitiva de Tales of Vesperia recebeu um tratamento mais premium e recebeu localização em português. Esse episódio da franquia não ter recebido um trabalho de localização deixa ele menos acessível para parte do público, e nessa altura do campeonato é algo que acho bem ruim não ter.
Na primeira vez que joguei Tales of Graces não tinha gostado muito, mas agora valorizo muito mais esse jogo pelas interações com os personagens e o quanto me diverti e engajei com o combate dele. É um bom episódio da franquia que estava preso num console antigo e agora se tornou bem mais acessível, e é um jogo bem divertido de se conhecer.
Tales of Graces f Remastered
Bandai Namco
PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch