Crítica: The Legend of Heroes: Trails from Zero

Por Pedro Ladino

Nota: 8

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge

Após 12 anos, Trails from Zero enfim chega oficialmente ao Ocidente. O título desenvolvido pela Nihon Falcom e lançado originalmente para o PSP, é o primeiro game da duologia Crossbell, o segundo arco da longínqua série Trails. Antes disponível apenas por traduções de fãs, uma com qualidade duvidosa e outra que pareceu tão profissional que está servindo de base para a versão lançada pela NIS America.

Essa foi a terceira fez que eu joguei Trails from Zero. A primeira, em 2019, quando estava maratonando a franquia, e a segunda quando a Geofront lançou sua versão em 2020. Jogar o mesmo jogo inúmeras vezes é algo cansativo, ainda mais quando falamos de Trails, que é conhecido pelo seu extenso roteiro. Porém Crossbell para mim é especial, além de ser meu arco favorito da série (apesar do mais recente ter possibilidades de ameaçar essa posição), eu sinto que são jogos que me deixam a vontade.

A família SSS

Entre os jogos “um” da série, Trails from Zero é de longe o que tem o melhor pacing, tudo vai sendo construindo devagar para que eventualmente exploda no final.

Eu amo os personagens de Crossbell, eu amo a cidade e seus habitantes. A ideia de um elenco pequeno e um HUB único com poucas áreas a serem visitadas fazem com que Trails from Zero e sua sequência te deixem a vontade, se sentindo em casa. Lloyd, que por muito tempo foi meu protagonista favorito (até a rota dele em Reverie acontecer e, posteriormente Van chegar), é o protagonista de mangá shounen que funciona perfeitamente. Toda a SSS é maravilhosa, até mesmo a Elie eu passei a gostar nessas rejogadas. É um sentimento de nostalgia meio esquisito pois não tem apenas 3 anos que eu conheci esses personagens e a cidade. É de fato uma família.

Trails from Zero também encerra um dos meus plot points favoritos que a trilogia Sky deixou em aberto, que é todo o backstory da Renne. Renne para mim é uma das melhores personagens da série até hoje e eu adoro ver como ela está envolvida até mesmo em jogos recentes.

O que ajuda muito nesse sentimento é a trilha-sonora, que bate forte demais. No momento em que eu pisei na cidade e a música dela toca eu legitimamente lacrimejei, pois já sentia falta daquela cidade.

Crossbell para mim também possui o melhor sistema de combate, é um hibrído do que vimos em Sky e com o que Cold Steel masterizou, porém deixou quebrado.

Uma pena que essa experiência tenha sido afetada por um port medíocre.

A infame versão de PlayStation 4

Antes de falarmos da versão lançada pela NIS America, temos que voltar no tempo.

Trails from Zero e Trails to Azure são jogos originalmente lançados para PSP, em 2010 e 2011, respectivamente. Anos depois esses jogos foram relançados pela Chara-ani para PS Vita sob o selo Evolution, com toda a história principal sendo dublada e trilha-sonora (péssima vários casos) rearranjada, essa versão também contava com gráficos e arte melhorados. Em 2020, a Falcom decidiu portar a duologia para PlayStation 4, uma boa jogada, visto que o PS Vita já estava morto, mas também ajudaria a esses jogos a chegarem oficialmente no Ocidente.

A Falcom chamou o StudioArtdink para desenvolver esses ports, um estúdio que já trabalhou anteriormente nos ports de Ys: Memories of Celceta e Cold Steel I e II, também para PS4. Celceta possui framerate horroroso, e Cold Steel II crasha até hoje tanto no PS4 quanto no PS5. Ou seja, não o histórico não era tão bom, e como se era de imaginar, Crossbell saiu todo cagado.

O que foi lançado era basicamente a versão de PSP, com tela esticada, possuindo a dublagem da versão de PS Vita, e um modo turbo. As texturas, quando não estouradas, são embaçadas, assim como os sprites dos personagens. Ao menos os portraits e vídeos estão em boa qualidade… uhul?

Resumindo: essa é a versão que a NIS America lançou para o PS4, com a única diferença sendo o texto em inglês e mensagens nos baús, que honestamente só estão lá pois elas são embutidas no texto do jogo.

