Demo de World’s End Club são Kodaka e Uchikoshi enlatados

Por Jean Kei

World’s End Club é um jogo desenvolvido pela Too Kyo Games,estúdio criado por Kotaro Uchikoshi (diretor da série Zero Escape) e Kazutaka Kodaka (diretor de Danganronpa). O novo jogo do estúdio foi co-dirigido por ambos e teve um primeiro lançamento para Apple Arcade. Contudo, o jogo saiu como “early acess” e sua versão completa será lançada em 28 de maio de 2021.

Primeiramente, eu sou um grande fã de ambos diretores do jogo. Tanto Danganronpa quando Zero Escape fazem parte de minhas franquias favoritas (apesar do último Zero Escape ter sido decepcionante). Ambos diretores me encantam pela forma com que contam suas narrativas.

Kodaka, por exemplo, não é nem um pouco sútil e essa é sua maior força

Danganronpa escancara tudo na sua cara e é disso que eu gosto. Adoro Danganronpa V3 justamente porque o jogo ativamente mente para o jogador pra chegar onde quer. Você cria expectativas ao longo do jogo, e tudo vai se quebrar em algum momento num momento catártico e um tanto metalinguístico. Kodaka verbaliza no jogo os sentimentos que ele tem pela série que criou, e não tem medo de incomodar o fã médio ao fazer isso.

Além disso, nos jogos ele parece fazer uma “homenagem consciente” a cultura pop japonesa. Replicando e brincando com vários tropos, mas as vezes a crítica apontando suas problemáticas.

Como exemplo nós temos o spin off Ultra Despair Girls que fala diretamente sobre abuso infantil. Aqui temos um elenco de personagens crianças que possuem arquétipos claros, mas parte disso são consequências de traumas. O que deixa claro isso é a personagem Kotoko Utsugi, uma loli com atitudes sexualizadas apresentada como alivio cômico completamente desconfortável, e você descobre que ela é assim porque sua mãe lucrava com a imagem dela como esse tipo de modelo “loli” (Tem um texto que contextualiza bem esse tipo de assunto)

Já Uchikoshi Kotaro brinca muito com regras

A franquia Zero Escape também não é sútil, contudo, Kotaro se diferencia pelas brincadeiras com regras. Das duas franquias que joguei deste diretor (Infinity series e Zero Escape) ambas brincavam com as regras criadas pela narrativa. em Ever17, um dos jogos da Infinity Series, Kotaro brinca com escolhas de caminho de uma Visual Novel e com o conceito de viagem no tempo (o que não era TÃO lugar comum em 2003), e conseguia usar a natureza repetitiva desse tipo de jogo como parte fundamental de sua narrativa.

Com Zero Escape ele conseguiu expandir isso MUITO. Em Zero Escape, você está literalmente num jogo de sobrevivência no qual envolve te forçar a fazer múltiplas escolhas, te instigando a fazer todas as escolhas possíveis, por mais abjetas que elas pareçam. Claro, tudo isso usando não só o conceito de viagem no tempo mas vomitando dezenas de ideias de ficção cientifica e brincando com elas. Tudo isso funcionando surpreendentemente bem.

Ta bom, mas e o World’s End Club?

Enfim, tudo isso foi para dizer que a demo World’s End Club mostrou os aspectos de ambos diretores condensados em uma hora e pouco.

Na demo, começamos com um grupo de personagens num clima de estarem a caminho para um climax, a possível batalha final…para o (talvez) vilão falar que eles vão falhar por terem tomado decisões erradas e matar todos eles. Logo em seguida nós somos apresentados para uma cena de introdução de um Battle Royale, explicando várias regrinhas num gráfico muito diferente da introdução do jogo… Mas espere, era só um filme que as crianças estavam assistindo no ônibus durante a excursão escolar… Dai um meteoro cai na terra e todo mundo apaga… E eles acordam em maquinas criogênicas e se veem num Battle Royale igualzinho a do filme que assistiram.

E o jogo não para de brincar com sua expectativa

Nesse momento somos apresentados aos personagens que são arquétipos bem claros, mas sempre com um gostinho de “tem algo a mais”, e se você ler o log de cada personagem vai sentir que a personalidade descrita ali está discrepante com os diálogos no jogo. A demo é TODO O BATTLE ROYALE e ao fim dele, o jogo te da mais uma rasteira e indica que ele não é sobre isso, mas sobre outra coisa.

O jogo me apresentou pelo menos três tipos de temática ao longo dele e não seguiu necessariamente nenhuma. O que lembra completamente a brincadeira que o Kodaka tem com expectativas. Não satisfeito em brincar com expectativa, o Battle Royale tem regras simples mas colocadas de uma forma que te fazem pensar bastante nelas, e ele também joga algumas dicazinhas do que talvez o plot venha a se tratar. Como o título desse texto sugere, World’s End Club é de fato um produto de dois diretores bem autorais trabalhando juntos num projeto. Essa demo fez com que esse jogo rapidamente se tornasse um dos mais aguardados por mim este ano.