Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Se tem uma publicadora que eu tenho muita curiosidade em me aprofundar e explorar seus jogos é a FuRyu. A empresa japonesa, que também está no ramo de animes e figures, vem trazendo um catálogo de jogos de menor orçamento, mas com alguns pequenos detalhes que deixam eles, no mínimo, interessantes.
Entres os últimos lançamentos, a publisher vem convidando aqui e ali, ex-desenvolvedores de franquias famosas, como é o caso de The Caligula Effect, com desenvolvedores dos primeiros Personas e Megami Tensei, e Monark, que conta com membros que trabalharam em Shin Megami Tensei, incluindo o escritor dos livros que serviu de base para a franquia.
A iniciativa, até então, mais recente é Trinity Trigger, que traz ex-desenvolvedores da série Mana (Seiken Densetsu), da Square Enix, com desenvolvimento da Three Rings e localizado pela XSEED Games.
No jogo, acompanhamos a história de Cyan, um jovem que descobre ser o novo Warrior of Chaos após despertar uma criatura conhecida como Triggers, e sofrer uma tentativa de asssinato. Com a ajuda de Elise e Zantis, também portadores de Triggers, ele parte em uma jornada para descobrir o seu passado e desafiar o futuro.
A história de Trinity Trigger é bem simples, em tudo que se propõe e, às vezes, isso é mais do que suficiente para funcionar e agradar. Nem toda história precisa ser inovadora, de vez em quando fazer o básico é jogada certa.
O enredo de “desafiar o destino” é constantemente utilizado nas mais variadas mídias, então, como falei acima, Trinity Trigger não promete nada além do básico com a sua história inicial. No entanto, ele tem alguns elementos envolvendo o mundo de Trinitia e isso é bem legal, apesar desses detalhes estarem espalhados em sidequests e NPCs. É um world building bem competente.
Os personagens principais, Cyan, Elise e Zantis, além dos seus Triggers, são bem escritos, sem muita firula, até mesmo os coadjuvantes e antagonistas da história, com exceção do vilão principal, não se utilizam muito dos tropes a todo o momento. Outro ponto positivo do enredo do jogo, é que ele vai direto ao ponto, sem enrolação alguma. A história principal, fazendo a primeira leva de sidequests (falarei sobre isso depois), durou por volta de 20 horas, o que comparado a vários outros JRPGs, é uma duração bem curta.
O combate é o grande chamariz do jogo, é um jogo de ação bem rápido com oito tipos de armas a disposição do jogador. Todas as armas tem um combo de três ataques, um attack booster e um golpe especial, que muda ao maximizar o nível delas. E cara, é muito divertido, sabe? Misturando isso com inimigos que possuem vários estilos de luta, com direito a mecânicas telegrafadas à la MMOs, que variam de velocidades, e com resistências e fraquezas a diferentes armas, temos um combate bastante funcional. Mexer nos menus durante o combate é difícil no começo, mas logo vira algo habitual.
Trinity Trigger me passou o mesmo sentimento que tive ao jogar Harvestella, em termos de gameplay, ainda que aqui seja algo mais, nas devidas proporções, profundo que o jogo da Square Enix.
Para incrementar o combate, o jogo utiliza um sistema de Manatites, que são pedras que upam todos os seus status. Você pode craftá-los comprando ou ganhando receitas através de quests, e colhendo materiais durante os mapas. O jogo base em especial te dá todo o necessário para completar a história sem se preocupar com farming, isso é algo que ficará para o pós-game.
Desespero
O ponto negativo do gameplay é de longe a Inteligência Artificial do seus companheiros. Podemos equipar e otimizar os três personagens, mas você só pode controlar um deles por vez, enquanto os outros dois são controlados por IA, e ela funciona apenas contra inimigos normais, quando é com bosses, parece o computador simplesmente morre e a IA para de funcionar. O jogo possui um modo co-op local, então me pergunto se esses chefes foram balanceados pensando nisso. Infelizmente não tive oportunidade de testar com alguém.
Como falei acima, o jogo principal tem uma duração de 20 horas, mas ao terminá-lo você abre mais uma penca de conteúdo, incluindo uma nova leva de sidequests. Enquanto uma parte dessas seja o basicão, a outra é na verdade composta por várias questlines que exploram alguns personagens secundários, incluindo duas batalhas de chefes, onde suas quests são totalmente dubladas, como se fossem parte da história principal.
Além dessas side quests, o jogo também tem vários outros bosses, sejam eles escondidos pelo mapa ou uma área com desafios. Vale mencionar que esses conteúdos já estão disponíveis durante o jogo, mas você certamente irá querer fazê-los depois de terminar o jogo, por falta de recursos.
Os designs das fases são bem variados, mas o melhor aspecto delas em minha opinião, é o quão curtas elas são. As fases de mapas são divididas em áreas de 2 ou 3 telas, enquanto as dungeons possuem entre 5 e 6 andares cada. Tudo é bem intuitivo de se navegar, e como possuem curta duração, contam com gimmicks para dar uma pequena variada.
O jogo adota um visual de personagens em um formato chibi, sendo bem cartunesco e relembrando alguns títulos anteriores da Three Rings, desenvolvedora do jogo. Em paralelo a isso, temos a arte 2D durante as conversas e os desenhos de Raita Kazama possuem um estilo bem diferente do resto do jogo, fazendo um bom contraste entre os modelos e a arte. Os modelos 3D até tentam emular a arte, mas meio que fica um tanto esquisito, mas aprecio a tentativa.
Inclusive, vale mencionar que eu joguei a versão de PlayStation 5 do jogo. Quando iniciei o jogo, achei que o visual estava um pouquinho mal detalhado, e decidi abrir a versão de PS4. Me pareceu que a desenvolvedora, na hora de portar para o PS5, apenas aumentou a resolução e esses pequenos detalhes foram perdidos, mas logo acabei me acostumando. Como não joguei a versão de Nintendo Switch e PC, não posso falar como o visual se encontra nessas plataformas.
A trilha-sonora de Hiroki Kikuta, um dos membros que vieram da série Mana, é boa. No geral, quase nenhuma música me pegou tanto assim e se tornou memorável, mas também nada é de fato ruim.
Trinity Trigger não tenta inovar. O jogo traz uma história simples e bem executada, um combate engajante e conteúdo extra que não cansa os jogadores. É uma ótima pedida para aqueles que querem algo menos espalhafatoso e para passar o tempo.
Trinity Trigger
FuRyu, XSEED Games
Three Rings
PC, Playstation 4, Playstation 5, Nintendo Switch