Vengeful Guardian: Moonrider é divertido como assistir a TV Manchete depois da escola

Escrito por Arthur Tayt-Sohn
Crítica

A desenvolvedora brasileira JoyMasher vem se tornando uma grande referência em jogos arcade inspirados em clássicos. Com jogos como Oniken e Blazing Chrome em seu currículo, o estúdio vem agradando aqueles mais saudosistas por jogos retrô, além de fãs mais novos.

Publicado pela The Arcade Crew, Vengeful Guardian: Moonrider é seu mais novo título, inspirado em títulos como Hagane, Ninja Gaiden e Mega Man. Conto nesse review minha experiência com esse jogo que mescla clássico e moderno, além de tirar do baú de memórias referências de uma infância no Brasil dos anos 80 e 90.

O guardião vingativo

O jogo conta a história de Moonrider, um super soldado ninja criado como uma arma de um governo totalitário. Seu objetivo era ser uma ferramenta de opressão contra os opositores desse regime, inclusive civis indefesos.

Porém algo acontece e Moonrider passa a rejeitar as ordens de seus criadores. Agora com um novo objetivo, libertar o povo da opressão desse regime, o Guardião deve derrotar outros super soldados e pôr um fim a esse governo opressor.

Um clássico dos arcades

A estrutura do jogo é muito familiar para os que já conhecem jogos do gênero. Como mecânicas básicas, Moonrider conta com um ataque corpo a corpo, ataque especial, pulo e corrida. Durante um breve tutorial todas as mecânicas são explicadas de maneira simples.

O jogo não conta com muitas mecânicas e todas elas são bem padrão de jogos de ação e plataforma. Se você tiver experiência com esses jogos, ainda mais os retrô, não terá nenhuma dificuldade em aprender a jogar.

O que Moonrider tem de um pouco de diferente é um salto na parede, para alcançar lugares altos, e a possibilidade de encontrar e equipar chips, que podem fornecer melhorias para o personagem além de habilidades, como salto duplo e uma espada com alcance maior.

Assim como em Mega Man, o jogo é dividido em fases que contam com segmentos de combate e plataforma, além de um pouco de exploração onde podemos encontrar áreas secretas que dão recompensas como vidas e novos chips.

Além disso, temos subchefes e um chefe ao final de cada fase. Esses chefes dão novas habilidades ao Moonrider quando são derrotados, que permitem novos ataques especiais.

Diferente da franquia da Capcom, não existe uma ordem otimizada ou obrigatória de acordo com o ponto fraco de cada inimigo. Você pode escolher a ordem que desejar, sem problemas. Não é obrigatório ter uma arma específica para derrotar um dos chefes.

Isso pode ser bom ou ruim, dependendo da perspectiva de cada um. Bom no sentido de não exigir uma ordem pré-definida para conseguir avançar no jogo, ou seja, você não precisa ficar em uma tentativa e erro até encontrar a melhor ordem para vencer os chefes de acordo a sua arma e o ponto fraco do chefe da fase.

O lado ruim é que o jogo acaba tendo um problema de balanceamento, principalmente por conta do sistema de chips. Existem algumas armas especiais que acabei achando muito mais eficientes que outras, a ponto de praticamente “quebrar” o jogo. Principalmente quando o chefe utiliza algum ataque com animação longa que o mantém parado, um dos ataques especiais é especialmente efetivo contra eles.

Além disso, alguns chips eu achei extremamente fortes. O Sede de Sangue, por exemplo, recupera vida a cada inimigo derrotado. Isso acaba tirando boa parte do desafio e desestimulando um gerenciamento de risco, já que tomar dano não se torna um problema tão grande quando você pode recuperar vida quase que imediatamente depois.

Nesse aspecto o jogo pode ser um pouco frustrante para jogadores que buscam uma experiência mais hardcore, principalmente os que já estão acostumados com os clássicos retrô do gênero.

Mas é importante ressaltar que a noção de dificuldade é bastante subjetiva e varia de acordo com cada jogador.

Além do combate, o jogo conta com segmentos de plataforma, onde precisaremos realizar saltos precisos, desviar de obstáculos ou tiros, etc. Nesse aspecto o jogo é bastante variado e com isso as fases não são repetitivas.

Em uma fase, por exemplo, passaremos uma parte lutando contra inimigos mas ao mesmo tempo teremos que desviar dos tiros de um inimigo que fica ao fundo. Em outro estágio parte do combate acontece em uma moto.

Dessa forma o jogo vai apresentando diversas novas mecânicas ao longo da jornada, não deixando o jogador ficar em uma zona de conforto e jogar no modo automático. E ao final de cada fase devemos enfrentar um chefe que possui mecânicas próprias e formas diferentes de serem vencidos.

