Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Yakuza: Like a Dragon é o oitavo jogo da franquia principal da série de jogos Yakuza. O novo título chegou chamando muita atenção por, além de se vender como uma porta de entrada para novos jogadores, ser o primeiro a ter localização para o Português Brasileiro.
Yakuza é uma franquia iniciada em 2005, mas que estourou mesmo no ocidente em meados de 2017. A franquia era uma espécie de Brawler com alguns elementos de RPG. Sua gameplay era competente mas o que sempre realmente chamou atenção era o mundo do jogo. Os jogos se passam num único bairro (as vezes dois ou três), porém lotados de detalhes, atividades e carisma, o que tornava o jogo imersivo. É quase um “anti-mundo aberto”, enquanto uma questão comum para muitos jogos é sobre um mundo vasto mas com muita repetição ou pouco a se fazer, Yakuza trazia um mundo pequeno porém rico e com muita variedade. Além de muitos minigames, lojas e sidequests muito bem feitos, os elogios do jogo ficam por conta de personagens cativantes.
Mesmo que você nunca tenha jogado nenhum Yakuza, é possível que tenha ouvido falar de Kazuma Kiryu, o protagonista de quase todos os jogos. Kiryu é icônico e possivelmente é um dos personagens mais carismáticos dos videogames. Ser um protagonista que acompanhamos desde 2005 até 2016 (quando Yakuza 6 se passa) ajuda muito nessa consolidação. Acontece que, depois de Yakuza 6 a SEGA anunciou que a saga de Kiryu havia se encerrado e a série teria um novo protagonista.
Não satisfeitos em colocar um protagonista inédito numa franquia já consolidada, Ryosuke Horii, diretor do novo, título da franquia decide mudar todo o sistema de combate do jogo. O que antes era quase que um “Beat’n up com RPG” se tornou um RPG por turnos. Ou seja, basicamente jogaram da maneira mais ousada possível, fazendo o oitavo jogo da franquia ser muito distante do que os fãs estavam acostumados. Será que deu certo? Será que conseguiram fazer um protagonista tão carismático quanto o anterior? É o que iremos descobrir.
Apesar de Kiryu ser um ser maravilhoso, o novo protagonista carrega bastante carisma. Kasuga Ichiban é um personagem que abraça toda a “galhofagem” da franquia. Um homem que, apesar de ser quarentão, carrega uma ingenuidade e impulsividade que por vezes é um tanto infantil. Ichiban nasceu e cresceu numa Soapland (basicamente um puteiro disfarçado de casa de banho), sendo criado pelos funcionários de lá. Vivendo ao redor de pessoas socialmente rejeitadas pelo país ele se junta a uma família Yakuza quando cresce, e acaba até criando um laço de pai e filho com seu chefe. Em dado momento, Ichiban se vê obrigado a assumir um crime que não cometeu para proteger sua família Yakuza e fica 18 anos na prisão.
Ou seja, Ichiban se vê num mundo completamente diferente e sem um lugar para ele. Sua família Yakuza está completamente diferente e a Soapland onde ele cresceu não existe mais. Procurando respostas, Ichiban acaba se vendo como um morador de rua em Ijincho, um bairro localizado em Yokohama.
Você passará a maior parte do jogo em Ijincho, um local dominado por três clãs mafiosos diferentes. Clãs estes que estão numa guerra fria. Acontece que a tensão está tão grande que ninguém se atreve a atacar o local, pois qualquer coisa seria motivo para uma guerra estourar em Ijincho. Com isso, o bairro se torna um local perfeito para refugiados de vários tipos terem um pouco de paz.
Aliás, boa parte da história gira em torno em pessoas excluídas socialmente. Moradores de rua e prostitutas fazem um grande papel no jogo, e um dos principais antagonistas da história são organizações que querem expulsar estas pessoas de Ijincho sem dar qualquer tipo de amparo real. Você não verá o tema ser abordado de forma profunda, as vezes até escorrega, mas é interessante um jogo que fala sobre temas sociais de forma direta. Até o fim do jogo Ichiban se sentirá como parte de Ijincho e essa jornada faz muito sentido. Há muitas historias envolventes no bairro.
