Sony faz patente de mecânica de Death Stranding, fugindo de toda a ideia

Por Arthur Tayt-Sohn

Foi revelado essa semana que a Sony recebeu a patente da principal mecânica de Death Stranding, o multiplayer assíncrono. Como especificado na patente, ela permite “melhorar” o ambiente do jogo, mapeando as melhorias e rotas criadas pelos jogadores que primeiro atravessaram um determinado caminho, influenciando no gameplay dos demais jogadores, isso de forma resumida e sem muito tecnicismo.

O que importa é que essa mecânica permite que as construções e rotas de outros jogadores de Death Stranding influenciem no seu próprio jogo, permitindo que você utilize as escadas, cordas, estradas e demais construções. A ideia do jogo é promover um ambiente colaborativo entre os jogadores, que sem receber recompensas por isso, além de alguns likes e pontos, são incentivados a interferir positivamente no ambiente, facilitando a vida de todos.

Falando por experiência própria, nas minhas mais de 70 horas de jogo, uma considerável parte delas eu passei construindo estradas e planejando rotas para a construção de uma vasta rede de tirolesas, facilitando as minhas entregas e também as de outros jogadores.

Ao patentear essa mecânica, há uma distorção entre a proposta do jogo e sua mensagem. Ocorre uma dissonância ludo narrativa. Brincadeira, não é isso não.

Mas o que ocorre é que em uma decisão, muito provavelmente tomada por executivos descolados da realidade, a Sony aliena seu produto do seu objetivo. Toda a missão do jogo envolve reconstruir um país em torno de mutualismo, colaboração e compartilhamento de informações e dados.

Fica difícil comprar a ideia do jogo quando a sua Publisher impõe uma barreira que impede que outros desenvolvedores criem jogos utilizando ideias parecidas sem receber um oficial de justiça na porta com o famoso processinho.

É como se após ser obrigado a atravessar do leste ao oeste dos Estados Unidos, reconstruindo a Rede Quiral e convencendo as outras pessoas a fazer parte da comunidade da UCA, a Bridges resolvesse cobrar pedágio de todo mundo que utilizar sua rede ou suas construções.

A Sony ter a patente de Death Stranding, não é a primeira vez que uma mecânica de games é patenteada. Na realidade nem mesmo é uma novidade. A Namco patenteou o sistema de treinamento de Tekken que exibe na parte inferior da tela os comandos executados. Mais recentemente, a WB Games patenteou o sistema de Nêmesis dos jogos da franquia Middle-Earth, o que na época causou polêmica entre desenvolvedores de jogos.

Mas de forma inédita, a Sony tem aprovada uma patente que contradiz totalmente a mensagem passada pelo jogo que ela mesma publicou. Naturalmente que se tratando de uma empresa dentro da lógica do Capital, muitos argumentarão que seria um direito da empresa fazer isso.

Porém, dentro de recentes discussões sobre jogos como arte ou como meios de passar uma ideia, filosofia ou informação, vale a pena refletir sobre esse processo alienante do jogo como produto do jogo como objeto artístico, ou de entretenimento.

Porque é no mínimo irônico que um jogo que aborda justamente a necessidade de compartilhar informações e tecnologias, tenha sua principal mecânica patenteada. Qual será o próximo passo? NFT dos veículos do jogo?

É melhor eu não dar ideia…