Star Ocean: The Divine Force é um retorno morno a franquia

Por Jean Kei

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge

Star Ocean: The Divine Force é o sexto jogo principal da franquia Star Ocean. A série de RPG nunca teve a mesma fama que outras IPs da Square Enix, como Final Fantasy ou Dragon Quest, porém muitas pessoas guardam carinho com a franquia.

Contudo, minha relação com Star Ocean é um pouco esquisita. Joguei o primeiro jogo original do Super Nintendo quando criança e gostei muito, não muito tempo depois joguei o segundo título no PS1 e, mesmo sem ter terminado tive bastante apreço. Anos depois fui jogar o remake do primeiro no PSP e achei bem esquecível. Quando joguei a versão de Super Nintendo, considerava um dos melhores RPGs da época. Tempos depois joguei Star Ocean: The Last Hope e tive uma péssima experiência, e o quinto jogo da franquia não me animou nem um pouco.

Enfim, esse preâmbulo foi para dizer que Star Ocean foi uma franquia que tinha muito interesse na infância e foi morrendo ao longo dos anos, e que encarei o sexto jogo como uma “última chance” para ter o interesse reconquistado nessa franquia.

Assim sendo, encarei o jogo de braços abertos para o retorno a franquia e senti que recebi algo meio morno.

Pois, em partes, o jogo conseguiu fazer um bom retorno

Tecnicamente falando, The Divine Force é claramente um jogo com escopo menor e limitado, porém, competente. Se eu falar que não achei gostoso explorar o mundo do jogo, estaria mentindo.

Há dois elementos positivos que quero destacar: O sistema de batalha e a forma que se da a exploração.

O sistema de batalha é um Action RPG com uma gama de golpes variados, sendo que cada um custa uma quantia de AP, que é recuperada após um tempo sem atacar. Dessa forma, o combate te permite muitos combos desde que não abuse deles.

Para aproveitar bem, recomendo jogar o jogo em dificuldades mais altas, pois rapidamente ele fica trivial. É relativamente fácil fazer combos quebrados ou builds que te deixam forte muito cedo, porém, é algo que gosto de brincar com.

Laeticia, uma das protagonistas, tinha uma habilidade que diminuía muito sua defesa mas aumentava muito a XP do grupo. Ao me acostumar a jogar com pouca defesa e se focar em esquiva, acabei vendo que o fator recompensa era muito maior que o risco e usei mais habilidades como essa para ficar forte muito rápido.

Quanto a exploração, você tem pode pular e usar um robozinho chamado D.U.M.A para voar e planar. Tanto a estrada quanto as cidades tem diversos lugares que você pode alcançar de formas diferentes com essas mecânicas, fazendo o jogo ter uma exploração gostosa e um pequeno elemento de pegar coletáveis, pois ele te incentiva a caçar baús e itens que melhoram o D.U.M.A através da exploração.

Você também pode jogar um minigame de tabuleiro simples, porém divertido.

Nenhum desses pontos positivos são coisas excepcionais ou que dê um grande destaque no jogo, mas são coisas animadoras que me fizeram ficar entretido com o jogo.

Porém, o jogo tem vários outros aspectos que desanimam

Não percebi nenhum defeito particularmente grande no jogo, mas ele está abarrotado de pequenos problemas que, somando ao todo, me causam bastante desgosto.

A começar com a interface de usuário ruim, navegar pelos menus não é intuitivo. Tive dificuldade no começo para localizar algumas funções importantes, como onde gastar meus skill points pra ganhar novas habilidades. As fontes do jogo poderiam ter opções de acessibilidade para serem mais legiveis, pois o padrão são MUITO pequenas. Depois de algumas horas eu simplesmente desisti de ler a legenda do minimapa. As legendas do jogo em si não são tão pequenas, mas teve momentos que tive dificuldade de acompanhar.

Eu não gosto do level design de quase nenhuma dungeon do jogo. As poucas dungeons que não são genéricas não apresentam suas gimmicks de maneiras interessantes, e as vezes chegam a serem problemáticas ou não conversar com as limitações do próprio jogo. Exemplificando: tem uma dungeon onde algumas áreas tem um ar venenoso, ali, todos os personagens tomam dano, exceto uma personagem cujo é androide, logo, não precisa respirar o veneno. Como você não pode andar por essas áreas apenas com essa personagem, você é obrigado a tomar rotas alternativas para evitar o dano… Só que além de serem caminhos meio óbvios a serem tomados, diversas vezes os NPCs caiam na área venenosa por conta própria.

