Neo The World Ends With You é meu sonho adolescente. Dos 14 anos até os 18 o primeiro The World Ends With You foi meu um dos meus jogos favoritos e mais importantes pessoalmente. O motivo principal para o jogo significar tanto foi sua narrativa, a historia de um adolescente antissocial aprendendo a lidar com pessoas e se abrir mais pro mundo ressoou muito comigo. Além de sua história, achava a gameplay encantadora. Até hoje considero o jogo que melhor usou as funções do Nintendo DS, tanto que os ports seguintes não funcionaram tão bem.
Quando anunciaram Neo The World Ends With You tive um sentimento misto de empolgação e receio. Eu com certeza iria jogar por ser a continuação que esperei a mais de dez anos, mas tinha medo do jogo não ressoar mais comigo ou a continuação não entender tão bem o que fazia a obra original tão especial.
Neo The World Ends With You conta a historia de Rindo, um garoto que passa seus dias passeando por Shibuya até acabar preso numa “Shibuya paralela” e sendo forçado a participar de um jogo de vida ou morte, o Reaper’s Game. As regras do Reaper’s game está um pouco diferente nesse jogo, agora as dinâmicas são de times se enfrentando em diversos tipos de missões diferentes valendo pontuações, e o time que receber menos ponto será apagado da existência. Apesar da premissa soar um Battle Royale, o jogo está longe de ser isso. As pessoas de diferentes times constantemente se ajudam e (quase) todo mundo se dão relativamente bem com outros oponentes, pois no fim de tudo o objetivo é o mesmo: sair do jogo.
A função de times diferentes funciona muito pra representar tribos urbanas, você tem um time mais aficionada por moda e certos tipos de roupa, times de pessoas numa vibe mais artísticas, nerds etc. São pessoas que representam a grande diversidade de Shibuya, que é o maior personagem dessa história.
O jogo tem claramente um escopo limitado, mas eles conseguem dar tanta personalidade pro bairro que a quantidade cenários limitados não incomodam. Em pouco tempo você já vai ter andado por toda Shibuya e vai revisitar a mesma área várias e várias vezes. Mas conhecer Shibuya de cabo a rabo e já ter tudo decorado é exatamente o que o jogo quer passar. Você ganha bônus nos atributos ao usar roupas de uma mesma marca e algumas marcas são mais fortes em certas partes, o que faz com que vê tenha uma noção grande nos equipamentos e localização das lojas. Ao comer, seus status aumentam e podem aumentar mais se for comida que certo personagem gosta mais, o que faz você frequentemente visitar certos restaurantes e lanchonetes da cidade. Cada lojinha e cada marca tem uma personalidade forte, ao ponto que você olha para um personagem e já consegue saber qual a marca da roupa que ele está usando.
Mais do que qualquer coisa, Neo The World Ends With You é sobre o bairro de Shibuya e o que faz um bairro comercial ser tão importante para as pessoas que o frequentam. O jogo é menos introspectivo que o anterior, e isso é uma mudança muito bem vinda. Você vai ser apresentado a muitos personagens ao longo do jogo, e a maioria deles terá alguma coisa marcante que fará o ambiente do jogo parecer vivo, mesmo que algo pequeno. O jogo se sustenta bem como uma história única, mas tem MUITOS comebacks do primeiro jogo que me deixaram extremamente animado.
A gameplay de Neo the World Ends With You é caótica, mas normalmente de um jeito bom. Ao longo do jogo você vai ganhar botons que poderão ser equipados em cada personagem da party, que representa um botão.
Existem diversos tipos de botons, uns que soltam fogo, outros de telecinese, outros que são golpes corpo a corpo, que materializam objetos, que lançam personagem ao inimigo etc.. Cada um desses botons ao serem equipados podem ser utilizados ao apertar de um botão, com cada personagem equipado com golpes diferentes você pode misturar as habilidades e criando combos, e o jogo incentiva a fazer isso num certo ritmo pois são golpes que tem cooldown (e o tempo de cooldown é diferente pra cada botom). É o tipo de jogo que quando você entende o que ta fazendo e faz combos certos elimina inimigos num piscar de olhos, mas se bobear pode acabar morrendo rápido também. Mais pra frente você ganha habilidade de equipar bottons do mesmo tipo em personagens diferentes, fazendo dois golpes de uma vez com um único botão, criando ainda mais possibilidades.
Eu amo demais a trilha sonora de Neo The World Ends With You. A trilha é cheio de música pop cantada e muitas músicas breguissimas, mas todas cheias de personalidade e que combinam MUITO com a ambientação do jogo. É um jogo sobre jovens se expressando, se descobrindo e vivendo num ambiente diverso, e é esse sentimento que a trilha constantemente passa.
De fato, a trilha sonora é um aspecto tão poderoso no jogo que em dado momento você ganha a habilidade de correr mais rápido se apertar um botão conforme o ritmo da música de fundo, adicionando uma batida a mais na trilha.
Além disso você pode trocar de dificuldade a qualquer momento, e os itens que monstros dropam em cada dificuldade são diferentes, te incentivando a transitar entre as dificuldades. Ao mesmo tempo que quem não é tão habilidoso consegue terminar o jogo todo no easy, o jogo constantemente te incentiva a tentar se desafiar sem necessariamente te travar. Também existe a opção de você diminuir o seu level pra ficar mais fraco nas lutas, que em contrapartida aumenta a drop rate de itens raros nas lutas, dando mais incentivo para se desafiar.
As últimas batalhas do jogo são um caos com MUITA coisa acontecendo na tela, e parte da graça da batalha é conseguir controlar um pouco esse caos.
Neo The World Ends With You é um jogo bem fora da caixa. A gameplay dele é bem diferente do que se está acostumado num Action RPG, a narrativa fala sobre pessoas de uma forma primorosa e empática, tocando em diversos temas de forma sensível e ao mesmo tempo leve. É uma pena que o marketing desse jogo foi completamente fraco e como consequência ele recebeu muito menos atenção do que deveria.
Neo The World Ends With You é um ótimo jogo e todos deveriam ter oportunidade de dar uma chance a ele.