O grande problema, no entanto, foi a falta de transparência da NIS America. Por meses as únicas versões markeateadas foram as de PC e Nintendo Switch, que possuem ports feitos do zero pela PH3. Essas sim, são as versões que possuem inúmeras features herdadas versão da Geofront. Faltando 20 dias para o lançamento do jogo, a Publisher decidiu emitir uma nota dizendo que a versão de PS4 não iria obter essas novidades, e isso só aconteceu porque veículos como Gematsu e RPG Site noticiaram e perguntaram sobre o assunto.

Uma representante da publisher comentou no Resetera que eles tentaram falar com a Falcom sobre importar essas features para o PlayStation 4, o que foi negado. Acontece que quem precisa implementar isso são os desenvolvedores originais.

A Falcom é uma empresa pequena, que está prestes a lançar o seu novo jogo agora no final do mês e o StudioArtdink é uma empresa que tem seus jogos próprio, além de ajudar na empresa-mãe, a Artdink. Ou seja, a recusa não foi uma surpresa, e a NISA deveria saber disso. Se eles estavam esperando até o último momento para tentar convencer a Falcom e por isso não falaram nada, ninguém sabe. Vale mencionar que o preço das três versões é o mesmo, 50 dólares, ou seja, as pessoas estão pagando o mesmo preço por uma versão capada. Aqui no Brasil ainda não sabemos o preço oficial, mas com certeza o de PS4 será maior como sempre.

Para efeitos comparativos

Acima, a versão de Playstation 4

A versão de PC

Eu possuo uma TV 1080p simples, sem muita firula, e em diversos momentos tive dor de cabeça tentando olhar o cenário. As texturas ficam ainda mais estouradas e é simplesmente muito feio. “Ah, mas os jogos da Falcom sempre são meio feios”, sim, mas não te dão dor de cabeça. Eu joguei a versão anterior a de Geofront e nem essa era tão mal feita.

Sabendo disso tudo, porque jogar a versão de PS4, vocês podem me perguntar. Bom simplesmente pelo conforto de jogar no console em vez de no PC. Eu não possuo um Switch e o Steam Deck é um sonho distante, então é, acredito, que além dos brindes da edição limitada, é isso que vai fazer as pessoas pegarem no PS4. Ou seja, a não ser que se importe muito com troféus ou itens meia boca que virão em Reverie, ignore a versão de PS4 e vá jogar no PC, que roda em qualquer máquina, ou no Nintendo Switch.

Mas ainda não vejo motivos pelo qual essa versão não foi lançada antes das outras, assim como Cold Steel III e IV, pois isso atrasou o cronograma da série no Ocidente ainda mais, o que me leva ao próximo ponto.

E a localização?

Como falei anteriormente, a Geofront lançou um patch que não só traduzia o jogo mas como trazia diversas features, o que levou a NIS America a comprar essa tradução, dizendo que ela serviria de base para a versão oficial. E de fato foi o que aconteceu, o texto é quase todo igual ao roteiro lançado pela Geofront. Eu mencionei que havia jogado ela antes e para confirmar enquanto jogava para essa review, eu deixei o Trails in the Database aberto, e lá possui o script da Geofront, que deverá ser substituído em breve com o lançamento oficial.

As coisas que mais mudaram, quando mudaram, foram diálogos dos personagens principais em certas partes. Os NPCs são praticamente idênticos e alguns memes foram retirados, outros mantidos. Infelizmente perdemos o “bruh moment”.

De qualquer forma, a localização está perfeita. O único typo que notei foi na tabela de artes e quartz onde repete Water 2 umas três vezes. O jogo não possui dublagem em inglês, o que era de ser esperar visto que o game é gigante e possui mais linhas dubladas que os Cold Steel lançados pela NISA.

Resumindo: se você não vai mudar o texto drasticamente e não irá aprimorar essa versão, porque adiar o lançamento em 1 ano? Esse jogo deveria ter sido lançado em 2021, com Azure e Reverie em 2022. Obviamente único motivo pelo qual essa edição não foi lançada antes foi para sincronizar os vindouros lançamentos nas três plataformas, mas isso não só aumentou ainda mais o gap de Trails no Ocidente, como fez um publico de trouxa com uma versão inferior.

The Legend of Heroes: Trails from Zero enfim chega ao Ocidente oficialmente, o que por si só é algo maravilhoso, mas o quanto isso irá afetar o futuro de Trails aqui, só o tempo dirá.

Nome do jogo:

The Legend of Heroes: Trails from Zero

Publisher:

NIS America, Nihon Falcom

Desenvolvedora:

StudioArtdink

Plataformas Disponíveis:

PC, Playstation 4, Nintendo Switch