Estrutura problemática

Outra coisa que me causa estranheza é a estrutura da narrativa. No jogo, você pode escolher um dos dois protagonistas: Laeticia e Raymond e, por favor, escolha o Raymond. Esses dois protagonistas se encontram no começo e passam a maior parte do tempo juntos. A questão é: em alguns pontos, Raymond e Laeticia se separam, e você vai ver o ponto de vista do personagem escolhido no inicio.

Mas é muito estranho o fato de que, eu sinto que o jogo, mesmo sem falar nada disso, espera que sua primeira jogatina seja com Raymond. Digo isso porque a introdução de Raymond é muito mais clara. Eu joguei com Laeticia, e minha introdução foi meio brusca e quando percebi o jogo me jogou muitos nomes que não fazia ideia de quem eram. Recomecei com Raymond e introduziu os personagens que no ponto de vista da Laeticia, eram apenas nomes.

Tem outros segmentos importantes que me parecem mais mal trabalhados no ponto de vista de Laeticia, o que me incomodou bastante.

Mas sobre o que é a historia desse jogo?

Sobre a narrativa em si: O jogo se passa largamente num planeta “subdesenvolvido” no qual Laeticia é princesa. Ela está fazendo uma viagem para resolver assunto políticos até que um cometa cai. O cometa caído, na verdade, é uma nave de Ray, que acabou sendo atacado no espaço e parou neste planeta. Após Laeticia estranhamente confiar no extraterrestre, eles se juntam, pois Ray está procurando os tripulantes de sua nave e Laeticia queria mais um parceiro para facilitar sua viagem. O jogo é cheio de elementos de ficção cientifica e trama política, mas nada sai muito do básico.

Há um tema bem leve sobre colonização e preservação cultural, tocando no assunto de aliens com muita tecnologia influenciando naquele planetinha, mas nada aprofundado. É até estranho quando ele começa a por o pé nesses temas, porque num geral ele é um jogo bem inconsequente quanto a isso.

Mas meu maior problema com a trama do jogo, é o quanto ela é pouco criativa e não faz jus a franquia que claramente é a referência dele.

Mamãe, quero ser Tales of

É impossível não comparar Star Ocean com Tales of. Principalmente pela gameplay de ambos os jogos serem muito, muito parecidos. E ai é onde entra meu maior incomodo: O que Tales of faz de melhor, que é a escrita dos personagens, é completamente esquecível e raso aqui.

Em Tales of, seu grupo parece um grupo de fato, todos ali tem arcos narrativos e dinâmicas uns com os outros. Há personagens que claramente tem carinho maior por alguns, que tem desavenças e conflito com outros, e tudo isso, geralmente é muito bem trabalhado ao longo dos jogos. já Star Ocean: Divine Force começa com isso mas esquece de terminar ou dar tempo pra realmente desenvolver.

Enfim, os personagens de Star Ocean são esquecíveis

Não gosto de ficar comparando, mas quando a inspiração é clara e a parte mais importante do jogo é onde copiam pior, fica inevitável.

Há personagens no grupo que são jogados de escanteio e o grupo malemal interage entre si. Tales of possui uma mecânica chamada “esquetes”, que são diálogos opcionais entre  personagens do grupo. Esses dialogos opcionais enriquecem MUITO os personagens e fazem eles parecerem mais tradicionais. Em Star OceanDivine Force nós temos algo análogo a isso, que são conversas opcionais com um membro especifico do grupo dentro de cidades, e a maioria deles é meio sem graça.

Eu terminei o jogo sem sentir nenhuma conexão emocional com os personagens. Os protagonistas tinham seus momentos carismáticos, mas esses momentos eram exceção. Eu sinto que em poucos meses vou esquecer da maior parte dos arcos narrativos desse jogo, e grande parte disso é por não me importar com os personagens.

Star Ocean: The Divine Force é um jogo morno

O jogo teve seus momentos divertidos, a gameplay e a exploração dele não são ruins, mas nada disso é excepcional a ponto de me fazer deixar de lado seus problemas. Ele não é uma bomba como seu título anterior, e fãs de RPG num geral podem encontrar coisas de valor aqui. Eu recomendaria vários outros RPGs antes de jogar este, mas se você estiver curioso e não estiver esperando muita coisa, pode ser um bom jogo.

Eu sinceramente queria jogar um Star Ocean novo no qual me deixasse encantado, mas não foi dessa vez.

Nome do jogo:

Star Ocean: The Divine Force

Publisher:

Square Enix

Desenvolvedora:

tri-Ace

Plataformas Disponíveis:

PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X