Atualmente, um dos tipos de jogos que mais acho interessante testar, jogar e analisar em questão de Game Design, são os jogos VR. Ainda em crescimento e precisando de muita experimentação para entender possibilidades e o que funciona ou não nessse tipo de jogo, é sempre interessante entender onde acertaram ou erraram no desenvolvimento. Nessa investigação particular, ainda estou surpreso com o como The 7th Guest VR consegue exemplificar tão bem uma base do que precisa ser feito jogos de realidade virtual.
The 7th Guest VR é tudo o que eu já me decepcionei com jogos do tipo. Uma adaptação de um jogo já existente para computadores e focado em quebra cabeças. Não entenda mal, jogos de puzzles não são um problema, mas é muito comum que essas duas características venham juntas da falta de necessidade de ser um jogo em realidade virtual.
Muita das vezes são adaptações que não justificam. Usar um óculos VR é um custo mental e físico. A vista cansa, não dá pra jogar por tanto tempo sem ficar cansado e as vezes até dá dor de cabeça dependendo do jogo e tempo com o aparelho grudado no rosto, por isso, jogar algo que poderia ser “normal”, com mouse e teclado, é desanimador.
Um jogo em realidade virtual pode e precisa ter propriedades que funcionam da maneira tradicional, mas ganham vantagem por estar com o óculos. Ser mais imersivo e criar um bom clima, já ajudam um jogo a ser mais interessante, quando combinado com mecanicas feitas com VR em mente, defender a ideia de passar por todos os problemas de entrar em uma realidade virtual se tornam mais fáceis.
Para minha surpresa, a versão VR desse jogo de 1993, consegue acertar em todos esses pontos. Em segundos, já existe um clima excelente criado. Os puzzles não se bastam em apenas serem bem inteligentes, mas mesmo que com algumas falhas técnicas, idealmente são feitos com as possibilidades do VR em mente. Estamos falando de um ótimo jogo? Não consigo dizer, para ser sincero, não terminei e espero não terminar nem cedo, mas é um ótimo jogo para se entender a base do que precisamos mais em jogos VR.
Na primeira cena do jogo eu já entendi o que aquilo era, no segundo puzzle eu já tava feliz com o quanto acertaram. The 7th Guest é como se fosse um desses livros baratos e bem fininhos de investigação e horror infantil.
Eu nunca joguei a versão de PC, mas esse clima, de estar lendo algo do tipo é criado instantaneamente ao abrir o jogo, o menu com a mansão abandonada, o som de chuva que nos persegue por todo o jogo, até mesmo os fantasmas que nos direcionam pela narrativa, brilhantemente representados por filmagens em 3D de atores reais, trazem esse clima, essa necessária imersão para um jogo do tipo.
Chega a ser relaxante estar em um ambiente assim, mesmo que o mapa emule um tabuleirio de Ouija para selecionar opções e o fantasma de uma criança esteja te guiando e direcionando pelos caminhos que precisa seguir. É tudo infantil o suficiente para ser confortável e como os cenários são construidos ajudam muito a ter um bom resultado em VR.
Mesmo que o que fizeram em questão de criação de clima já fosse uma boa surpresa, o que me fez escrever esse texto foram os puzzles. A mistura perfeita de erros e acertos para comentar sobre jogos em realidade virtual.
Acho excelente como The 7th Guest VR usa de verticalidade, objetos em partes altas e baixas do cenário, algo que funcionaria em qualquer versão do jogo, mas com a visão em 360 graus se torna um ponto à mais em exploração. Ao mesmo tempo, pela falta de um menu de inventário ou algo do tipo, o jogo obriga o jogador a utilizar o cenário para guardar itens que serão usados no futuro próximo, algo que em realidade virtual criam ainda mais aquele sentimento necessário de que você realmente está ali.
Já nos puzzles, enquanto em alguns momentos o jogo obriga o jogador a usar as duas mãos, apertando botões simultaneamente, girando objetos com uma e interagindo em algo com outra, claramente existe uma tentativa de importar mecânicas que funcionam melhor com o mouse, ações simples, como arrastar objetos por um tabuleiro ou girar engrenagens. Mecânicas que funcionariam melhor com um mouse, mas ainda tentam se utilizar dos controles de realidade virtual. Alguns funcionam bem, outros nem tanto, mas claramente existe o entendimento do que precisa ser feito e só nisso, já se torna um grande exemplo a se seguir.
Como eu disse, não terminei e nem espero terminar The 7th Guest VR tão cedo, os custos de usar o óculos pesam e com pouco tempo aguentando no jogo, ele se transformou nesse livro para noites calmas. Eu não estou curioso com o grande plot, nem me importo com os personagens que estão ali, eu quero é vivenciar de pouco o clima gostoso do terror infantil que ele carrega, brincar com puzzles que se encaixam bem e só funcionam nessa realidade virtual e bem lentamente, ser surpreendido com alguma ideia inteligente no processo.
The 7th Guest VR não chega nem perto de ser perfeito, mas funciona onde tem que funcionar e muitos jogos do tipo falham. Uma ótima surpresa e um bom caso de estudo para entender os caminhos que precisamos seguir e os pontos que ainda temos que melhorar em jogos de realidade virtual, tudo isso em uma mansão abandonada e sem muita tentativa de impressionar.