Ao final de cada fase também recebemos uma pontuação e uma classificação de E até S, parecido com o que vemos em Devil May Cry. Essa classificação leva em consideração o tempo que levamos para completar a fase, oferecendo um novo objetivo e desafio, que é completar o jogo no melhor tempo e classificação, abrindo oportunidade para a existência da modalidade do speedrun no jogo.

Moonrider então oferece uma jogabilidade bastante acessível, não adicionando camadas de complexidade desnecessárias, se mantendo fiel às raízes de clássicos do gênero. Isso resulta em um jogo de mecânicas simples mas bastante divertido. E caso você queira uma camada a mais de desafio, um dos chips que você encontra faz com que Moonrider morra com apenas um golpe.

Retrô mas moderno

Obviamente a direção artística chama muita atenção no jogo, assim como sua trilha sonora. Visualmente falando o jogo conta com uma estética retrô mas claro que utilizando tudo que a modernidade pode oferecer.

A pixel art é bastante detalhada e bem feita, o que traz ainda mais qualidade para a direção artística do jogo. Com referências futuristas e claras inspirações em séries tokutatsu e animes, como Kamen Rider, Cybercops e outros. Além disso é visível a inspiração no anime Genocyber, que lá nos anos 90 mostrava tripas e vísceras em pleno horário nobre da TV Manchete.

Isso resulta em personagens e chefes muito bonitos, com cada chefe sendo bastante único e cheio de personalidade. Mesmo os inimigos comuns contam com designs únicos e caprichados. Além disso, a JoyMasher teve o cuidado de criar animações de morte diferentes, com um leve toque de gore, deixando ainda mais explícita a sua inspiração em Genocyber.

Os cenários das fases também são muito bem trabalhados, com a direção artística oferecendo uma ambientação de acordo com a função daquela fase escolhida. A fase da Frota de Asura por exemplo conta com diversas aeronaves cheias de personalidade. A qualidade da arte de Moonrider já era algo esperado, visto que a desenvolvedora é bastante experiente com jogos retrô e dominam muito bem as suas referências.

A trilha sonora do jogo é fantástica e bastante marcante, com composições do gênero synthwave que conversam totalmente com a proposta do jogo, aquela pegada do futuro imaginado por pessoas dos anos 80 e 90.

As composições também mesclam outros estilos, com inspirações notáveis em música tradicional japonesa e batidas muito marcantes encontradas no trance. Quem assina a trilha sonora é o compositor Dominic Ninmark, que já tinha trabalhado anteriormente em Blazing Chrome e também em outros jogos como Mighty Goose.

Moonrider é bastante prazeroso de se ver e ouvir. A trilha sonora impactante e a direção de arte do jogo provam mais uma vez o quanto a JoyMasher é muito competente e caprichosa quando se trata de jogos retrô.

Se você é um saudosista dos anos 80 e 90, certamente irá se apaixonar por toda a apresentação visual e sonora do jogo.

Moonrider e o poder de desbloquear memórias

Como alguém que já passou dos seus 30 anos, é impossível não me identificar facilmente com as referências do jogo. É curioso que Moonrider tem um tipo diferente de brasilidade, daquelas que remetem ao Brasil dos anos 80 e 90 utilizando elementos que não fazem parte diretamente da nossa cultura.

Essas duas décadas foram marcadas pela enorme popularidade de séries e animações japonesas na TV aberta. A Rede Manchete foi um marco nesse aspecto e jogar Moonrider automaticamente me fez relembrar de quando eu chegava em casa da escola e devorava os tokusatsus e animes que passavam na emissora.

Isso já tinha sido feito anteriormente pela Behold Studios com Chroma Squad, inspirado no seriado Power Rangers, outro grande sucesso no Brasil. São jogos que conversam com um público que cresceu assistindo esses programas e dão uma gostosa sensação de nostalgia.

Naturalmente que os mais jovens vão aproveitar da mesma maneira, mas para os já não tão jovens há um sentimento um pouco mais especial de saudosismo, mas de forma positiva é claro.

Importante também ressaltar a qualidade e a maturidade dos desenvolvedores brasileiros, como a própria JoyMasher, que vem consolidando o Brasil como um país que produz bons jogos. Temos hoje desenvolvedores competentes e criativos que não se prendem as suas referências, apenas emulando o que já foi feito antes, mas conseguem pôr personalidade em seus jogos.

Vengeful Guardian: Moonrider é mais um importante capítulo na história do desenvolvimento de jogos no Brasil. E que nosso futuro seja cada vez melhor daqui pra frente.

Nome do jogo:

Vengeful Guardian: Moonrider

Publisher:

The Arcade Crew

Desenvolvedora:

JoyMasher

Plataformas Disponívies:

Playstation 4

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge