Metroid Dread é o jogo do ano de 2021 para Felipe Lins

Por Colaborador

Todo ano eu costumo dizer que o meu jogo do ano que eu joguei naquele ano não é daquele ano. Não é à toa. Assim como o arrombado do Frost51, eu tenho tanto fucking jogo pra jogar que… por que MESMO que vou pagar 300 reais em lançamentos, se no futuro os jogos tendem a baratear? (Exceto Nintendo)

Entretanto, graças ao trabalho de jornalismo e assessoria que venho desempenhando desde 2020, bem como alguns indies tem estado tão acessíveis e vale tanto a pena apoiá-los, sem falar do maravilhoso Game Pass, que garante lançamentos disponíveis pros assinantes no dia 1, aqui e acolá tem sido possível jogar jogos novos, lançados no ano. 2021 foi bastante frutífero nesse âmbito, deu pra jogar pelo menos uns 10 jogos lançados neste ano, e poderia ter sido mais, mas como falei, minha preferência são jogos antigos, já barateados com o tempo.

Contudo, a convite do Game Lodge e com o desafio de falar do meu jogo do ano de 2021, lançado em 2021, selecionei o que mais gostei e curiosamente não é um indie, não é um jogo de Game Pass. Na realidade, até eu estou surpreso de ter como jogo do ano um jogo da Nintendo.

Por muito tempo, mais ou menos de março até outubro de 2021, um jogo reinou como meu favorito, e esse jogo era It Takes Two. Porém, eu não sou multiplayer, eu sou singleplayer majoritariamente, então a ideia de um jogo que literalmente exige duas pessoas (sem trocadilhos) pra jogar não conseguiu se sustentar, especialmente após eu jogar aquele que veio a roubar a cena.

Meu perfil passa longe, mas muito longe de AAAs. A maioria dos jogos que eu jogo não são grandes produções tanto por eu ter uma predileção por experiências mais curtas e condensadas, como também por conta da criatividade, que frequentemente é cerceada nesse “nicho” por causa da aversão ao risco que eles enfrentam.

Mas quando tenho uma conexão preferencial com um estilo de jogo ou gênero, somado com a carga histórica de uma franquia lendária que eu acompanho há anos, fica difícil não curtir a experiência. Existem exceções, claro. Apesar de fã de adventures japoneses, tanto The Great Ace Attorney quanto Famicom Detective Club não conseguiram destronar It Takes Two que é muito, mas muito fantástica.

Entra então em outubro Dread, o 5º jogo da franquia Metroid sidescrolling, modelo que estava abandonado até então desde o Fusion, no GBA, lançado há 20 anos. Sendo fã de metroidvanias, inevitável que eu não quisesse MUITO jogar a nova incursão da Big N nesse modelo que fora até então substituído pela fórmula da série Prime.

Pra ser ultra sincero, não me apaixonei por Metroid Prime. Eu gostei de algumas ideias, mas infelizmente a transição para o 3D não conseguiu me encantar como o sidescroller me encanta até hoje e, infelizmente, nunca consegui manter a empolgação e acabei abandonando a franquia há anos. Não dá pra descrever a minha felicidade quando naquela bendita Direct a Nintendo anunciou que Metroid 5 estava em produção.

No dia eu pensei imediatamente: “Ué, nem saiu o Prime 4 ainda e já tão produzindo o 5? Como assim?”. Entretanto esse pensamento foi EXPLODIDO logo em seguida quando a Nintendo esclareceu que Metroid 5 era o sucessor de Metroid Fusion e não de Metroid Prime 4. Eu quase caí da cadeira de felicidade em ver o gameplay que a Mercury Steam exibiu no remake de Metroid 2 retornando para um novo capítulo sidescroller da franquia, maior e melhor que o antecessor.

Pra tentar ilustrar, eu estive em live jogando Metroid Dread de cabo a rabo. Foram mais de 15 horas de exploração, tentativa e erro, conquistando power-ups secretos e fazendo 100% do jogo. Vou te falar, fazia tempo que eu não me animava pra completar um jogo 100%. Nem mesmo Super Metroid e Metroid Fusion conseguiram esse feito, sempre fiquei um pouco cansado do jogo e acabei só finalizando mesmo. Acho que isso deve dizer muito tanto sobre mim quanto sobre o jogo.

Metroid Dread me trouxe a perfeita e mesma sensação que eu tive com Super Metroid, sendo bem sincero. Óbvio, Super hoje carrega 27 anos nas costas. Esse peso se traduz em seus controles com uma menor liberdade de movimento, animações mais simples em sprites 2D, e sons mais “guturais” por assim dizer, em referência aos sons produzidos “ao vivo” pelo chip de som do Super Nintendo.

Dread exibe seus belos gráficos em 3D com efeitos e partículas bonitas. Você já viu jogos mais bonitos, eu já vi jogos mais bonitos, mas isso não é demérito pra Metroid Dread, ele é bonito por suas próprias qualidades. Talvez não se iguale com a beleza de It Takes Two, falando de fantasias não realistas, ou de jogos com temática espacial com elementos de terror com texturas e ambientação de encher os olhos mais modernos.

A beleza visual é acompanhada pela bela trilha sonora que carrega o DNA da série, além de um gameplay refinado, contemporâneo, com uso intenso do dinamismo permitido pela modelagem 3D em contraste ao padrão de movimentação em duas dimensões do sidescroller.

É fácil, apesar de tudo, apontar defeitos no jogo. Os trechos de Stealth não são tão interessantes, pelo contrário, acaba sendo muito efetivo usar a furtividade pontualmente e abusar do próprio level design para focar na grande estrela do título, que é a ação.

E é nos pontos fortes do design que Dread brilha, e brilha forte. Esse brilho se ofusca para aqueles jogadores que não curtem tanto a linearidade e querem mais liberdade de exploração. Mas pra quem segue o caminho “sugerido” e por vezes tangenciado do level design sem muito estresse com os bloqueios pontuais que os designers impõem, Dread faz uma alternância genial de momentos fechados e abertos.

Em certos trechos, o nível é bloqueado em pontos específicos e afunilado para que você não se perca, ainda que haja uma certa liberdade dentro desse funil. É muito satisfatório você jogar um jogo que te passa a sensação constante de “caceta, fiquei preso nesse setor” em um momento pra depois te conferir a sensação de liberdade reconquistada, te dando a “permissão” para voltar a explorar o mapa geral.

Existe mais uma porção de minúcias, afinal, um jogo de uma série franqueada que já existe há décadas e se sustenta em uma fórmula que criou um subgênero não sobrevive sem iterações minuciosas em cima do modelo que o tornou famoso. Mais do mesmo seria medíocre para Metroid, e com certeza Dread não é mais do mesmo.

Eu não vou conseguir te prender, leitor, pelo tempo necessário para explorar todas as minúcias que tornam Dread tão gostoso nem seus soluços que dão uma freada na experiência. Tampouco conseguiria abordar tudo, pois cada jogador percebe e valoriza detalhes diferentes.

O que eu posso, afinal de contas, é reforçar meu enaltecimento a esse que é meu jogo do ano, e convidar você que ainda não deu uma chance a experimentar um dos melhores jogos da franquia, sem dúvidas.

Escrito por Felipe Lins, do Podcast Memória RAMdom.