Serious Sam 4: Uma viagem no tempo em FPS – Crítica

Escrito por Tiago Castro
Crítica

Croteam, juntamente à Devolver , nos traz de volta aquele tiroteio insano old-school em Serious Sam 4. Um game com dezenas de inimigos na tela ao mesmo tempo, armamento absurdo e frases de efeito.

Para quem não conhece muito a franquia Serious Sam, trata-se de uma série de jogos de tiro em primeira pessoa, com senso de humor caricato, combate com um número insano de inimigos, alta mobilidade, cores vivas, aliens e explosões a todo instante. O primeiro título da série já pode ser considerado um vovô do gênero FPS: sua estreia foi o game Serious Sam: The First Encounter, lançado no ano de 2000 (sim, 20 anos atrás). 

(Arte de capa do primeiro jogo da franquia, Serious Sam: First Encounter)

É interessante que mesmo depois de 20 anos a série mantém seus principais pontos-chave de gameplay – correr bastante, atirar e esquivar-se de projéteis inimigos. Não há coberturas ou saúde regenerativa, ou seja, se sobreviver com pouco pontos de vida a um determinado combate e não conseguir encontrar itens de cura, você estará com um sério problema. E é justamente por isso que em vários momentos (para o bem e para o mal), o jogo é uma verdadeira viagem no tempo.

A parte boa dessa viagem é justamente a gameplay frenética e explosiva que não te dá muito tempo para respirar. É um design quase retrô, que destaca a verdadeira essência de um shooter em primeira pessoa. Ele coloca o jogador para suar, realmente prestar atenção no ambiente, nos inimigos que estão atacando e a quantidade se que aproxima. 

Existe, por sinal, um inimigo que ficou bastante famoso na franquia, o kamikaze sem cabeça, ou headless kamikaze original em inglês, que dá o tom do que se trata o game – ação desenfreada com ritmo rápido, humor nonsense e uma quantidade considerável de gore.

(O famoso Kamikaze sem cabeça, inimigo emblema da série)

Falando em gore, observando a direção artística do jogo, não há novidades em relação aos títulos anteriores. Cores bem vivas, um design divertido que aposta, simultaneamente, no absurdo e no realista. Explico: enquanto vemos alienígenas de todos tamanhos e cores (inclusive um bizarro vampiro), as armas e munições, em sua maioria, a disposição segue um design sóbrio e simples. Os cenários também seguem a mesma lógica, nos colocando em cidades e localizações históricas e turísticas da Itália, Pompéia e Vaticano. Todos devidamente lotadas de aliens, seres humanos transformados e até dinossauros cibernéticos.

Desde o título anterior (Serious Sam 3), os produtores se preocuparam em introduzir um foco maior na história e no enredo do game, elaborando uma história principal com uma Lore própria. Por isso agora Sam conta com toda uma equipe que o ajuda na ofensiva contra as forças alienígenas que dominaram o planeta terra. 

Apesar de ser uma adição interessante na concepção do jogo em si, os personagens não são exatamente inspiradores nem possuem uma construção aprofundada – existem naquele universo apenas para servir de apoio à Sam, que por sua vez, não é um personagem nem um pouco interessante.

A respeito da gameplay, o jogo mantém firmemente as bases de um jogo Serious Sam – o tiroteio explosivo contra hordas de inimigos que surgem em ondas. Apesar do level design e dos mapas vastos  se empenharem em mascarar isso, o jogo é basicamente um arena shooter, que funciona da seguinte forma: você entra numa determinada área do mapa, os inimigos aparecem e só é possível prosseguir na missão uma vez que todos tenham sido eliminados. Enxágue e repita até terminar o jogo. Bastante simples, mas funciona para esse propósito.

As armas e equipamentos possuem um design bem detalhado e funcionam bem. Os efeitos sonoros são ótimos e conferem às armas um impacto saboroso e causam satisfatório colisão com os inimigos. Destaque para a shotgun de cano duplo, que tem potência o bastante para eliminar vários inimigos com um só tiro.

Dito isso, é possível também carregar uma arma em cada mão através de um novo sistema de pontos de skill. Muito simples, a novidade à série tem uma funcionalidade questionável. Talvez para conter um certo overpower e deixar que o jogo coloque certo ritmo no desenvolvimento do personagem, é possível ir seguindo caminhos diferentes e desbloquear habilidades para adequar o jogo ao gosto do jogador.

(A bizarrice dos inimigos que encontramos no decorrer do game)

Sem grande ambição por parte da Croteam ao criar ou transformar a essência de seu protagonista, Sam é o machão com armas grandes e muita munição, aquele arquétipo típico que nos acompanha desde a década de 1980 em filmes de ação: Rambo e derivados. Impossível não se lembrar de Duke Nukem, série que explodiu também na década de 90.

Apesar de funcionar bem pro propósito do jogo, a base temática não é nem de longe inovadora ou sequer busca se reinventar, o que é uma grande lástima. Existe espaço e ímpeto por parte da indústria para trazer e abrigar mudanças significativas nesse sentido.

A respeito das questões técnicas, a Croteam fez um trabalho, digamos, competente ainda que seja possível observar alguns pequenos bugs gráficos aqui ou ali – para citar alguns, a renderização de texturas e objetos pode deixar a desejar, o loading entre mapas é demorado e a projeção de sombras é insuficiente e um tanto falha. Dentre acertos e erros, em quesito técnico, o jogo parece funcionar de forma muito crua.

A interface porém, é simples, exibindo o suficiente para manter a gameplay fluída e ininterrupta. Os menus do jogo seguem o mesmo padrão, se atém ao necessário sem tentar enfeitar muito, de forma clara e objetiva dispõe as opções e configurações. É curioso que a Croteam se preocupa inclusive em manter a mesma fonte de textos

Serious Sam é, hoje, um bisavô da franquia de jogos FPS, resiste firmemente às tendências e moda dos jogos que aparecem e desaparecem dentro da indústria. É bastante fiel às suas origens de shooter da década de 90 e ostenta isso sem economizar. A concepção do jogo e seus pilares parecem ser moldados para emular e caracterizar tudo à moda “antiga”.

Por isso, o saudosismo de Serious Sam 4 funciona como uma faca de dois gumes: enquanto adiciona um tempero muito saboroso à receita, também exagera na dose de elementos que deveriam permanecer lá trás e seu estilo arcade realmente não é para qualquer um.

Dessa forma, é importante entender que Serious Sam 4 funciona melhor como uma homenagem à própria franquia e aos jogos de tiro do passado do que um passo para os jogos do futuro.

Serious Sam 4 está disponível para PC e Stadia.

Está crítica de Serious Sam 4 foi escrita com base em uma cópia cedida pela Devolver para o Game Lodge

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