Crítica: The Legend of Nayuta: Boundless Trails

Por Pedro Ladino

Nota: 9.5

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge

The Legend of Nayuta: Boundless Trails é um daqueles jogos que podemos classificar como “hidden gems”. Desenvolvido pela Nihon Falcom, o jogo foi lançado originalmente em 2012 para PSP, onde esteve preso até 2021, quando ganhou um remaster para as plataformas atuais, possibilitando que ele fosse localizado agora em 2023 pela NIS America

Nayuta, chamarei assim daqui para frente, é um dos títulos que mais “buga” os fãs da empresa, especialmente os fãs da série Trails. É um jogo que tem Trails no nome, ao mesmo tempo que é um jogo de ação, como Ys, outra franquia da Falcom, mas quando na verdade, ele é um sucessor espiritual de uma outra IP da empresa: Zwei.

Nayuta passa seus dias olhando para as estrelas acima de sua casa na ilha e se perguntando o que existe além do horizonte. Embora as pessoas afirmem que o mar onde vivem é plano e finito, Nayuta sabe que deve haver mais lá fora, apenas esperando para ser descoberto.

Certo dia, ruínas e estrelas caem do céu sobre a casa de Nayuta, oferecendo o que parecem ser vislumbres de outros mundos. Ao explorar uma dessas ruínas, ele e seus amigos salvam uma pequena garota parecida com uma fada chamada Noi. Ela diz a Nayuta que algo muito importante foi roubado dela e pede sua ajuda para recuperá-lo.

É assim que a jornada de Nayuta começa — uma jornada que o levará muito além dos confins de sua ilha para conhecer novos mundos e fazer descobertas extraordinárias!

Vamos tirar logo isso do caminho. Não, Nayuta não é e não faz parte da série Trails. Ele usa algumas conveniências do mundo de Zemuria, e tem algumas semelhanças visuais, mas para por aí. Não foi nada mais uma jogada de marketing da Falcom na época, após Zwei II não ter sido bem sucedido.

Teorias e suposições existem, e mesmo que o jogo dê margem para isso, são coisas bem simplórias e nada concreto. Nayuta se passa em um mundo próprio e é isso.

Ao mesmo tempo, estamos falando da Falcom, e o  fato de Nayuta ter recebido um remaster por si próprio já é um fator determinante que indica que a desenvolvedora quer fazer algo com ele, seja uma sequência ou até mesmo enfiá-lo na série principal. Dá sim para dar um retcon e forçar a entrada do jogo, afinal retcons não são incomuns na série, cof cof Cold Steel III, cof cof, então só nos resta esperar. A Falcom nunca remasteriza algo sem algum plano em mente.

Não sei como é que os japoneses se sentem em relação a Nayuta e sua conexão com Trails, mas talvez essa “comoção” aqui no Ocidente seja relacionado a, não boa, tradução de fã que a versão de PSP tem, mas como nunca terminei de jogar aquela versão, não sei confirmar.

Então é isso, até o momento do lançamento do jogo no Ocidente, Nayuta não é um Trails.

É engraçado comentar sobre a história do jogo quando você já jogou muitos jogos dessa mesma empresa e sabe exatamente como eles contam histórias, ainda mais em um título mais “antigo” do catálogo, porém Nayuta consegue carregar bem sua narrativa e twists a ponto de não ficar tão na cara assim. É uma história muito competente e o melhor de tudo, relativamente leve, sem precisa considerar e pensar pesadamente, como é o que acontece normalmente em Trails.

Os personagens desse jogo são muito carismáticos e isso tem relação com o gráfico dele, em especial o jeito que os personagens são animados.

The Legend of Nayuta foi a despedida da Falcom do PSP, e ele traz o que de melhor a empresa tinha na época. O jogo em si já é grande contraste com Ys Memories of Celceta, que saiu no mesmo ano para PS Vita. Enquanto Celceta traz pouca inspiração, seja em roteiro, quanto estética, Nayuta possui isso e muito mais.

Apenas o fato do jogo ser standalone é um ponto positivo dele. Não precisamos de contexto de jogos anteriores, nem nada do tipo, somos apenas jogados naquele mundo e a história fala por si própria. Coisa que não vemos acontecer com frequência na atual Falcom, o último jogo desse tipo foi em 2015, com Tokyo Xanadu, que mesmo carregando o nome Xanadu, é algo totalmente à parte, e desde então tivemos cinco Trails e três Ys.

O jogo também se beneficia de ter uma história relativamente curta em relação a outros jogos da empresa, ele tem mais ou menos 20 horas de duração jogando no normal, podendo acrescentar mais 5~7 horas caso você decida fazer o New Game Plus, que libera novas áreas e sidequests.

E vamos ao combate do jogo, é incrível como os jogos de ação da Falcom conseguem ser bem feitos quando a desenvolvedora realmente quer, né Tokyo Xanadu? Temos aqui uma evolução do combate que foi apresentado em Zwei II, mas com um ritmo mais acelerado, mas que não chega a ser propriamente um Ys. Além do combate melee podemos usar Artes através da Noi, elas possuem usos limitados que vão recarregando com o tempo, e nada medida que você for liberando upgrades, ao acertar um inimigo.

O sistema de upgrades no geral é simples e funcional. Ele é baseado em medalhas que você consegue ao completar os objetivos opcionais das fases, o que incentiva a repetição delas, caso você perca algum. A maioria dos objetivos são fáceis de se completar, e o level design dos mapas é intuitivo em grande parte das vezes. Raramente você tem que repetir as fases, a não ser que você não possua certas habilidades naquele momento. Assim como conseguir novas armas e equipamentos.

As fases, com exceção dos templos, são muito curtas, então mesmo com um sistema de combate simples, o jogo é engajante o suficiente para você não se sentir entediado.

E claro, como estamos falando de um jogo da Nihon Falcom, não tem como não falar sobre a trilha-sonora de Nayuta. É uma das OSTs mais consistentes da empresa, mesmo tendo presenças de músicas não finalizadas que foram deixadas por antigos compositores (sim, isso acontece). 

O grande destaque fica para a compositora principal do jogo, Saki Momiyama, que infelizmente você não encontrará nos créditos nessa recente versão do jogo, em função da péssima política da empresa. O mesmo aconteceu com os recentes relançamentos de Trails from Zero e Trails to Azure.

Aliás, por ser um jogo originalmente de PSP, ele funciona como uma luva no Steam Deck, parabéns a PH3 pelo port feito, os visuais, especialmente nas cenas em CG ficaram ainda mais lindas na tela do console da Valve.

The Legend of Nayuta: Boundless Trails é uma joia rara dos jogos de ação do PSP e fico feliz de ter enfim experienciado ele. Além de engajante, ele traz um gostinho daquela era da Nihon Falcom que não devemos ver novamente tão cedo. Com um ótimo combate e história previsível, porém engajante, fazem de Nayuta um dos jogos mais especiais do ano.

Nome do jogo:

The Legend of Nayuta: Boundless Trails

Publisher:

NIS America

Desenvolvedora:

Nihon Falcom

Plataformas Disponíveis:

PC, Playstation 4, Nintendo Switch