Esse mês de Outubro vai fazer um ano que Red Dead Redemption 2 foi lançado. Nós um tempo depois de seu lançamento publicamos um texto sobre os tipos de relacionamentos abusivos no jogo, sobre a conexão complicada do protagonista, tanto com os personagens quanto com a vida no velho oeste. Esses pensamentos se mantiveram e hoje eu consigo pensar em ainda mais coisas a conversar sobre o jogo. Jogando o modo online diariamente, algo que ainda pode valer um texto aqui no Game Lodge, me peguei pensando e sentindo falta dos singelos e ótimos momentos do acampamento da campanha, algo simples, mas que talvez sejam um dos elementos mais marcantes dele.
Acampamentos são mais q hubs do jogo, eles são o motivo de tudo existir e uma miniatura do mundo do game no máximo de detalhes. Parte do que a Rockstar usava para vender a continuação de Red Dead Redemption era o fato do mundo parecer que realmente tinha uma vida própria, cada npc tinha uma rotina, e todo tipo de evento poderia acontecer sem que o jogador soubesse. Tudo isso, em escala menor porém com muito mais detalhes e um certo de força, acontece no acampamento.
O maior exemplo disso é a marcante festa de boas vindas a Sean, um dos integrantes do bando que começa preso e em pouco tempo é resgatado. Um evento que o jogador pode perder por completo, mas que é o primeiro grande ponto de criação com os personagens da gangue. É ali, bebendo cerveja e vendo os personagens se divertindo, cantando e dançando que nos é permitido conhecer seus jeitos e relacionamentos. É nesse momento, por exemplo, que se ficarmos tempo o suficiente, descobrimos da relação íntima de Sean e Karen, que sem nenhuma exposição, fortifica a força de eventos futuros do jogo.
O acampamento deixa bem claro que tem uma vida própria e parte disso é seu charme. É dessa maneira que ele obriga o jogador a sempre visitar, sempre se relacionar com os personagens e tentar estar sempre presente para ouvir suas histórias. Dessa maneira, fica mais fácil sentir estar vivendo o jogo, o fato de sempre visitar o acampamento, dormir lá e participar das interações sociais do ambiente dão não apenas vida e sentido ao mundo do protagonista, como conecta o jogador com aquele ambiente.
Mesmo que muitos não tenham gostado do jogo pela sua burocracia e lentidão, é graças a ela que o jogo funciona da maneira que funciona e o acampamento se encaixa nisso. Ter que andar lentamente na área, poder sentar e beber uma cerveja enquanto algum personagem conta história ou toca violão, tudo no seu próprio tempo, sem acelerar nem cortar animações dão vida ao jogo de maneira que poucos outros conseguiram. Óbviamente, para algumas pessoas isso pode ser visto como um defeito, mas é uma escolha arriscada da Rockstar para criar o produto que eles planejaram.
Red Dead Redemption 2 pode ter muitos defeitos, mas a ideia do acampamento e como ele funciona merecem muito mais valor do que foi dado na época. Não é apenas uma ideia ok, é uma ótima maneira de contar história na linguagem que só vídeo games permitem. Não é só sobre explorar e ler diário e textos, é sobre estar em grupo e ver como cada um se comporta e age com os outros do bando. Red Dead 2 consegue muito bem dar o sentimento de estar naquele mundo, e com certeza, sem os acampamentos e seus momentos, isso seria impossível.