Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Touhou: New World é um RPG de ação baseado na famosa franquia de shoot ‘em up, Touhou Project. Desenvolvido por Ankake Spa (que também fez Scarlet Curiosity), esse fangame combina elementos de hack ‘n slash, RPG e bullet hell. Originalmente disponível para Switch e PC, agora lançado também no Playstation 4 e 5.
Enquanto em Scarlet Curiosity você joga com os residentes da mansão Scarlet Devil, New World dá um passo para trás e nos reintroduz às protagonistas originais da série: Reimu Hakurei, uma sacerdotisa que tem o trabalho de resolver problemas relacionados a youkais; e Marisa Kirisame, uma maguinha focada em suas pesquisas e que sempre se intromete no trabalho de sua amiga. As duas passam por acontecimentos diferentes no decorrer da aventura, tornando a rejogabilidade mais prazerosa.
Vale ressaltar que, apesar desse jogo usar vários personagens já consagrados na franquia, não é necessário jogar nada de Touhou Project para entender o que está acontecendo. Os personagens se apresentam como se ainda não se conhecessem, tornando acessível para qualquer iniciante.
Touhou é uma série de bullet hell (aqueles jogos de navinha, só que com muitas balas cobrindo a tela) inspirada nos jogos da CAVE. Seu criador, Jun’ya Ota, conhecido apenas como ZUN, faz todo o trabalho praticamente sozinho, o que inspirou outros desenvolvedores como o próprio Toby Fox de Undertale. Por mais incrível que pareça, Touhou é bem antigo, originando lá de 1996. Várias décadas se passaram desde então, deixando sua marca por todo lugar na internet, desde os inúmeros memes até as artes feitas por fãs. Se você ainda acredita nunca ter ouvido falar nessa série, provavelmente já viu umas imagens e gente usando ícones dos personagens, ou até mesmo ouviu alguma de suas famosas músicas como Bad Apple.
Não podemos ignorar o número imenso de personagens que essa franquia proporciona, sendo quase inteiramente formada por garotas. New World não teria como incluir todas, claro, mas ainda tem uma boa quantidade de favoritas de fãs como Youmu, a espadachim fantasma; Sakuya, a empregada que pode controlar o tempo; Cirno, uma fadinha de gelo; Aya, Nitori, Sanae e a lista continua. Também há algumas que você normalmente não veria nos jogos, como a Akyuu e a Kasen. Inclusive, o jogo possui elementos do mangá Silent Sinner in Blue e provavelmente outras referências que nem eu sei direito.
Uma coisa que também é fácil de notar é que Touhou tem um estilo de arte com uma cara meio amadora. Isso vai do gosto de cada um, mas posso te assegurar que a arte de New World é bem bonitinha. E claro, Touhou não pode ficar sem música boa, que é o caso aqui também.
Eu escolhi jogar de Reimu, então falarei do ponto de vista dela. A história se passa em Gensokyo, um lugar fantasioso parecido com o Japão antigo. Após um breve confronto com youkais e uma boneca gigante, Reimu é transportada para o “mundo exterior”, que seria equivalente ao nosso mundo real. Seus poderes também foram enfraquecidos. Eventualmente ela se encontra com Sumireko Usami, uma colegial que deseja ir para Gensokyo, o que normalmente não seria possível por conta de uma barreira que divide os dois mundos. Porém, ela consegue graças a uma esfera mágica chamada Occult Ball. Como Gensokyo é infestado de perigos, Reimu toma a missão para si de levar Sumireko de volta ao mundo exterior, mas as coisas não são tão simples quanto parecem.
A partir daqui, Reimu acaba tendo que ir em diversas missões que podem resultar em lutas. Quase sempre os motivos parecem só uma desculpa para nos mostrar as diversas personagens de Touhou, porém, não posso deixar de amar em vê-las. Parece que elas arrumam qualquer motivo besta para lutarem, mas essa é justamente a graça. Por outro lado, não gostava quando era só “vamos ver se você está mais forte agora”. Sendo um fangame, até gostaria que metessem mais a louca e enchessem de piadinhas, mas os diálogos que tem já são bem divertidos e humorados. Enfim, com certeza não é um jogo que se joga pela história, mas não quer dizer que não tenha algumas coisas interessantes, principalmente perto do fim, quando as coisas começam a escalar.
Apesar de ser um RPG, ao invés de um mundo aberto, você deve selecionar missões através de uma hub. Como é possível andar e pular nesse mapa, queria que isso fosse aproveitado de uma maneira mais interativa, mas não há muito o que fazer. As missões variam entre as que servem para continuar a história, simbolizados por um yin-yang vermelho, enquanto o verde é para sidequests. Você passará maior parte do tempo matando youkais e fadas, mas às vezes terão objetivos específicos como interagir com objetos ou achar maneiras de abrir caminhos. De vez em quando haverão obstáculos e plataformas para quebrar um pouco a monotonia, mas nada que faria um encanador bigodudo tremer as pernas.
