Football Heroes League – Impressões e Entrevista

Por Matheus Megazao

Na gamescom latam desse ano, em um lugar discreto e mais afastado das entradas, haviam quatro estações de teste para o jogo Football Heroes League. Com uma apresentação visual simples, com apenas o nome do jogo acima das telas, não havia muita indicação da real natureza dele – a estreia de um título que estava jogável pela primeira vez no evento e ainda seria lançado durante o mesmo – mas ele ainda atraía um número considerável de pessoas interessadas em testá-lo.

Este é o mais novo título do estúdio Run Games, composto de um time de veteranos da indústria com experiência em jogos como Battlefront II, The Saboteur e Tony Hawk’s Pro Skater. Alguns membros do time estavam presentes para promover o jogo para o público e coletar feedback durante o evento, e nós fomos convidados a entrevistar um deles, o diretor criativo Michael Marzola. Antes disso, porém, nós pudemos experimentar o jogo por uma partida, e foi uma experiência interessante.

O jogo

Football Heroes League parece, a princípio, um Rocket League com humanos. Porém ele oferece uma camada a mais com elementos de hero shooters como Overwatch, em que os personagens têm habilidades e poderes próprios. Em sua essência, ele ainda é um jogo de futebol de 2 contra 2, mas muito mais frenético pelo constante uso de poderes diferentes que podem atrapalhar adversários ou te dar alguma vantagem para se apossar da bola. É curioso que, apesar de jogos de esporte e coisas multiplayer não serem bem o tipo de coisa que eu ou o Jean (que estava comigo na feira) jogamos, a gente se divertiu bastante com o conceito de Football Heroes League. Eu em particular tive até um momento que, modéstia à parte, foi digno de final de filme de esporte, onde nós precisávamos fazer um último ponto para ganharmos e eu usei uma habilidade nos últimos 3 segundos que colocou a bola em caminho livre para o gol adversário – mas que acabou batendo na trave. Assim, abalados pela derrota, chegou a hora de conversarmos mais sobre o jogo com Michael.

A entrevista

Bom, pra começarmos, qual é o seu nome e o que você faz na empresa?

Michael: Beleza! Oi, eu sou Michael Marzola, diretor criativo na Run Games. Eu ajudo a definir a direção criativa e trabalho com o time no design.

E sua equipe? Quantas pessoas são e o que elas fazem no jogo?

Michael: Nós geralmente temos uma média de 10 pessoas trabalhando no jogo. Trabalhamos com terceiros na arte e animação, o que aumenta o escopo da equipe, mas a média é de 10 pessoas. Nós somos um grupo bem internacional e variado, o que inclui pessoas japonesas, canadenses, vários brasileiros, mexicanos – nós temos pessoas do mundo todo e somos bem orgulhosos do time internacional que nós juntamos. A coisa que mais me orgulha nessa equipe é que todo mundo é muito multifacetado em suas habilidades, então todo mundo trabalha pra desenvolver o jogo. Às vezes até o designer de som dá ideias pro projeto, então não existe hierarquia ou limitações para o que as pessoas podem contribuir. Todo mundo é responsável pelo jogo, e mesmo eu sendo o diretor criativo eu tenho ideias ruins o tempo todo, então o fato que não temos hierarquia me dá muito orgulho.

Você mencionou pra gente que vocês já tinham uma ideia concreta do jogo que queriam fazer desde o começo. De onde essa ideia veio? Que tipo de experiências e interesses deram origem a ela?

Michael: Eu joguei futebol a minha vida inteira. Eu ainda jogo, mesmo com mais idade, porque eu amo futebol e o esporte é uma paixão da minha vida. Eu também sou um grande fã de esportes virtuais – eu cresci jogando inúmeros jogos do gênero. Quando eu era mais novo, jogos de esporte eram bem mais diversos com títulos como NBA Jam ou NFL Blitz, onde a essência do esporte existia mas eles mudavam várias regras como o número de jogadores e tal, e eles faziam isso pra tornar os jogos mais divertidos. O que eu quis fazer aqui foi capturar a magia de estar num campo de futebol com aquela visão quase claustrofóbica da quantidade de informação que você enxerga, pois quando você joga FIFA você tem uma visão de câmera de TV, onde você consegue enxergar quase todos os jogadores e trocar entre eles. Aqui eu quero reproduzir a perspectiva de correr no campo, de estar correndo focado no gol e do nada alguém aparecer na sua frente e desliza para roubar sua bola, capturar a imersão de você ser um jogador mirando no gol com precisão de onde quer chutar a bola.

Então nós fizemos esse jogo, e quando chegamos na fase de protótipo nós testamos partidas de 5 contra 5, 11 contra 11, e o maior problema que eu senti em uma simulação com esse ângulo em que você não troca de jogadores é que quando você não está com a bola ou atacando, não tem muita coisa pra fazer. Como esperar não era agradável, eu comecei a pensar “e se essa galera tivesse super poderes? E se eles pudessem voar, preparar armadilhas, usar habilidades que permitissem chegar na bola?” e isso deu origem a muitas ideias entre a equipe. Uma das coisas que nos inspirou foi o filme Kung-Fu Futebol Clube, que é basicamente uma junção de futebol e kung-fu! Ele foi uma grande inspiração inicialmente e nos deixou combinar a imersão de uma simulação individual de futebol com a ação exagerada do filme para o produto final.

Quando essa entrevista sair o jogo já vai ter sido lançado. Qual o modelo de negócios de vocês?

Michael: Ele é um jogo gratuito – e quando eu digo gratuito, eu quero dizer 100% gratuito. Você pode jogar o jogo sem restrições de energia, modos de jogos, etc. Nós queriamos fazer um jogo que obedecesse a ideia de “futebol pra todo mundo”. O meu filho é sortudo porque tem um pai que faz video games, então ele ganha todo tipo de video game, e eu comprei uma cópia de Helldivers 2 pra ele de natal. Porém ele só jogava Fortnite e Roblox com os amigos, então eu fui perguntar porque ele não jogava com eles já que eu e ele tínhamos jogado juntos e nos divertido muito. Aí ele me disse que era porque nenhum amigo dele tinha Helldivers 2. Naquele momento nós já estávamos trabalhando no jogo, mas isso reforçou pra mim a importância de darmos acesso ao jogo para todos, independente de quanto dinheiro a pessoa tenha, de quanto seus pais deixam ela gastar com jogos, etc. Se você é uma pessoa que trabalha duro e mal consegue pagar as contas, a gente quer dar pra você o jogo que nós nos esforçamos tanto pra fazer, e queremos que você aproveite, jogue com seus amigos e compartilhe a experiência. Então pra nós a mensagem central tem sido “futebol pra todo mundo”, independente de onde você é, da sua língua, etc. O jogo já sai localizado para os principais idiomas porque nós queremos que todo mundo jogue, e jogue de graça.

O jogo por enquanto está disponível na Epic Store e Steam. Existem planos para trazer o jogo para plataformas mobile, já que esse é um dos grandes mercados para países de terceiro mundo?

Michael: Com certeza. Nós estamos considerando a plataforma – talvez até já estejamos trabalhando nisso – mas ainda não temos nada concreto. Mas eu concordo, como eu disse antes a ideia é “futebol pra todo mundo”, então se você está num celular ou jogando numa torradeira, eventualmente queremos lançá-lo pra sua torradeira. O problema é que em celulares a interface de toque é mais complicada, então é algo que nós estamos trabalhando duro para que seja agradável de jogar. Até porque o jogo será cross play, então se você estiver jogando no celular e eu no meu PC, nós podemos jogar juntos, e isso vai ser bem legal.

Com o jogo sendo gratuito, como será o sistema de monetização?

Michael: Boa pergunta. Atualmente todo dia que você entrar no jogo você tem dois personagens pra usar naquele dia. O jogo escolhe dois personagens aleatoriamente todos os dias, mas se você gosta muito de um personagem em particular, você pode pagar para desbloqueá-lo e não depender da rotação. Você também pode comprar itens para customização, que na versão 1.0 incluem skins, personagens e emotes.

Como vocês pretendem expandir o jogo no futuro?