Falando desta maneira pode parecer que o jogo tem uma carga um tanto pesada, mas não é o caso. Provavelmente este é o jogo mais leve e galhofa da franquia. Claro, tem momentos sérios, mas o jogo não tem o menor medo de ser ridículo. Você encontrará piadas escrachadas e situações absurdas o tempo todo. Inclusive o protagonista contribui para tal. Ichiban é um viciado em Dragon Quest e gosta de se imaginar num jogo, e por isso é um RPG por turno. O sistema de classe do jogo é literalmente empregos que os personagens conseguem. E claro, a natureza ingênua e boazinha te colocará em histórias das mais absurdas possíveis.
Além disso, Ijincho conta com vários minigames curiosos, como um curso técnico onde você tem que responder provas com questões reais e um cinema com filmes cult onde seu principal objetivo é não dormir.
Devo dizer que o ponto mais alto desse jogo ter se tornado um RPG por turnos é a presença de uma party. Em jogos passados, Kiryu era acompanhado de várias figuras carismáticas, mas no fim, ele era de longe o que mais importava. Neste jogo, você encontra pessoas que andarão com você o tempo todo e o seu vínculo com elas será muito bem trabalhado. Cada membro da sua party tem uma história própria que pode ser explorada conversando com ela. Você pode ouvir um pouco mais sobre cada um deles em conversas num bar quando tem nível de vínculo o suficiente para tal. Comer em restaurantes gera conversas entre o grupo. Tudo que você faz é passível de ter comentários com o grupo deixando tudo mais orgânico.
Contudo, alguns personagens são melhores trabalhados que outros. Você precisa comprar uma forçada de barra em alguns momentos, especialmente para os dois últimos. Mesmo com estes problemas, no fim, os personagens são tão legais que você pode comprar o que lhe é entregue sem muitos problemas.
O sistema de batalha é bem simples e flui bem, porém não é perfeito. Apesar de funcionar por turnos, timing é algo muito importante no jogo.
Enquanto você escolhe sua ação, todos na batalha estão se movendo, e alguns golpes tem efeitos diferentes conforme o posicionamento. Não apenas isso, mas se você for atacar alguém cujo está atrás de um inimigo, há uma possibilidade de tomar um golpe de oportunidade. Além disso, você deve se preocupar com ações rápidas, se um golpe derrubar um inimigo e você mandar outro atacar antes que ele se levante, o acerto será crítico.
Tudo que citei flui bem e é interessante, porém tem algumas coisas que faltam polimento. As vezes personagens ficam presos entre cenários e em certa parte do jogo o pico de dificuldade aumenta demais sem avisar. Contudo, num geral é um jogo bem fácil! Morri poucas vezes e uma vez foi um golpe hitkill do penultimo chefe no qual eu não tenho muita ideia do porque ocorreu. Tem muitos inimigos pelo mapa e as vezes acabei enfrentando inimigos demais e fiquei de saco cheio, mas nunca o suficiente para pensar em parar de jogar. Talvez no jogo seguinte eles corrijam estes problemas e eleve o nível do jogo.
A tradução para o português está bem boa, a localização pegou várias gírias e deixou bem adaptado. As piadas traduzidas ficaram bem boas (algumas melhores do que em inglês) e encontrei alguns pequenos erros e termos que traduziria diferente, mas num geral foi um ótimo trabalho. Se a sua preocupação for em sentir que está perdendo algo com a tradução, pode jogar sem medo.
O jogo é um excelente Yakuza tanto para quem conhece os anteriores para quem nunca jogou. Ao longo do jogo existem diversas referências a acontecimentos passados e bons temperos para quem jogou os jogos anteriores, mas são isso, temperos. Talvez com a volta de certo personagem ou referência a outro quem conhece nada da série se sinta um pouco estranho, mas Ichiban também é um personagem novo que está adentrando neste universo pela primeira vez, então tudo é expositivo de maneira que qualquer um possa entender bem.
O jogo foi jogado num Playstation 4 base e está rodando bem. Tem alguns loadings demorados mas nada irritante.
Yakuza: Like a Dragon
SEGA
Ryu Ga Gotoku Studio
PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X