O jogo não possui uma grande variedade de inimigos, às vezes são até reusados em lugares que nem faz sentido estarem lá. Você poderá explorar as fases e se deparar com um grupo de inimigos, aí depois de vencer é recompensado por um tesouro, então você abre e é um equipamento. Legal, deve ser melhor do que o que estou usando agora, né? Na verdade, maioria das vezes acaba sendo bem pior.
New World é um desses jogos que você consegue muitos equipamentos iguais, mas com pequenas alterações de stats. Ou seja, eu tinha que ficar toda hora abrindo o menu para trocar pelo item que dava mais vantagens, mas era tão pouca coisa, e tão raramente valia a pena, que meu inventário acabava ficando lotado de itens inúteis. Como não existe limite de espaço, não há necessidade de se livrar dos restos, mas eu ainda não me sentia bem com o inventário bagunçado. Eu acabei conseguindo tanto dinheiro vendendo itens que até ganhei um troféu sem nem mesmo tentar. O pior é que não há nada com o que gastar, a não ser comprar equipamentos que são mais fracos que os atuais, ou alterar os stats de forma aleatória através da ferreira. Ah, espera, uma atualização recente adicionou uma mecânica de gacha onde você pode ganhar… um equipamento aleatório. Não, obrigado.
O prato principal está nas lutas com os chefes, como era de se esperar. Ao invés de desviar apenas se movendo como em um shmup, aqui você deve pular os projéteis. Também tem o bloqueio para se defender de um ataque corpo a corpo, o que causa uma desacelerada em tudo a sua volta caso acerte o timing, dando-lhe a oportunidade de contra-atacar. O jogo faz questão de te dar bastante espaço para acertar o timing, então não precisa de reflexos super aguçados. Aliás, uma dica: o bloqueio também pode te defender de um projétil, caso seja necessário, só que aí corre o risco de levar dano dos demais ataques.
Os controles têm uma ótima fluidez, tornando bem prazeroso acertar os ataques, bloquear na hora certa, causar muito dano através de combos e conseguir desviar de tudo. Apesar disso, tenho que confessar: no início achei a facilidade do jogo um tanto tediosa. Não via muita necessidade em lutar com os inimigos porque continuava fácil mesmo sem subir muito de nível. Isso tornava um pouco frustrante nos momentos que aparecia uma barreira em volta, impedindo de continuar até que derrotasse as mesmas fadas e youkais que estive enfrentando durante esse tempo todo. Chefes eram de longe a melhor parte, mas por outro lado, os confrontos eram tão breves que me deixava decepcionado. Lá para o fim que começou a ficar mais empolgante, pois a história estava chegando em sua conclusão e adversários eram mais agressivos, mas imaginei que jogadores largariam o jogo antes de chegar nesse ponto.
Felizmente, porém, depois que eu já tinha terminado o jogo (incluindo o post-game), houve uma atualização que adicionou a opção chamada “bullet hell” que, como o nome sugere, dificulta consideravelmente o jogo. O que também significa que eu tive que mudar boa parte do meu texto, haha…
Antes das alterações, uma das minhas principais críticas estava no sistema de cura. É possível ter até cinco curas através de upgrades, sendo que elas recarregam automaticamente, tornando o jogo extremamente fácil. Isso é triste porque, com tantos patterns legais de ataques para desviar, eu apenas me curava sempre que levava dano, tirando toda a urgência e adrenalina do que seria uma luta emocionante de youkais e usuários de magia. Isso ainda vale para o modo “normal”, mas no “bullet hell” fizeram uma mudança interessante (além de ajustes de dano e vida): agora as curas recarregam apenas se você acertar ataques. Isso força o jogador a ser mais cuidadoso, enquanto também o faz ser proativo e atacar mais frequentemente. Só achei estranho a adição de BULLET HELL no cantinho da tela, como se fosse para te lembrar com o que está se metendo, mas tudo bem.
Outra coisa que eu ia criticar era a mecânica de correr. Ela por si já funciona de forma estranha: você tem que atacar e segurar o botão (que seria o quadrado), então a personagem solta uma nuvem de fumaça e finalmente começa a correr. Isso era tão lento e travado que mal via vantagem em usar. Agora diminuíram o espaço para começar a correr, o que acredite ou não, tornou a experiência mil vezes melhor, ao menos em comparação ao que era antes.
O jogo está bem mais divertido agora. Talvez algumas pessoas sentirão falta de uma escolha de dificuldade intermediária, já que no momento temos apenas o modo “easy” e “hard”, mas pessoalmente não tenho reclamações. Já comecei um novo jogo com a Marisa e acho que irei aproveitar bem as mudanças.
Ys… Digo, Touhou New World vai agradar fãs que gostariam de uma nova forma de explorar Gensokyo e seus moradores carismáticos. Com um gameplay energético, diálogos divertidos, belos visuais e músicas vibrantes, esse jogo poderá te entreter por um bom tempo. Porém, a repetitividade, pouca profundidade nas mecânicas e level design fraco poderão afastar jogadores mais exigentes. De todo modo, é uma boa introdução para pessoas que não jogam muito jogos de ação, ou que não são familiarizados com Touhou.
Touhou: New World
Xseed Games
Ankake Supa
PC, Playstation 4, Playstation 5, Nintendo Switch