A questão das visual novels é um assunto complexo aqui no ocidente e – por conta da barreira linguística – ainda mais inacessível no Brasil. Vítimas de preconceito por aqueles que nunca jogaram e soterradas por desinformação, as obras que pertencem ao gênero são relíquias que parecem obscuras aos olhos daqueles que nunca correram atrás. Elas funcionam basicamente assim: focadas em texto, raramente tem um uso muito denso de interação. É quase como um livro jogável, só que com ilustrações, músicas e as vezes escolhas que mudam o rumo da narrativa.
Alguns tem uma visão simplista e rasa que são apenas simuladores de relacionamento, outros repetem a piadinha infame de serem jogos de apertar A até acabar. Infelizmente, isso acaba afastando pessoas, trazendo uma ideia muito errada do que realmente uma história boa do tipo pode fazer. Inclusive, grandes marcas do mercado de mangás e animes como Higurashi When They Cry, Fate/Stay Night e Steins;Gate tiveram suas origens dentro desse mercado e os fãs de tais franquias ainda indicam que o ideal e mais completo é ler o material original. Pois é fato: adaptações de visual novels dificilmente dão certo e, no mínimo, saem muito defasadas.
Enquanto discussões irrelevantes – como definir se esses títulos podem ser classificados como jogos ou se são um tipo diferente de mídia – ainda tomam protagonismo, qualquer um que é minimamente versado no assunto sabe que é claro: visual novels (ou VNs, para os mais íntimos) tendem a ter um impacto emocional absurdo quando em sua melhor forma. A experiência audiovisual complementa muito a narrativa e a imersão de estar em primeira pessoa, assumindo o psicológico e a visão do protagonista, consegue elevar muito a impressão final.
Logo, por que não entrar nisso de cabeça? Claro! Porque isso é um artigo do Frost e infelizmente eu preciso colocar algumas ressalvas e critérios para minhas indicações.
A primeira coisa que quero deixar claro é: é uma lista de visual novels, não de jogos de aventura japoneses. Isso significa que jogos como Phoenix Wright Ace Attorney, Hotel Dusk, Danganronpa, The Silver Case ou a franquia Zero Escape não tem lugar aqui. A diferença principal vem no quanto a saga foca na interação. Algumas VNs como Rance, Baldr Sky ou Utawarerumono podem até ter muita gameplay, mas a ênfase ainda deve ser no texto. Se houver demanda, faço também uma lista de recomendação para jogos de aventura futuramente, mas creio que o foco está definido.
A segunda coisa é sobre os gênero das narrativas. Estarei usando definições de animes e filmes, e não de VNs. Usaremos termos como ação, aventura, horror e suspense. Termos como nakige, kamige ou utsuge não serão usados. É um texto para iniciantes, não quero usar um vocabulário que confunda quem nunca deu uma olhada no VNDB ou no Fuwanovel.
E finalmente, quero expor os critérios de avaliação:
1 – Disponibilidade de tradução em PT-BR: Nem todo mundo sabe inglês fluente. Se o jogo tiver uma tradução, melhor.
2 – Tempo de leitura: A maioria das pessoas não está acostumado à ler histórias imensas com muito tempo de construção de personagens e tensão. Irei priorizar experiências sucintas que introduzam o nicho bem.
3 – Potencial culturalmente ofensivo: Cenas de sexo, relações incestuosas ou sexualização de personagens com aparência mais infantilizada serão pontos negativos.
4 – Qualidade: O quanto a história é boa, claro que será algo valorizado.
5 – Necessidade de conhecimento prévio: Essa história brinca com estereótipos que o iniciante não conhece? Ela exige que já esteja acostumado com os padrões do gênero? Exige algum conhecimento prévio externo?
Com isso, darei notas relacionadas. A nota será de 0 a 5, mas sem muito compromisso matemático, apesar dos fatores estarem em conta.
Enfim, sabendo disso, vamos direto ao ponto!
Gênero: Drama, fantasia, romance, mistério e horrorEmpresa: TYPE-MOONPreço: Grátis no ocidenteEscritor: Kinoko NasuTem em português? SimPossível jogar em um celular? SimDuração média: 40~50 horas
Esse jogo – mesmo décadas após seu lançamento – não sai da boca do povo, se estabelecendo como um verdadeiro clássico. Depois do belo trailer do remake, animado pelo estúdio Ufotable que explodiu a internet, claro que o clássico seria uma recomendação óbvia. A nova versão do jogo terá uma narrativa bem diferente de acordo com o revelado em entrevistas e, aparentemente: o clássico não será substituído pela nova versão, e o original continua uma leitura válida. É o responsável pela explosão das visual novels dos anos 2000 e um dos jogos mais importantes da história do Japão.
Tsukihime conta a história de Shiki Tohno, um jovem que sofre de alguns problemas físicos e acaba voltando à morar com o lado rico da sua família, em uma mansão. Ele tem um superpoder estranho, onde ele pode destruir qualquer objeto, coisa ou pessoa facilmente. Como isso? Ele pode ver a “linha da vida” da pessoa, que representa a sua existência, e cortar a mesma, matando instantaneamente. É One Punch Man, mas no lugar de humor, o protagonista tem ataques maníacos e dilemas em relação à mortalidade humana. E claro, várias waifus que o protagonista pode escolher, cada uma com uma narrativa individual.
As coisas se complicam mais ainda quando aparece um assassino em série na cidade e vários mistérios se estabelecem. Por que as vítimas aparecem com o sangue todo sugado? Existem vampiros? Qual a origem do poder do protagonista? Quais segredos a família Tohno esconde em sua mansão? Apenas a perseverança de Shiki perante problemas literais e existenciais, junto com a cooperação das escolhas certas do jogador, vão desvendar tal mar de segredos!
Infelizmente, o jogo é meio confuso de se encontrar as vezes, com o uso de guias sendo recomendado. Por ser uma VN antiga, há cenas de sexo e, apesar de algumas se encaixarem bem na narrativa, outras são mal encaixadas, além das descrições cheias de vergonha alheia. Considerando isso, é um jogo que pode afastar o consumidor ocidental por questões de diferenças culturais e irresponsabilidade social em tópicos pesados. Além de claro, da narrativa ser bastante imperfeita por conta de ser uma das primeiras obras de seu autor, ainda inexperiente.
Nota de recomendação ao iniciante: 3/5
Gênero: Drama, fantasia, romance, slice of life, mistério e açãoEmpresa: TYPE-MOONPreço: Grátis no ocidenteEscritor: Kinoko NasuTem em português? SimPossível jogar em um celular? SimDuração média: 80~90 horas
Irrelevante do que pensa sobre as adaptações de anime e mangá, Fate é uma franquia imensa e altamente influente no Japão. A experiência mais completa da história que deu origem à isso tudo ainda é o material original: a visual novel, também feita pelo mesmo escritor de Tsukihime e se passando no mesmo universo.
Fate/Stay Night conta a história de Emiya Shirou, um jovem que acaba se envolvendo em uma espécie de battle royale mágico, onde várias pessoas invocam servos mágicos para se enfrentar até a morte. O vencedor conseguirá acesso ao Santo Graal, uma espécie de artefato mágico que pode conceder qualquer desejo. Ah, e claro: esses servos são personificações de figuras históricas do passado, como Héracles e o Rei Arthur (que virou mulher porque waifu).
Além da proposta interessante, Fate/Stay Night tende a interpretar e reinterpretar o significado de “herói” como tema principal e cada rota da narrativa acaba se complementando muito bem. Contando com orçamento e um capricho que faltava no seu antecessor Tsukihime, é uma entrada perfeita, né? Nem ferrando.
O ritmo as vezes pode ser torturante e é uma história imensa, e várias informações se repetem de modo cansativo. As cenas de sexo desconfortáveis de Tsukihime também voltam aqui, mas a versão mais atualizada, chamada de Realta Nua, remove elas e adiciona outras cenas. Apesar disso, é uma ótima recomendação para um iniciante desde que a pessoa consiga ter paciência com a duração e com a prolixidade. É sério, é uma obra infame por ser cansativa.
Nota de recomendação ao iniciante: 4/5
Gênero: Ficção científica, ficção política, drama e mistério, Empresa: Nitro+ CHIRALPreço: 37,99 (pega promoções boas frequentemente)Escritor: Fuchii KaburaTem em português? NãoDuração média: 20~30 horas
Dramatical Murder, o queridinho do pessoal que acessava o Tumblr no meio da década de 2010, tem uma das melhores direções de arte que já vi em uma visual novel. Contando com alto orçamento e uma quantia absurda de capricho, sua simplicidade, duração contida e personagens envolventes tornam essa uma ótima escolha para iniciantes, mostrando todos os principais fortes que uma boa visual novel pode ter.
A sinopse é simples. Aoba, um jovem que trabalha em uma loja de sucata, acaba se vendo no meio de um período de transição para os adolescentes delinquentes do subúrbio do Velho Distrito Residencial. Com a força policial totalmente corrupta e aliada aos interesses das corporações e da yakuza, gangues tomam as ruas e garantem a segurança dos moradores. Entretanto, os jovens pararam de se interessar na pancadaria tradicional, jogando um jogo que envolve um espaço digital psicológico chamado Rhyme, evitando de se machucarem. Eventualmente, dilemas levam o protagonista e seus parceiros à uma viagem ao distrito fechado dos ricos: Platinum Jail. Qual o objetivo? Derrotar uma megacorporação maligna.
Dramatical Murder, assim como Tsukihime, usa perfeitamente do seu meio para trazer o que uma VN de escolher rotas mais faz melhor: os personagens são marcantes e tem um desenvolvimento incrível. Clear melhor garoto. Os problemas principais vem muito exatamente da falta de ambição narrativa. As críticas sociais são equivalentes ao que um jogo da Ubisoft faz, com mensagens óbvias sem muita análise contextual ou pragmatismo. Muitas das tecnologias interessantes ou ideias maneiras não são exploradas. Esse jogo grita por uma sequência ao estilo de Muv-Luv Alternative, mas creio que é uma experiência fechada sólida.
Nota da recomendação ao iniciante: 4.5/5
Gênero: Drama, slice of life, horrorEmpresa: Team SalvatoPreço: Grátis, mas a versão melhorada Plus custa 28,99 reaisEscritor: Dan SalvatoTem em português? SimDuração média: 2~4 horas
Essa é a recomendação óbvia da lista. Um jogo, aparentemente um simulador de relacionamentos padrão sobre um clube de literatura, eventualmente acaba tocando em tópicos mais sérios como suicídio, depressão e obsessão. O uso de horror nesse jogo é interessante e integra interações bem específicas que prefiro não elaborar muito por spoilers.
Doki Doki é muito criativo no modo que usa sua interação, e acho que esse é o ponto mais atrativo. Disponível em português, é um jogo curto e bastante impactante considerando que é grátis e curto. O problema vem mais do quanto ele é impactante em relação ao resto dos jogos do gênero. Em narrativa, ele não reinventa a roda, inclusive sendo muito similar à proposta inicial de Higurashi no Naku Koro Ni, só que sem os personagens bem construídos e carismáticos.
Enquanto é um jogo que não representa o nível de impacto emocional que uma boa VN pode ter, ainda vale o seu tempo, especialmente por ser grátis, curto e muito bem executado considerando seu pequeno escopo de 4 horas de narrativa. Também não tem cenas de sexo ou ideias narrativas muito culturalmente distantes da nossa realidade. Recentemente, entretanto, saiu o Doki Doki Plus, que custa 28,99. Honestamente: as adições não parecem justificar o preço e ainda recomendaria jogar a versão grátis e esperar uma promoção para a Plus, ou pegar outra visual novel por esse valor.
Nota da recomendação ao iniciante (versão normal): 4.5/5Nota da recomendação ao iniciante (Plus): 2.5/5
Gênero: Mistério, dramaEmpresa: AkabeiSoft2Preço: 36,99 reais sem vozes, 72,99 com vozes (fica em promoção frequentemente)Escritor: LooseboyTem em português? SimDuração média: 10~30 horas
Um sucesso gigante no ocidente, G-Senjou no Maou faz parte do seleto grupo das visual novels que foram traduzidas para português e conquistou bastante o público brasileiro. Sendo uma narrativa com uma premissa bastante interessante, é uma VN que consegue apresentar as principais características de seu meio, sem sobrecarregar o leitor.
A história conta sobre o filho de um gangster famoso, que acaba ficando parceiro de uma menina nova na escola chamada de Haru. Ela está tentando caçar um bandido famoso internacionalmente chamado de “Maou“, ou diabo em português. Isso se desenvolve em uma caçada, cheia de intrigas e suspense.
Considerando a presença de tradução em português, a premissa simples mas interessante e o quanto as coisas são diretas, é uma ótima escolha para iniciantes. Não há ressalvas.EDIT: Era CLANNAD aqui, mas acabei trocando depois de ouvir alguns bons pontos. Como compensação do meu erro, trouxe mais dois jogos à lista que são recomendados frequentemente. Agradeço pela atenção!
Nota da recomendação ao iniciante: 5/5
Gênero: Mistério, dramaEmpresa: Stage-nanaPreço: Grátis o jogo base, versão melhorada com DLCs sai por volta de 60 reais (FICA EM PROMOÇÕES BOAS)Escritor: Tomo KataokaTem em português? SimDuração média: 2~3 horas
Narcissu é deprimente. A premissa em si já mostra qual que é a intenção do autor: o protagonista tem uma doença terminal e acaba se encontrando com uma garota chamada Setsumi, também com uma doença terminal. Os dois, para aproveitar os últimos momentos de suas vidas, acabam pegando um carro e viajando juntos.
A descrição básica é simples, e você vai receber exatamente o que você espera. Foi uma das minhas primeiras novels e, apesar de simples e linear, tem uma boa escrita. Apesar de ser grátis, tem uma versão mais completa que tem umas DLCs com mais narrativa que pode ser bem cara, recomendo esperar promoções para esse pacote caso esteja interessado. Ainda assim: a versão grátis já é ótima o suficiente.
Gênero: Mistério, dramaEmpresa: RúfPreço: Grátis no Brasil por questões de não ter venda oficialEscritor: Romeo TanakaTem em português? NãoDuração média: 10~30 horas
Yume Miru Kusuri é bem conhecido por ser uma das primeiras localizações oficiais de visual novels que aconteceram no ocidente. Enquanto a premissa básica é simples, onde um estudante tem que escolher entre três garotas para conhecer e se aproximar, a questão é que essas garotas tem dilemas interessantes e pesados, que envolvem coisas como uso de drogas e bullying.
É um nakige, ou seja: um jogo com clima melancólico e depressivo. Apesar de não ser tão aclamado no meio quanto as obras principais da Key, é simples, direto ao ponto e vai te dar uma experiência satisfatória, além de te dar um pouco de conhecimento sobre o histórico das localizações de novels no ocidente.
Gênero: Drama, pós-apocalíptico, ficção científicaEmpresa: KeyPreço: 19,99 (Fica em promoções ABSURDAS, dá para comprar com cartinhas nesse período)Escritor: Yuuichi SuzumotoTem em português? SimDuração média: 2 ~ 4 horas
Se a proposta de Clannad pareceu muito mundana para você, se o tamanho do jogo te intimidou… Temos aqui uma das melhores opções para iniciantes, uma novel sucinta, direto ao ponto, mas muito impactante.
Planetarian se passa em um futuro pós-apocalíptico, onde um explorador de ruínas – chamados no universo do jogo de Junkers – acaba entrando em um planetário. Lá dentro, encontra uma androide quebrada. Esperando por um cliente por anos, os dois personagens compartilham de conversas melancólicas enquanto tentam consertar o projetor do estabelecimento, para que a robô consiga ver as estrelas.
Sem cenas de sexo, sem ideias desconfortáveis, totalmente amigável em todos os aspectos. É uma experiência sucinta, comovente, que mostra tudo que o gênero pode fazer. O preço pode ser meio salgado, mas as promoções frequentes ajudam e as vezes ele fica na casa dos dois reais. Sem piada.
Só vale lembrar que tem duas versões: a original e a HD. A original está traduzida em inglês e português, sendo a que a maioria do pessoal jogou. A HD não conta com nenhuma das duas línguas, mas tem em espanhol caso queira arriscar. Não se preocupe, entretanto: a original e a HD só mudam a arte e muita gente, inclusive eu, prefiro a arte original.
Gênero: Romance, horrorEmpresa: Nitro+Preço: 28,99 (Fica em promoções ABSURDAS, dá para comprar com cartinhas nesse período)Escritor: Gen UrobuchiTem em português? SimDuração média: 2 ~ 4 horas
Saya no Uta (ou Song of Saya, em inglês) é uma história escrita e dirigida pelo famoso diretor de Madoka Magica e Psycho Pass, Gen Urobuchi. Quem já viu algo dele sabe o que esperar em relação à tom e narrativa. Por conta do conteúdo pesado, creio que adaptar esse clássico para anime seria impossível. Apesar de melhor apreciado se a pessoa estiver familiarizada com a estrutura dos contos do autor H.P. Lovecraft, não é uma leitura necessária e é uma história que funciona espetacularmente bem individualmente.
A história básica é que um jovem, Fuminori Sakisaka, acaba sofrendo um acidente de carro com sua família. Como único sobrevivente, só tem sua vida salva pelos médicos por conta de um tratamento experimental. Infelizmente, dado ao dano cerebral, agora tudo que ele vê é sangue e carne. Odores horríveis e sons assustadores tomam sua cabeça, e viver se tornou uma luta constante para nosso protagonista. Entretanto, motivando ele a viver, existe uma garota, que é a única coisa que ele vê com um formato humano e agradável: a misteriosa Saya.
Saya no Uta conta com uma direção de arte memorável (apesar do traço simples) e uma espetacular trilha sonora. Infelizmente, por conta de conteúdo adulto extremo, cenas de sexo extremamente desconfortáveis e horror exagerado… não é uma história para qualquer um. Vale o aviso que apenas a versão antiga, que só pode ser comprada usada ou importada, ou pirateada, é a que funciona a tradução em PT-BR. Aparentemente ela ainda não funciona no port da Steam.
Gênero: Romance, slice of life, horrorEmpresa: Nitro+Preço: 57,99 reaisEscritor: Vio ShimokuraTem em português? NãoDuração média: 10 ~ 20 horas
Também chamado popularmente de Totono, é uma viagem inesquecível. Se eu já me impressiono com o quanto Saya no Uta marca com a sua curta duração, Totono faz muito mais, ultrapassando muitas visual novels imensas e altamente reconhecidas no meu conceito.
A história básica é clichê. É um cenário escolar genérico. Você é um cara padrão e tem que escolher entre a sua amiga perfeitinha Mizuki, ou a estranha e misteriosa Aoi. Normal né? Sim, de começo é bem normal. Com certeza a Aoi vai te encantar muito com seus trejeitos e manias excêntricas, e o jogo te dará todo o conforto possível…
… Só que, esse jogo é o jogo que acusam frequentemente de Doki Doki ter plagiado. É uma história que conta com horror, tensão e muito, muito mais. Não posso e não quero falar muito, justamente para deixar essa leitura impactante para quem decidir dar uma chance. Ao contrário de Doki Doki, esse jogo cria significado por trás do horror. Não é simplesmente uma ideia criativa. Até as cenas de sexo são 100% importantes e bem encaixadas, e recomendo que você compre o patch (no site da publicadora) para tirar a censura.
O problema principal de Totono é o fato que ele brinca muito com clichês do gênero e as expectativas do jogador. Ler algo mais básico como Katawa Shoujo ou CLANNAD pode te dar mais conhecimento sobre o que esse jogo quer comentar. O fato de não ser traduzido e ser bem caro também podem ser grandes problemas. Ainda assim, acho que é uma ótima opção para começar e creio que a maioria dos iniciantes não ficarão desconfortáveis aqui.
Gênero: Slice of life, ficção científica, mecha, horror, ação, ficção política, romance, drama militarEmpresa: âgePreço: Muv-Luv Extra e Unlimited: 57,99 reais | Muv Luv Alternative: 75,49 reais (ENTRAM EM BOAS PROMOÇÕES FREQUENTEMENTE)Escritor: Kouki Yoshimune, Hayato Tashiro, Matsunaga HokutoTem em português? NãoDuração média: 80~90 horas
Muv-Luv é um clássico. É a principal inspiração do mangá Shingeki no Kyoujin e também é provavelmente a visual novel mais aclamada da história, carregando o ranking número #1 no agregador VNDB e uma colocação alta no ErogameScape. E olha, qualquer um dos 3 jogos da trilogia (Extra, Unlimited e Alternative) é um atestado de qualidade e uma carta de amor à tudo que o gênero faz de certo.
Muv-Luv conta a história de Shirogane Takeru, um estudante comum que tem a vida virada de cabeça para baixo após acordar com uma garota estranha em sua cama (é sério). Essa garota é Mitsurugi Meiya, uma menina rica mas total afastada da realidade suburbana do protagonista, que acaba causando situações bizarras e embaraçosas com toda a sua falta de noção e excesso de dinheiro. Com isso, a amiga de infância, Kagami Sumika, acaba ficando desconfortável e assim se começa uma competição pelo coração do nosso protagonista.
Clichê, né? O jogo sabe disso, e se ironiza a todo momento, o humor é um forte absurdo. Me lembrando exageros de desenhos ocidentais como Bob Esponja, Muv-Luv cria situações absurdas e engraçadas, com personagens memoráveis e referências estúpidas à mangás e animes clássicos. E isso é só o primeiro jogo, Muv-Luv Extra. Um spoiler que hoje em dia não é tão spoiler considerando o marketing é que o segundo jogo, Muv-Luv Unlimited, começa a agregar elementos de mecha e ficção científica e o tom da narrativa muda totalmente. Fica mais próximo de Berserk do que de Yotsuba, e isso tudo chega à um ápice no último jogo da trilogia, Muv-Luv Alternative.
Muv-Luv provavelmente tem um dos universos mais bem construídos das visual novels e a ficção científica é de tirar o fôlego, muito bem pensada e detalhada, complementada por ficção política de qualidade. É impossível não se emocionar com a montanha russa que essa franquia é, especialmente em Alternative. Abordando temas sérios como os riscos e benefícios do nacionalismo, traumas de guerra e a questão do idealismo, a história inicialmente simples de Shirogane Takeru vira uma saga de perseverança e amor perante situações impossíveis.
Apesar do preço salgado (que felizmente fica bem mais baixo em promoções) e do fato de ser longo, acho que Muv-Luv – exceto se a pessoa não gostar de slice of life tanto por conta do seu começo – é uma exceção e é difícil ser cansativo. Muv-Luv te ensina o que uma boa visual novel é, tanto no sentido tradicional: com personagens memoráveis e garotas interessantes para escolher, quanto em te apresentar uma história madura, interessante, que vai te marcar. É uma aula e uma carta de amor ao gênero.
As ressalvas infelizmente incluem gigantes momentos de exposição cansativos – que ainda são repetidos no terceiro jogo por ter saído muitos anos depois do lançamento dos dois primeiros jogos – e o fato que demora muito para chegar na parte mais madura da história. E claro, seu tamanho imenso. O fato de não ter em português também pode incomodar, mas acho Muv-Luv a opção que mais vai te deixar ciente do que o meio das novels é capaz num geral. É a visual novel mais visual novel da lista, e a qualidade da experiência final é tão grande que estou disposto à indicar MUITO, por representar muito bem a sua mídia.
Tem até cenas animadas e é um dos jogos mais visualmente polidos da lista. Não se engane pelos sprites que parecem datadinhos, veja um vídeo e olhe o quanto de polimento tem em relação à VN padrão. Lembrando que é dividido em dois jogos na Steam: Muv-Luv (que inclui o Extra e o Unlimited) e Muv-Luv Alternative. Leia na ordem que dispus os jogos aqui.
Gênero: Slice of life, mistério, horror psicológicoEmpresa: 07th ExpansionPreço: 98 reais (Entra em ótimas promoções, paguei menos de 50 tudo)Escritor: Ryukishi07Tem em português? Sim (parcial, mas constantemente atualizado)Duração média: 80~100 horas
Apesar do horrível anime que por algum motivo tem uma massa imensa de fãs, Higurashi começou nas visual novels e é uma viagem emocional incrível, que conquista cada vez mais fãs. Unindo uma história simples e divertida de slice of life com uma crescente espiral de horror e mistério, parece uma junção perfeita de Twin Peaks e Turma da Mônica. É sério, e eu atesto facilmente que Higurashi é uma das minhas experiências favoritas no gênero.
Higurashi conta a história de Keiichi Maebara, um moleque travesso que acabou de se mudar para a cidade pequena de Hinamizawa. Enquanto conhece e se diverte com seu grupo novo de amigos, acaba aos poucos tendo contato com o folclore e as lendas dessa cidadezinha. O que começa como um grupo de amigos se divertindo em uma cidade tranquila vira uma narrativa gigante sobre assassinatos e desconfianças.
Apesar da corda inicial de Higurashi ser o mistério e descobrir a verdade por trás dos crimes, sinto que Higurashi é uma obra excêntrica. A parte slice of life é tão importante quanto a parte de horror, e cada personagem ficará anos e anos na sua memória. Conhecer mais sobre a cidade, sobre as pessoas que moram lá e as tradições é parte do apelo principal da narrativa. Junte isso com o modo poderoso e sincero que o autor comunica seus temas, e você entenderá o porquê Higurashi é tão amado. Claro, a prosa do Ryukishi pode não ser sempre das melhores e o começo provavelmente vai torturar aqueles que não gostam de slice of life, mas é difícil discordar: é uma experiência apaixonante.
Talvez a solução do mistério em si não me agrade tanto, mas outro ponto positivo absurdo é que depois dessa, você estará mais que pronto para ler Umineko When They Cry (100% traduzida), sua sequência, uma das melhores visual novels de todos os tempos e que tem algumas ligações com essa narrativa. Nippah!
(Lembrando que ler Higurashi não é obrigatório para Umineko, mas o começo de Umineko é infame de cansativo. Higurashi é a melhor introdução possível para os trabalhos da 07th Expansion.)
Gênero: Slice of life, ficção científica, mistério, romanceEmpresa: Nitro+ e 5pbPreço: 57, 99 (Entra em boas promoções)Escritor: Naotaka Hayashi, Vio Shimokura, Ouka TanizakiTem em português? SimDuração média: 30~50 horas
O anime de Steins;Gate é ótimo, mas o formato mais completo da história é apenas disponível no formato de visual novel. A esse ponto, Steins;Gate é um clássico moderno e talvez o jogo mais lembrado da Nitro+. Uma história que não apenas é admirada por fãs de visual novels e animes, mas também por aficionados de ficção científica no mundo todo.
Steins;Gate conta a história de Rintaro Okabe, um cara meio louco, mas bem viciado em ciência como conceito. Ele é dono de um “laboratório” (na real é só uma desculpa para reunir seus amigos) chamado de Future Gadgets Lab. Morando basicamente como um otaku típico de Akihabara (bairro famoso por ser um centro cultural da cultura pop japonesa), acaba conhecendo personagens como Makise Kurisu, uma renomada cientista e Itaru Hashida, um habilidoso mas preguiçoso hacker. Eventualmente, a narrativa amigável se transforma uma história emocionante sobre viagem no tempo e evitar uma tragédia imensa.
É uma história redondinha, com personagens incríveis e arte maravilhosa. Tem até um remake, Steins;Gate Elite, que conta com arte do anime. Qual a melhor versão? Eu prefiro a original, mas as duas são válidas. A única ressalva que tenho é a questão do começo lento, cheio de slice of life. Ainda assim, não acho que ele puxa tanto da sua paciência e é uma experiência que vale a pena demais. Altamente recomendado.
Gênero: Drama, mistérioEmpresa: NovectactlePreço: 45,99 (Entra em boas promoções)Escritor: Keika HanadaTem em português? NãoDuração média: 30~40 horas
Apesar de não ter feito tanto sucesso no oriente, The House In Fata Morgana foi um sucesso absoluto aqui no ocidente. Parcialmente, um dos principais motivos é a sua rica e bela prosa, seu estilo derivativo de clássicos ocidentais e o quanto ele consegue comunicar bem com a nossa cultura. Outro clássico moderno, é uma experiência extremamente aclamada, provando o potencial que a Novectactle tem no mercado.
The House in Fata Morgana começa com uma premissa simples. Acordando em uma mansão estranha, o protagonista é conduzido por uma empregada misteriosa por essa mansão. Aos poucos, para auxiliar ele a se lembrar de sua identidade, ela conta as narrativas dos antigos moradores. Trazendo uma narrativa melancólica e emocionante, é um jogo que se aproveita totalmente do seu meio audiovisual, trazendo uma trilha sonora absurdamente boa (que é cantada em português, inclusive!) e arte belíssima.
A maior ressalva com certeza é a ausência de uma tradução em português, mas eu penso que daqui a pouco aparecerá um projeto de tradução. A fama desse jogo só aumenta, e apesar da sua linguagem complicada, com certeza é uma opção familiar ao que já gostamos na literatura ocidental. A atmosfera dessa novel é surreal, não tem comparação, é um ASMR jogável.
Gênero: Slice of life, romance, dramaEmpresa: Four Leaf StudiosPreço: GrátisEscritor: Anonymous22, Aura, Suriko, TheHivemind, cpl_crudTem em português? SimDuração média: 20~30 horas
Katawa Shoujo, junto com Doki Doki e Yume Miru Kusuri, é um dos maiores responsáveis pela popularização do gênero no ocidente. Feito por usuários do fórum anônimo 4chan e disponibilizado grátis, sua simplicidade e charme tornam essa experiência perfeita para introduzir alguém ao nicho.
Katawa Shoujo conta a história de Hisao Nakai, um jovem que acaba desenvolvendo um problema cardíaco. Com isso, acaba sendo transferido para uma escola para estudantes com necessidades especiais. Conhecendo novos amigos, as rotas são definidas por qual garota você decide conquistar. Cada garota tem uma deficiência diferente e traumas, dificuldades que passaram e são exploradas com a progressão narrativa.
Apesar de básica, não conta com o problema de Dramatical Murder, daquela sensação de necessitar de uma sequência para explorar os conceitos melhor. Tudo é estruturado com a ideia que o jogo seria contido e simples, e ele entrega tudo que promete. As cenas sexuais são opcionais e não mudam nada na narrativa.
Não é uma narrativa particularmente profunda ou que vai mudar a sua vida, mas é tradicional e boa, entregando o arroz com feijão do modo que mais vai te fazer entender o gênero e te introduzir muito bem. Depois dessa, com certeza estará mais preparado para ler algo que demande mais da sua paciência ou interpretação, como Umineko, Dies Irae ou Subarashiki Hibi.
Conhecendo a tendência inata da comunidade de visual novels de se elitizar, mesmo que seja com livrinhos digitais majoritariamente feitos para apreciação sexual (vulgo punheta), me vejo em obrigação de concluir aqui que nada que eu disse é regra. Honestamente: visual novel é uma mídia, e não um gênero de videogames. Encontre algo que a premissa te agrade e leia! Mesmo coisas não muito indicadas para iniciantes, como Subarashiki Hibi podem agradar o leitor que começou, desde que ele se interesse nos temas.
Aproveite essa nova mídia e o fato que a localização de obras está constante! Fique feliz que agora temos jogos até na Steam, e que esse gênero está conquistando cada vez mais espaço na mídia e no público. Ainda assim, espero que minhas indicações te ajude a encontrar algo que você aproveite! Mon Panache!