Michael: Nós temos algumas mecânicas sociais que vão permitir as pessoas participarem de clubes, o que te permite criar um uniforme próprio e jogar junto. Um dos destaques do jogo é rankear as pessoas, então você pode almejar ser o melhor jogador de um personagem específico no mundo, por exemplo. Então nós queremos que as pessoas escolham seus personagens, foquem neles, dêem seu melhor e busquem subir nos rankings. Nós também teremos novos modos, incluindo um muito legal que estamos desenvolvendo agora; um mapa novo que vai sair nas primeiras semanas, múltiplos novos personagens, com um em particular que já está bem avançado – então nós vamos lançar várias coisas constantemente e detalhar tudo num roadmap após o lançamento.

Quando vocês começaram a trabalhar no jogo havia uma grande demanda por jogos de esporte mais arcade. No fim do ano passado foi anunciado Rematch, que é bem parecido em vários aspectos com o jogo de vocês. Como foi isso pra você?

Michael: Nossa cara, foi uma história interessante. Eu sou um nerdão e amo video games, então eu sempre assisto o The Game Awards com pipoca e bebidas na mão. Eu tenho filhos bem novos, e como muitos trailers são inapropriados, eu sempre acabo trancando a porta e curtindo tudo ali sozinho. Aí quando o programa começou, e eu estava super empolgado, eles passam logo no começo o trailer de Rematch, o que me fez derrubar meu monóculo hipotético na pipoca. Foi um sentimento muito ruim, porque além do diretor criativo eu também sou o presidente do estúdio, então eu estou basicamente investindo meu dinheiro nsse jogo. Nós estávamos fazendo algo legal que ninguém nunca tinha feito antes, e isso me deixou bem chateado. Eu fiquei bem deprimido por um tempo e bateu um pensamento de “meu Deus, eu investi tanto dinheiro nisso”, mas quando eu comecei a assistir mais gameplay do jogo eu percebi duas coisas: primeiro que é incrível que nos últimos 35 anos ninguém tinha feito um jogo assim, e de alguma forma um estúdio na França e outro em Seattle tiveram a mesma ideia ao mesmo tempo e vão lançar os jogos com um mês de diferença; segundo que os jogos abordam a mesma ideia por perspectivas diferentes, o que me deixou mais aliviado. Eu fiquei chateado no começo – não com eles, mas com a situação – mas percebi que são duas interpretações do mesmo conceito. Quando você olha pros dois eles realmente parecem similares, mas quando você joga os jogos eles jogam completamente diferente. Nosso jogo é mais fantástico e exagerado, enquanto o deles parece mais uma simulação – mais FIFA e menos Mario Strikers. Isso me fez perceber que eu estou empolgado pra Rematch! Estou ansioso pra jogá-lo porque, como um fã de futebol, eu quero mais jogos de futebol. O jogo deles parece bem legal, e mesmo com um orçamento bem menor que o deles, eu estou orgulhoso com o que minha equipe conseguiu. Algumas pessoas vão gostar mais do jogo deles e outras do nosso, mas eu acho legal que o público tenha escolha nesse gênero porque jogos de futebol estão estagnados criativamente.

Você quer deixar alguma mensagem final?

Michael: Claro! Eu faço jogos e sonho em fazer jogos desde os 10 anos, e eu tive muita sorte de poder fazer desde grandes jogos AAA em empresas como EA, Activision e Pandemic, até jogos bem pequenos com uma ou duas pessoas. Esse jogo é um trabalho de amor, algo que a equipe inteira adorou fazer, então o fato que posso conversar com vocês logo antes do lançamento do jogo, que nós somos um estúdio americano com 4 membros brasileiros e que podemos lançar o jogo anunciar o jogo no Brasil em frente a esse público que tem a mesma paixão por futebol que a gente, é muito especial. Nós realmente esperamos que as pessoas aproveitem o jogo! Se você gostar pode falar para seus amigos, mas se não gostar pode nos encontrar no Discord e nos dizer o que podemos melhorar. Agora o jogo está indo de uma experiência desenvolvida em segredo pelo nosso time para um produto do mundo, e esse é o verdadeiro significado de “futebol para todos”. Então junte-se a nós para fazer do jogo a melhor experiência possível!

Conclusão

Em uma nota mais pessoal, essa foi uma das entrevistas mais legais que eu já fiz. Além do jogo ser interessante, o Michael foi um cara muito divertido de conversar tanto aqui quanto em off, e é visível que ele (e o time) são apaixonados pelo que fazem. Caso tenha se interessado por Football Heroes League, o jogo já está disponível gratuitamente na Epic Games Store e Steam.

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