Crítica – Tekken 8: De alguma forma, o mesmo Tekken de sempre e um dos melhores Tekken

Escrito por Colaborador
Crítica

Primeiro veio Guilty Gear Strive, que solidificou o novo padrão para o online de jogos de luta. Street Fighter 6, lançado ano passado, surpreendeu com a quantidade de conteúdo e mecânicas voltadas para jogadores casuais, não importado a qualidade destes.

Levando essas duas lições em consideração, não teria como Tekken 8 ser um jogo ruim. Medíocre talvez. Poderia empalidecer perante o grande sucesso que o antecessor representou para a Namco. E não é como se muitas das coisas apresentadas aqui fossem novidades: desde Tekken 6 temos um modo história cinematográfico, por exemplo. Minigames, customização, modo arcade… tudo sempre esteve lá.

De alguma forma, porém, a nova iteração da franquia consegue, simultaneamente, entregar uma obra que soa como novidade por… resgatar tudo que fez Tekken uma franquia tão marcante desde seu primeiro lançamento há 30 anos atrás.

Texto escrito pelo colaborador Mateus Carvalho.

Como de costume, tecnicamente impressionante

Vamos tirar algumas coisas da frente antes: Tekken 8 é lindo. Críticas podem ser feitas à designs de personagem e a como estes podem parecer inexpressivos, principalmente se comparados aos modelos de jogos como Street Fighter 6, mas, fora isso, é um jogo de encher os olhos, tanto em seus cenários detalhados e muito bem renderizados, como quanto em sua magnitude de efeitos visuais que tornam o combate lento e metódico infinitamente mais empolgante. É um trabalho excelente que me surpreende mesmo sabendo que uma das marcas registradas da franquia é sua inovação visual.

A trilha sonora, como já é de praxe, é um dos pontos altos do jogo, mesmo que ainda se apoiando na mistura de EDM com metal costumeira da série. Não tem como negar que esse conforto vem da ideia de que é uma estética sonora que casa muito bem com o estilo apresentado. Falando em som, é preciso notar como o MVP secreto do trabalho técnico está na edição sonora, que faz com que cada soco, chute e até mesmo passos do personagem carreguem o peso que seus corpos enormes passam… como já é de praxe.

Mesmo me atendo aos aspectos técnicos, é difícil rejeitar a ideia de que tudo que é apresentado aqui é Tekken, porém melhor. Isso por si só já é um grande elogio, que fique bem claro. E talvez seja a magia do jogo. Após 30 décadas e saindo de um jogo de grande sucesso, o que a franquia precisa no fim das contas é manter a bola no ar, refinando as pontas soltas. Para mim, pelo menos, é mais do que o suficiente.

A arena mais viciante na qual você vai pisar esse ano

De todas as franquias que atingiram popularidade mundial e se solidificaram como pilares do gênero, Tekken sempre foi a mais técnica e, talvez por isso, a mais amedrontadora. É um jogo em que defender agachado é inviável, meu Deus! E não preciso me aprofundar em como uma breve passada de olho pela lista de movimento de qualquer um desses personagens é o suficiente para afastar qualquer pessoa que só quer dar umas porradinhas descompromissadas.

Apesar disso, é estranho como tudo parece tão… intuitivo. Há muitos poucos segredos a serem dominados aqui: uma vez que se aprende como utilizar as dimensões verticais, como dar counters precisos e, principalmente, como começar a usar cada um dos membros do seu personagem, o jogador está livre para lutar como quiser. Num passe de mágica, aquela lista enorme de movimentos não se torna mais um guia, e sim experimentação.

Por parecer tão complicado a princípio, Tekken sempre foi um dos jogos mais satisfatórios de se aprender. Quando você consegue dar seu primeiro combo, provavelmente mal otimizado e cheio de pequenos furos em que você poderia ter sido punido, a sensação é indescritível.

É nesse momento que a troca feita pelos devs fica clara: enquanto Tekken é mais lento e pode parecer mais pesado do que seus contemporâneos da FGC, cada golpe é facilmente legível e carrega consigo muito mais peso. Quando você consegue amarrar vários de uma vez só, é uma dança tão bonita quanto é agressiva.

Nesse título, temos algumas mudanças no combate: cada personagem agora tem uma barra de Heat, sistema que confere um buff de força a diversos ataques de cada personagem, além de um ataque especial que drena parte da barra. Power Crush e Rage Arts retornam, apesar de não haver mais Rage Drives. A vida agora se divide em recuperável e não-recuperável, permitindo que os jogadores na ponta do penhasco consigam fazer viradas memoráveis.

Como alguém que nunca foi apaixonado por Tekken, o que posso dizer é que, desde que comecei minha jornada, eu não consigo parar de pensar no jogo. Mentalmente estou pensando em combos, sequências específicas, personagens para experimentar e em como cada segundo gasto fora da batalha parece um desperdício.

Sim, você pode passar muito tempo no conteúdo single player

Em termos de single player, o que mais chama a atenção são os dois modos história presentes aqui.

O primeiro deles é o modo narrativo tradicional: cutscenes cinematográficas com batalhas no meio. A história continua do gancho deixado em Tekken 7, com Jin disposto a enfrentar Kazuya para livrar o mundo do gene demoníaco, após esse derrotar Heihachi e se tornar o líder do Zaibatsu Mishima.

O que mais me surpreende aqui é a reverência aos 30 anos de história que a franquia construiu, todos eles ancorados na jornada de Jin. O trabalho feito para redimir a infame história de Tekken 6, que se torna central para o conflito interno do personagem, é admirável.

Não posso deixar de citar também o retorno do modo Tekken Force em dado momento da narrativa que, apesar de não ser particularmente bom, dá um bom respiro no gameplay padrão e me fez esboçar um sorriso pela dedicação à história que a série contruiu até aqui.

O segundo modo é o Arcade Quest, que, pegando a lição mais valiosa do Modo World Tour de SF6, amarra tutoriais em uma pequena jornada de seu personagem personalizado buscando se tornar o maior jogador de Tekken do mundo. As mecânicas vão sendo introduzidas aos poucos e o contexto de aprendizado nunca deixa de ser bonitinho.

Há outros modos single-player que valem a pena ser mencionados: Tekken Ball retorna e continua sendo divertido por 15 minutos e temos histórias individuais de cada personagem em um modo arcade de 5 lutas cada, terminando com uma cutscene em CG, talvez o maior legado da série.

Resumidamente: é um Tekken bom pra caramba

A verdade é que, apesar de ter escrito tanto até aqui, tudo se resume a um sentimento: Tekken é muito legal. É muito legal de se jogar, de se assistir e até de se ouvir. Por mais que eu não seja um bom jogador, eu adoro simplesmente ver meu personagem se mexer. Quando fico muito frustrado com o online, posso gastar um tempo nos modos single player, na customização e, sim, uns 15 minutos em Tekken Ball.

Porque por mais que o gênero de jogos de luta seja um gênero absolutamente complexo e que requer muita atenção a mínimos detalhes para que suas partes conversem de maneira balanceada, no fim das contas o que separa os bons dos ruins é uma questão: o quão gostoso é jogar esse jogo?

No caso de Tekken 8, a resposta é uma só: muito.

Nome do jogo:

Tekken 8

Publisher:

Bandai Namco Entertainment

Desenvolvedora:

Bandai Namco Studios

Plataformas Disponívies:

PC, Playstation 5, Xbox Series S|X

Nota: 9

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge