Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge
Life is Strange é uma franquia que eu sempre gostei com algumas ressalvas. Eu gosto dos personagens em geral e todos os jogos tem momentos genuinamente bons, mas outros bem esquisitos. Aliás, um aspecto que a franquia foi melhorando com o tempo é a escrita. Nos primeiros capítulos do primeiro Life Is Strange, eu tinha a impressão de que quem estava escrevendo não entendia como adolescente falava e forçava a barra demais, mas com o passar dos capítulos, tudo foi melhorando.
Life is Strange True Colors é o jogo mais recente da franquia. Desenvolvido pela Deck Nine, responsável pelo Before the Storm, spin off focado na Chloe, personagem do primeiro jogo. Apesar de ter diversas ressalvas com a narrativa de Before the Storm, eu acho a forma que escreveram a Chloe no jogo genuinamente melhor do que a do jogo anterior. Por esse histórico, fiquei com expectativas um tanto altas com True Colors
Em partes sim, eu terminei num saldo bem positivo. Por mais que “O poder da empatia” tenha sido motivo de piada pra muitos depois dos trailers, acho que é o poder mais interessante da franquia. É um poder que apresenta claras desvantagens e a dinâmica ao redor do jogo é sobre ressignifica-lo.
Alex Chen, a protagonista do jogo tem o poder de ler e absorver emoções. É algo parecido com ler mentes, mas ativado apenas quando a pessoa sente algo relativamente forte. Além de entender o que a pessoa sente, ela ouve na cabeça a razão para tais sentimentos. Alex muitas vezes absorve esses sentimentos pra si, e quando ela pega emoções fortes demais ela toma totalmente como suas, gerando consequências. Se houver uma briga feia entre duas pessoas e uma estiver muito violenta, só dela estar naquele local pode ser levada a agredir pessoas ao redor. Alex começa o jogo vendo seus poderes como maldição, e deseja evita-los a todo custo.
Alex Chen, como dito anteriormente, tem poderes sobrenaturais. A garota cresceu num orfanato depois de ser separada de sua família pelo conselho tutelar. O jogo já mostra de cara que ela encara o orfanato como um inferno, ela não se da bem com as pessoas de lá e não se sente pertencente a um lugar. Isso muda quando seu irmão mais velho, Gabe Chen consegue contatá-la e a chama para morar com ele ao completar a maior idade. Inclusive um detalhe interessante é que pela primeira vez na franquia temos uma protagonista maior de idade. Alex ainda é jovem e está se descobrindo, mas seus dramas não são os de uma vida adolescente e o jogo é um tanto mais maduro.
Ao chegar em Haven, cidade em que seu irmão mora, Alex é extremamente bem recebida. Boa parte do primeiro capítulo apresenta muito bem os personagens e como eles estão dispostos a acolher a nova moradora da cidade. Haven é uma daquelas cidades pequenas onde todo mundo conhece todo mundo. Existe um senso de comunidade muito forte entre os moradores, que amam o Gabe e estão prontos para amar sua irmã. O clima da cidade é bem legal, claro, há personagens que não lhe recebem bem, mas estão em minoria. Mas como a vida é cheia de desgraças, seu irmão morre num suposto acidente e Alex se sente na obrigação de investigar a fundo o ocorrido.
É ai onde entra seus poderes. Com o poder da empatia e fofoca, Alex vai interagir com os moradores da cidade e descobrir vários aspectos deles. Existe uma discussão sobre o quão invasivo é usar seus poderes, mas infelizmente ela é um tanto rasa.
O que Alex faz e fala para as pessoas geram emoções por parte delas, e as vezes você quer usar propositalmente um sentimento pra tirar uma informação. As vezes você pode sem querer fazer uma pessoa sentir algo que você não esperava ou ao tentar se envolver emocionalmente com as pessoas não conseguir ajudar. Como todos os jogos da série, aqui há várias escolhas que podem gerar consequências no futuro.
Apesar de eu ter jogado apenas uma vez, senti que no final minhas escolhas importaram e o que eu fiz foi recompensado no final. A impressão que tive é que o último capitulo é um grande resultado de várias ações suas.
Além de interagir com os moradores de Haven, o jogo tem algumas coisas extras para dar uma variada no ritmo. Em um capítulo em específico o jogo rapidamente vira um RPG por turno, você também pode jogar Arkanoid e Mine Haunt (jogo criado para o próprio game). São coisas simples mas que dão uma boa variada, especialmente porque o jogo tem um escopo pequeno e se passa quase que inteiro numa parte da cidade.
O jogo num geral funciona muito bem, mas da pra ver que ele tem um orçamento técnico limitado. Arrisco dizer que Life is Strange 2 era mais bonito tecnicamente, inclusive. Me deparei com alguns bugs no jogo, como T-pose em momentos inapropriados e algumas falas que perderam a qualidade de som de repente, mas foi bem raro.
E bem, o jogo é uma historia brega que funciona na maior parte das vezes, mas quando não funciona é bem ruim. Apesar de ter gostado do final do jogo, no caminho dele há um plot twist bem ruim e forçado. Também sinto que em alguns momentos o jogo deveria tomar mais tempo para certas relações e eventos parecerem mais críveis. Não que os personagens sejam ruins, mas há momentos que soam muito rasos e mal desenvolvidos. Felizmente os momentos ruins do jogo estão mais para exceção e não como regras.
No fim, esse jogo é exatamente o que Life is Strange sempre foi, um drama pessoal um tanto brega que aborda diversas questões sociais no caminho. O jogo está melhor escrito e mais genuíno que alguns títulos anteriores, então se você desgostou de alguns aspectos dos jogos anteriores mas saiu positivo, vale dar uma chance para este.
Life Is Strange True Colors
Square Enix
Deck Nine
PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X