Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Ys X: Nordics é a mais recente aventura de Adol Christin. O nosso querido aventureiro de cabelos vermelhos chega ao seu décimo jogo, que comemora os 35 anos da franquia Ys. Dessa vez, voltamos ao passado, após Ys IX: Monstrum Nox mostrar o Adol mais velho até então, com 24 anos, somos apresentados a uma versão bem mais jovem, de 17 anos, recém-saído de Ys II.
Em Ys X: Nordics, Adol está a caminho de Celceta, local onde Ys: Memories of Celceta (YS IV) se passa, acompanhado de Dogi e Dr. Flair, quando o seu barco é interceptado pelos Normans, um grupo de vikings, fazendo com que Adol tenha que fazer uma rápida paradinha em Carnac, uma cidade em Obelia Gulf. E como todos sabemos, nosso querido Adol ama uma aventura, e aqui começamos a nossa nova jornada.
A ideia de termos voltado no tempo na história, segundo Toshihiro Kondo, escritor e presidente da Nihon Falcom, foi para que os jogadores de Nintendo Switch pudessem se familiarizar com o personagem mediante uma versão mais jovem. Sinceramente, é uma desculpa meio ruim, mas de qualquer forma, não importa muito.
Ys sempre foi uma franquia onde seu estilo de combate definiu uma era na série. Não à toa distinguimos os jogos como Bump System, de Ys I e II, o Three Weapons System, de Ys VI, Felghana e Origin e, por fim, o Party System, que durou de Ys Seven até Ys IX, também existe o Ys V, mas ele a gente deixa de lado. Ys X introduz um novo sistema de combate, o Cross Action.
O Cross Action possui dois modos: o Solo Mode, onde controlamos apenas um personagem de forma mais livre, e o Duo Mode, onde controlamos dois bonecos de uma vez, um deles sendo Adol e o outro a Karja, a nossa co-protagonista, mas com uma movimentação um tanto limitada. O sistema funciona tanto para ataques regulares, quanto para skills. Você consegue alterar os tipos de combate ao pressionar o RT/R2, assim que você solta o botão, o Duo Mode é desativado.
Durante o Duo Mode temos uma das mecânicas mais importantes do jogo: a Revenge Gauge. Sempre que Adol e Karja são atacados, uma barreira surge para refletir os golpes, fazendo com que sua barra de revenge seja preenchida até um certo limite (o máximo é 5.0), ao soltar qualquer skill, o dano infligido por ela é aumentada conforme o valor que está no momento.
Honestamente, eu já estava um pouco cansado do Party System, então uma mudança no combate após quatro jogos, foi muito bem-vinda. O Cross Action é bem interessante, mas leva um bom tempo para se acostumar com ele, seja você veterano na série ou não.
Diversas vezes eu me enrolava na hora de trocar os modos, mas meio que melhorou depois que mexi na configuração citada acima. Eu estou bem curioso para ver se eles continuaram com esse sistema por mais jogos, já que em Ys X ele está bem conectado com a narrativa.
A outra mecânica, envolve momentos com um Quick Time Event bem simples, que dá para dizer que é basicamente um show-off dos animadores da Falcom com a nova engine e mocap, onde Adol e Karja realizam ataque especial coreografado. Você executa a ação ao apertar o botão de ataque assim que ele aparece na tela. 100% das vezes elas aparecem no final de uma batalha de chefe, mas é possível ativá-las durante as mesmas para fazer uma transição.
Flash Guard e Flash Move, mecânicas importantes do Party System, foram quase que extinguidas aqui. A primeira é agora um parry que pode ser seguido de um ataque, mas só é possível excuta-la em momentos que um dos personagens está completamente sozinho, seja nas já tradicionais sessões com Adol se aventurando sem ninguém, ou quando seu parceiro morre. A outra é um tanto parecida quanto a sua versão original, também serve para se movimentar, no entanto, só é possível usa-la em ataques que brilham azul.
Em questão de bosses o jogo está bem servido, apesar de alguns serem miseráveis. Os chefes fazem bom uso do novo sistema de combate, quase todas as lutas fluem muito bem e o chefe final é provavelmente uma das melhores lutas que a Falcom já produziu, é espetacular em aspectos visuais e em gameplay.
Tal como os Monstrum Gifts de Ys IX, nós temos aqui uma série de habilidades e sistemas especiais obtidos através da Mana, um poder misterioso que apenas certas pessoas (e o Adol, porque ele é o Adol) podem utilizar. Você adquire esses poderes ao coletar antiguidades durante a história, não tem como perder, são obrigatórias.
Os poderes são:
Mana String: o clássico gancho, é bem parecido com o de Ys IX, mas aqui você pode se balançar e ativar algumas alavancas e plataformas.
Mana Ride: onde você usa um hoverboard para se locomover por cenários com água e navegar através das correntes de ar, e é surpreendentemente bem fácil de se controlar e ajuda bastante nos backtrackings.
Mana Burst: para avançar em alguns mapas você precisará liberar caminho bloqueados por heras ou por plataformas altas. Pressionando o botão de ataque com o Adol, você consegue queimar heras com o fogo, enquanto com a Karja é possível criar plataformas de gelo em cenários com água.
Mana Sense: é praticamente igual à habilidade da Doll no jogo anterior, onde você pode ativar uma visão de detetive estilo jogos do Batman, com isso você pode encontrar botões para passagens secretas e tesouros escondidos. O Mana Sense possui outra função liberada posteriormente que é a de desacelerar o tempo.
Além disso, tem mais dois sistemas onde a Mana está envolvida. Um deles é o Release Line, que é um sistema que utiliza Mana Seeds, algo como Materia em Final Fantasy e Orbment em Trails, para aumentar os seus status e você as coloca nessas linhas que são liberadas com Mana Points, obtidos ao decorrer do jogo, e aumento de nível dos personagens.
A cada 10 níveis, Adol e Karja liberam mais linhas e uma skill para o Duo Mode. A inclusão delas ativam o Reverie, que são bônus baseados nas seeds colocadas.
Elas podem ser obtidas através de crafting, abrindo baús, cavando tesouros aterrados ou no gacha do jogo. Sim, tem uma personagem que lhe permite tentar a sorte fabricando seeds, é a Falcom Moderna, não tem jeito. Sinceramente, se você for jogar na dificuldade Normal, não é um sistema que valha a pena quebrar a cabeça. Se você for nas dificuldades mais elevadas é capaz de ser bem mais eficiente.
O outro sistema no qual a Mana é útil é na exploração do mundo de Ys X e é algo um tanto complicado.
Talvez o assunto mais controverso do jogo desde o seu anúncio (tirando a primeira a portrait do Adol), foi a inclusão de um barco como principal meio de locomoção do jogo. Sim, o nosso viciado em naufrágios controla um barco em Ys X: Nordics, algo que faz sentido devido a temática Viking do jogo, mas que gera um pouco de preocupação, muito mais pela limitação da Falcom como desenvolvedora do que qualquer outra coisa.
Pois bem, não vou mentir e dizer que navegar é SUPER divertido, porque não é, nem de longe, mas leva algum tempo para deixar de ser, no mínimo, um incômodo. O início é complicado demais, o barco é muito lento e ruim de se controlar, mas as coisas começam a ficar menos estressantes após você começar a dar upgrades nele. Recomendo logo de cara aumentar a velocidade, o manejamento continua sendo ruim, mas ao menos você não fica 20 anos navegando, e logo depois o jogo libera boosts e correntes marítimas que lhe ajudam na locomoção.
A Mana libera várias habilidades únicas para o barco e isso lhe ajuda nas batalhas e exploração. O jogo também oferece bastante melhorias para armas e munições que você pode criar.
O mapa do jogo é dividido em vários mares que vão liberando conforme a história avança, aqui você encontra ilhas para serem exploradas, e locais liberados através de raids (uma das heranças de Ys VIII e Ys IX), batalhas navais, diversos comerciantes e alguns pontos de vida marítima. Todos esses locais se transformam em pontos de viagem rápida, então no mínimo o jogo entende que você não precisa ficar fazendo backtracking no mar, o que é algo bem positivo.
Quase todas as ilhas fora da história principal são bem parecidas, estrutural e visualmente falando, não há muita variação, mas ao menos o loop de gameplay é curto. Você aporta e explora bem rápido, pois elas são pequenas e com poucos inimigos. Muitos reclamam do fato de Balduq, de Ys IX, ser pouco diversificado, mas eu acho que prefiro explorar aquela cidade do que essas ilhas. Já a história principal nos apresenta algumas ilhas maiores e melhores, com inclusão de dungeons.
Já faz alguns bons jogos que Ys deixou de ser apenas um jogo de ação comum sem uma história necessariamente bem elaborada ou profunda, na maioria das vezes dava para o gasto e estava tudo bem. Uma tentativa que vem desde 2003 com Ys VI: The Ark of Napishtim e foi sendo modelada até chegarmos em Ys VIII: Lacrimosa of Dana (2016), onde a série adotou uma narrativa mais voltada para a outra IP da Falcom, Trails, o que fez o jogo ser muito elogiado.
Ys IX: Monstrum Nox seguiu pelo mesmo caminho, não ganhando tanto louvor quanto seu antecessor, mas ainda assim possuí o enredo como um dos seus pontos fortes. Eu pessoalmente prefiro a história do IX do que do VIII.
Ys X: Nordics navega pelo mesmo caminho, mas eu não estava esperando uma história com uma temática sobre Família. Tanto Karja, o elenco de apoio e, de certa maneira, o Adol, tem essa conexão narrativa em comum que é sobre família, seja a mãe, irmã e, especialmente no caso de vários dos personagens, o pai. O jogo lida bem com a relação entre os personagens, quase todos jovens adultos, com seus pais, e apresenta diversos pontos de vistas, alguns problemáticos, outros mais simples.
Como de praxe em vários dos jogos Ys, o Adol não é necessariamente o foco principal do enredo, e sim o fio condutor que faz a história andar. A personagem principal aqui é a Karja, e devo dizer que fiquei muito feliz com ela. A personagem é ótima, cheia de personalidade, muito por conta da sua voz japonesa ser a dubladora Lynn, e a dinâmica dela com o Adol é excelente.
Karja Balta faz parte da Balta Seaforce, ela é filha do Jarl que comanda a frota e o destino fez com que ela e Adol se encontrassem interligados, literalmente, e eles precisam dar um jeito de se libertarem das correntes de mana que os une. O primeiro passo para isso é se tornarem irmãos de escudo e então começamos a nossa aventura.
Admiro muito o fato da Karja não ser usada como par romântico do Adol, como normalmente acontece, sendo admiração o máximo que ocorre. O jogo explora muito bem a relação entre eles e no fim faz acreditar que eles são mais do que apenas irmãos de escudos, mas sim irmãos de verdade.
Eu falei que os jogos não costumam focar em Adol, mas junto de Ys IX, esse aqui é provavelmente o jogo com mais lore do personagem que temos até hoje? Eu nem sei por onde começar e como falar sobre sem dar muitos spoilers, mas temos CERTAS implicações aqui que quando eu soube delas na época do lançamento japonês, me fizeram repensar a série como um todo. Kondo, o que você está cozinhando…
É engraçado comparar a narrativa entre Trails e Ys, enquanto a do primeiro é muito mais verborrágica ao ponto de irritar em certos momentos, Ys é tão mais leve e consegue atingir o mesmo nível de impacto quando precisa. Tirando o começo que é mais pesado em cutscenes, não teve nenhum momento da história que eu parei e pensei “nossa, isso aqui está se arrastando”. O jogo é relativamente curto para os padrões atuais da Falcom e definitivamente menos inchado que Lacrimosa of Dana.
Ter apenas dois personagens centrais em vez de seis foi definitivamente a escolha correta, tanto em termos de narrativa, quanto de jogabilidade. O elenco secundário é ótimo também. Assim como em Ys VIII e Ys IX, nós temos um hub, sendo ele o barco Sandras e constantemente os personagens têm seus diálogos atualizados.
O jogo possui conteúdos “opcionais” do resto da gangue. Eu digo “opcionais” porque eles são simplesmente tão importantes quanto a história principal. Todos os personagens secundários presentes no Sandras, tem seus arcos concluídos através de eventos próprios que o jogo apenas marca no mapa. O jogo os considera todos canon, então se você ignorar é capaz de ficar confuso de porque certa coisa está acontecendo ou dita sem que você sequer saiba. Até mesmo o momento mais mindfuck do jogo é algo perdível e esse sequer é marcado no mapa ou tem qualquer indicação. Em termos de escrita, as sidequests são boas, mas sofrem de serem sempre muito iguais em sua estrutura.
Se você segue as notícias, deve saber que a Nihon Falcom atualmente utiliza um novo motor gráfico próprio que estreou em Trails through Daybreak, originalmente lançado em 2021. Se você comparar lado a lado, você vai se perguntar “por que diabos um jogo lançado dois anos depois, com a mesma engine, parece muito mais feio?”
Pois bem, o real motivo, além da incompetência, é que Ys X: Nordics foi desenvolvido com o Nintendo Switch em mente. Ou seja, a plataforma principal durante o desenvolvimento foi o console da Nintendo, isso fez com que a Falcom fizesse uma versão modificada da engine e deixando o jogo visualmente mais feio e um pouco mais estilizado, e então portou para as outras plataformas, sem aplicar alguma melhoria considerável. Eu não sou uma pessoa que me importa muito com gráficos, se não eu não jogava jogos Falcom, então é algo que eu consigo relevar sem problema, mas achei importante mencionar.
O que mais me incomoda no geral é a iluminação. Em locais fechados com pouca luminosidade, em especial as dungeons que possuem um tom mais azulado, o jogo fica realmente bonito. Já em locais com mais luz, além de ficar um pouco estourado, os modelos sempre parecem ter duas metades, uma com iluminação e outra sem.
A ideia da Falcom de abraçar o Switch, mesmo que tardiamente, não é de todo ruim, mas acaba tendo suas desvantagens, ainda mais se considerarmos que os jogos atuais da empresa estão sendo elogiados pelos seus visuais, basta ver as versões de Switch de Daybreak 1 e 2 (o último lançado no Japão em julho deste ano), onde as texturas perderam os detalhes e tudo parece mais lavado e sem vida. Os modelos também sofreram com isso.
Ao menos parece que a desenvolvedora tem melhorado nisso, pois Trails in the Sky 1st aparenta seguir um caminho similar no estilo, mas já demonstra estar mais polido, e estou bem curioso para ver como o próximo Tokyo Xanadu será nesse quesito.
Mas nem tudo é ruim. Em questão de animação, as cenas em mocap já trazem uma boa evolução se comparadas às de Daybreak 1 e 2, especialmente as do meio e final do jogo, e isso dado ao fato de que Daybreak 2 já estava bem melhor que o primeiro.
As expressões faciais, as cenas de ação, são todas naturais, é incrível como a Falcom evoluiu nesse departamento com uma velocidade bem impressionante. Kai no Kiseki, o mais recente lançamento da desenvolvedora, já demonstra estar mais avançado, além de ser visualmente mais bonito que Ys X.
A trilha-sonora é… competente, longe de ser ótima como nos títulos passados, mas não chega a ser necessariamente ruim. A falta de direção de som que ocorre há algum tempo ainda persiste, os compositores claramente não se conversam e houve um momento em que fiquei bem frustrado, não pela faixa em si, mas sim porque a música utilizada foi claramente feita para a cena em questão, mas ela já tinha sido utilizada duas vezes em ilhas secundárias aleatórias.
Em questão de arte, é um assunto um pouco engraçado mesmo sendo triste. Desde Ys VIII temos uma artista, não creditada apesar de sabermos quem é, dedicada a série. A artista em questão não vinha aparecendo nos créditos dos jogos da empresa desde o lançamento original de Trails through Daybreak em 2021, e quando a Falcom faz isso é porque a pessoa saiu da empresa. Ys X estava marcado para ser lançado em 2022, exatamente no ano dos 35 anos da franquia, mas acabou sendo adiado internamente para 2023 para que pudesse ter mais tempo de desenvolvimento.
Pois bem, em seu anúncio oficial, foi divulgado que toi8, responsável por várias obras, mas mais especificamente Tokyo Mirage Sessions ♯FE, seria o ilustrador do jogo, confirmando de vez a saída da artista responsável por Ys VIII e Ys IX.
O primeiro visual de Adol sendo meio twink causou um backlash, ao ponto do toi8 ter que lançar uma segunda versão que relembra o Adol mais clássico (o jogo utiliza ambas as artes, inclusive). Ao decorrer do marketing mais personagens foram sendo anunciados.
A parte engraçada vem agora: alguns deles claramente não eram desenhados por toi8, o traço era nitidamente o da artista anterior e quando você joga o jogo, dá para encontrar a arte dela em todo o lugar, inclusive em imagens promocionais. É normal a Falcom ter dois artistas distintos em cada jogo, um para ilustrar os personagens principais e outro para assumir a arte in game, é exatamente o que acontece em Trails, mas em Ys isso não é comum.
As artes de evento já são de um outro artista, chamado pelo fandom de NeoFelghana (devido a sua estreia como artista principal no remaster de Oath in Felghana), já que não temos informação suficiente para apontar um nome. É um artista que vem evoluindo bem rápido em seu traço, o que me deixa contente. Para fechar esse assunto, o toi8 nunca sequer falou do jogo durante seu período de marketing.
Por fim, não posso deixar de mencionar o excelente port de PC feito pela Ph3. Como mencionei na minha review de Daybreak, decidi que jogaria os jogos recentes da Falcom no Steam Deck e ter experienciado Ys X (quase sempre, devido a possibilidade de poder conectar na TV) na palma da minha mão a 60 fps durante todas as 45 horas de duração, é emocionante, definitivamente mais polido e estável que o port de Daybreak 1, talvez por conta do seu visual. Modo coop, que até o momento em que o texto está sendo escrito, não pude testar, e opção de mostrar as faixas são algumas das features presentes no port.
A localização da NIS America está muito boa e o fato do jogo estar saindo aqui “apenas” 13 meses depois do lançamento original, talvez mostre um futuro promissor onde o gap entre os lançamentos seja diminuído, não que Ys seja um bom exemplo pois o seu script é consideravelmente mais curto que qualquer Trails.
Ys X: Nordics faz a série respirar novos ares com o seu novo sistema de combate. A nova aventura de Adol traz um roteiro mais maduro e faz os fãs mais assíduos da franquia a enxergá-la com uma nova perspectiva após certas revelações.
Ys X: Nordics
NIS America, Nihon Falcom
Nihon Falcom
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