Crítica: Persona 3 Reload – Renascendo das Sombras

Escrito por Guilherme Santos
Crítica

O fato de Persona 3 Reload existir é algo extremamente fascinante, um dos rumores mais discutidos dos últimos anos, finalmente ganha vida em um remake visualmente caprichado e elegante, carregando consigo a alma e essência do original e mergulhando de cabeça na estética estonteante que a ATLUS faz de melhor.

Dentre os diversos jogos e spin-offs da série Shin Megami Tensei, Persona 3 é um dos que mais se destaca em ambientação e na sua temática sombria e contemplativa, entregando mensagens profundas que provocam o pensamento e a reflexão sobre a vida e a morte de uma maneira bem poética e calma.

Persona 3 Reload

É esse contraste que P3 traz em relação aos outros jogos da franquia que sempre me fascinou porém na hora de ir jogar eu sempre acabei conflitado pelas diferentes versões do jogo, com nenhuma delas sendo de fato a experiência “definitiva” do título.

Persona 3 Reload não está aqui para ser essa versão definitiva, ele não traz todos os conteúdos das outras versões (ao menos ainda), mas o remake busca algo a mais, dentre os novos atrativos, reformulações dos sistemas e também introduzir a um novo público essa história tão emocionante, além de ser um espetáculo visual e musical.

Contextualizando Persona 3 Reload

Com a popularização da série no ocidente após Persona 5 e seus eventuais spin-offs e novas versões, surgia-se a vontade de ver outros jogos da franquia receberem esse tratamento visual e dinâmico que ganhou os olhos do público. 

Persona mais e mais começou a ser mais acessível com Persona 4 Golden saindo do PS Vita após quase 10 anos e o próprio Persona 5 saindo para várias outras plataformas. Porém, Persona 3 sempre ficou em um limbo meio estranho, com suas duas versões, tanto FES e Portable, cada uma com suas qualificações, mas nunca tinha um consenso geral de qual versão é a melhor.

Persona 3 Reload

E por mais que P3P tenha eventualmente saído para as plataformas atuais, ainda tinha aquele sentimento de que eles poderiam fazer algo a mais, e o público já constantemente clamava por um eventual remake de Persona 3, e depois de muitos vazamentos, o jogo se provou real.

Persona 3 Reload está aqui para ser uma grande repaginada na obra, com um frescor e cara nova, introduzindo essa história a uma nova geração de fãs.

A lua cheia de Persona 3 Reload

Logo de início somos apresentados ao mundo sombrio e assustador de Persona 3, quando em seus minutos iniciais o grande conceito do jogo, a Hora Sombria, se faz presente. Um período do tempo escondido durante a meia noite, onde todos inocentemente dormem em seus caixões e monstros chamados de Sombras se aproveitam dos indefesos, e Tartarus, uma torre misteriosa constantemente denomina sua presença em todas as noites.

A história se dá início em 2009 quando o protagonista é transferido para o dormitório Iwatodai, a fim de começar o seu ano letivo no colégio Gekkoukan na fictícia ilha de Tatsumi Port. Durante um incidente as coisas tomam uma virada para o sobrenatural quando ao disparar contra sua própria cabeça, o protagonista desperta o poder das Personas, manifestações físicas do nosso subconsciente que auxiliam no combate e extermínio contra as Sombras.

Concordando-se a se juntar ao grupo S.E.E.S (Setor Especializado em Execução Supracurricular), nos responsabilizamos pelas vidas daqueles que sofrem sem defesa das Sombras e adentramos a Tartarus para explorar os mistérios da torre e pôr um fim a Hora Sombria.

Como todo Persona moderno, a narrativa aqui é construída em cima do calendário do jogo, onde nosso protagonista embarca na vida cotidiana e corriqueira de um estudante do ensino médio, durante o dia vamos à escola, estudamos e passamos tempo criando laços com nossos amigos, e é aqui que o grande aspecto da franquia brilha.

Os Social Links são eventos especiais com uma vasta gama de personagens, baseando-se em Arcanas de cartas de Tarot, cada personagem é baseado em uma das 22 cartas do baralho, e isso reflete no desenvolvimento e personalidade desses personagens, e o que eu mais gosto aqui são as mensagens que se aprende com cada social link, tematicamente todos os eventos querem te contar algo além dos personagens, algo a mais que se conecta muito bem com o tema principal do jogo, que é a morte e sua aceitação.

Acaba que muitos dos personagens explorados nos Social Links não estão muito bem da cabeça, ou possuem algum trauma e desconforto emocional, e a solução de seus problemas afeta diretamente o jogador com suas mensagens impactantes e reflexivas e realmente te faz refletir sobre a vida e repensar seus próprios problemas.

Apesar de Persona 3 não conter Social Links com muito outros personagens, Reload adicionou uma nova mecânica similar chamada de Link Episodes, que são bem mais curtos porém extremamente efetivos em transmitir o desenvolvimento desses personagens.

Além disso, vale dar destaque para outra adição que são os passatempos com o pessoal do dormitório, onde é possível realizar várias atividades com diferentes pessoas ou em grupo, por exemplo cozinhar com a Yukari, fazer chá com a Mitsuru ou assistir DVD com o Akihiko, isso ajuda demais a subir seus Status Sociais e também a desenvolver mais a relação com os personagens além de adicionar mais opções de conteúdo na parte noturna do jogo.

Agora falando sobre a narrativa em si, ela é estruturada em volta de cada Lua Cheia do calendário, Persona 3 não possui dungeons temáticas como P4 e P5, mas usa o sistema das Luas para pré-determinar um acontecimento importante para história.

A narrativa se desenvolve a partir disso, e a cada lua cheia os eventos são ficando cada vez mais sérios e pesados com muitas reviravoltas e revelações sombrias, fazendo com que a história do jogo seja umas das mais imersivas e engajantes de se acompanhar.

Combate repaginado e divertido, carregando mudanças para o futuro

Um dos principais detrimentos do Persona 3 original era o seu combate, e a inabilidade de controlar todos os membros da S.E.E.S, isso foi resolvido na versão de PSP, porém mesmo jogando nos dias atuais o combate ainda é datado e meio desjeitoso de se controlar e já se via a hora de uma mudança drástica nesse ponto.

E agora com a oportunidade de um remake, surgiu a dúvida de como a ATLUS iria repaginar o combate para uma nova geração, visando as melhorias técnicas introduzidas em Persona 5, mas sem perder a essência do original, e esse foi o resultado de um dos combates mais engajantes e divertidos que eu já vi em um RPG de Turno nos últimos anos.

Persona 3 Reload | Sega

O combate em Persona 3 Reload continua passando o mesmo sentimento do original, é claro que houveram muitas mudanças técnicas e introduziram outras qualidades de vida que auxiliam demais no combate, mas você ainda vai entrar em um combate tomar um Mudoon na cara e vai ser instant-kill e boa sorte com isso, mas essa essência ainda vive, algo de extrema importância que caracterizou a série por muitos anos.

O grande destaque em Reload são duas novas mecânicas de combate, o sistema de Shift e o de Theurgia que foram introduzidos e fizeram uma mudança drástica no ritmo e execução das batalhas.

O sistema de Shift é basicamente o mesmo sistema de Baton-Pass de Persona 5, após derrubar um inimigo atingindo sua fraqueza, gerando um 1-More, pode-se passar o turno para outro aliado da equipe, e excetuar o All-Out-Attack para um dano massivo contra o inimigo.

O sistema de Theurgia é o mais interessante aqui, onde temos a adição de um medidor ao lado do portrait dos personagens, que carrega dependendo de certas ações de cada personagem, por exemplo a Theurgia da Yukari vai carregar mais rápido se ela usar habilidades de cura em alguém, e quando completas, as Theurgias liberam um ataque especial completamente extravagante e dinâmico com uma cutscene e tudo mais, que honestamente me lembram bastante as S-Crafts da série Trails.

Um pequeno incômodo é que essas novas adições ao combate podem deixar ele bem fácil no geral, ainda mais pro meio e final do jogo com habilidades mais quebradas em combinação com mais Theurgias que podem receber upgrades e os Shifts é possível devastar os bosses em poucos turnos, minha recomendação é jogar nas dificuldades mais altas se você gosta de um desafio a mais.

É Natal, e estamos na Tartarus…

Do que joguei de P3 FES e P3P, uma das coisas que eu não gostava nem um pouco era a Tartarus, a dungeon procedural nas versões anteriores era confusa demais de se explorar e bem frustrante, mesmo sabendo que o intuito do lugar era ser um labirinto, isso não se traduziu de uma maneira intuitiva ao gameplay.

Em Reload, pelo contrário, a Tartarus é surpreendentemente divertida de se explorar, ela ainda mantém o mesmo sentimento de ser um labirinto e dá pra se perder bem fácil, mas é tão mais rápido de se achar de novo e as recompensas que se encontram no caminho são bem interessantes.

Persona 3 Reload

Além disso a Tartatus conta com novas ferramentas, como as portas de Monade, que são salas especiais com um ou mais bosses que dão recompensas MUITO boas, além de adicionarem a lore do local. Também é possível usar skills que a Fuuka tem disponível para auxiliar na exploração, como ficar invisível aos inimigos e também de pular um andar completamente, além de outras adições especificais como subir o nível de um membro do grupo, resgatar pessoas, coletar baús de tesouro, localizar Sombras Raras, entre outras que deixam tudo mais fluido e natural.

Uma coisa que ajuda muito nesse aspecto, agora falando do combate em si, é que é muito rápido e dinâmico entrar e sair de um combate, utilizando todas as novas ferramentas e também o sistema da Hora das Cartas (Shuffle Time) que garante cartas com habilidades distintas, Personas, mais EXP e Dinheiro e por aí vai.

Bem vindo à Sala de Veludo…

Falando em combate, não dá pra deixar de mencionar a Sala de Veludo o local mais recorrente da franquia, que aqui funciona da mesma maneira, faça fusão entre suas Personas para obter uma mais forte, mas acho que o grande destaque vai para a Elizabeth e seus pedidos.

Elizabeth disponibiliza uma lista com vários pedidos, seja trazer um item específico para ela, ou fazer tal Persona com tal habilidade, e as recompensas por muitas das vezes são bem boas, e também dá pra chamar ela pra dar uma volta por aí gerando cenas bem cômicas e divertidas.

Apesar de eu achar Velvet Room de Persona 3 a mais simples entre P4 e o P5, ela ainda tem seu charme e um estilo único, esteticamente ela cumpre bem o seu papel.

A Lua artística de Persona 3 Reload

Para mim pessoalmente, o que mais me interessou e o grande impacto desse Remake é a mudança visual que Reload nós trouxe, a estética de menus, novas artes e música são de um grande agrado e me apetecem demais.

Eu sou um grande amante de arte, e ainda quero fazer um texto dedicado a arte desse jogo no futuro, então vou tentar não entrar em muitos detalhes por aqui, mas Azusa Shimada, que é a principal artista comandando Persona 3 Reload fez um trabalho excepcional ao meu ver, e é muito legal ver o crescimento dela como artista.

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Desde sua estreia em Persona 5 Royal, Shimada já veio me conquistando, o estilo dela em P5R era bem similar ao de Shigenori Soejima, quase não dava pra diferenciar, já em Persona 3 Reload, olhando as artes dos personagens já dá pra notar que ela construiu um estilo bem único e próprio, mesmo ainda usando de base muita coisa que Soejima introduziu. Isso me deixa muito curioso para ver como que não só ela, mas também Hanako Oribe e Akane Kabayashi e os outros artistas da ATLUS vão comandar Persona daqui pra frente, agora que Soejima está focado em outros projetos fora do P-Studio.

Mas na questão de estética de menus, era algo que já se esperava que seria diferenciado, desde de Persona 5 em 2016 a ATLUS desenvolveu esse estilo mais caricato e arrojado para seus menus, isso até virou meme na época com o menu de batalha de P5 e tudo mais.

E desde então ela vem de destacando cada vez mais nesse aspecto, e em Persona 3 Reload não é diferente, eu até dava dando uma olhada nos concept arts de P3R e até os menus que foram rejeitados são fascinantes, e o que acabou sendo escolhido foi uma decisão certeira demais deles.

O menu segue essa estética toda em azul como se o protagonista estivesse submerso no mar e isso bate muito de frente com a temática e contexto do jogo além de dar um ar de frescor e novidade bem diferente do habitual vermelho e preto de Persona 5. 

It’s Going Down Now – (Cleanest clean version)

Tal qual os visuais, a música em Persona captura um sentimento muito especial, não há discussões quanto a isso, quando Shoji Meguro está cozinhando novas músicas é sempre um deleite para os ouvidos de todo mundo.

Porém, surpreendente a trilha sonora de Persona 3 Reload gerou uma certa divisão entre a comunidade, em destaque as novas versões de trilhas antigas, por mais que ainda temos Lotus Juice comandando no vocal, a antiga vocalista Yumi Kawamura não está presente no remake por motivos pessoais gerando uma grande decepção com fãs.

Persona 3 Reload

No lugar dela temos Azumi Takahashi que em minha opinião é tão talentosa quanto, ainda acho que tanto as músicas novas quanto os remixes estão sensacionais e gostar ou não é muito subjetivo mas ainda acho isso está atrelado a nostalgia e não das músicas serem ruins per se, até por que não vi nenhuma reclamação das trilhas novas e honestamente Color Your Night é uma obra de arte.

A Incrível Localização em Português Brasileiro

Uma das principais novidades para nós Brasileiros é a inclusão de uma localização em Português Brasileiro, e isso é um claro incentivo da SEGA, já que os Like a Dragon também estão saindo localizados. Além de outros RPGs japoneses também como o Granblue Fantasy Relink.

É uma iniciativa muito legal de ser ver e traz grande acessibilidade aos jogos e a localização em si está fantástica, queria tirar um tempo aqui para agradecer a todos os envolvidos nesse trabalho, pois a localização está recheada de carinho e amor pela nossa língua, com referências culturais e várias nuances muito engraçadas, recomendo a todos que joguem em PT-BR e apreciem a dedicação e o esmero que colocaram aqui.

Lua Nova – Conclusões finais sobre Persona 3 Reload

Em conclusão, Persona 3 Reload é um excelente remake. Ele captura a essência do original e é carregado de novidades que mudarão o rumo dessa franquia, não é um jogo perfeito, os mesmos problemas do original ainda perduram e eu gostaria que a ATLUS incluísse todos os conteúdos das versões passadas, e não dependesse de DLCs adicionais ou novas versões.

O jogo poderia ter mais melhorias gráficas e sinto que o port de PC poderia ser melhor trabalho com mais opções de customização, a falta de ambient occlusion em alguns locais faz uma notável diferença, e a qualidade das cenas em animação é estranhamente baixa.

Mas apesar disso, Persona 3 Reload é obrigatório para todos os fãs da série e uma boa porta de entrada para a franquia, carregando temas filosóficos e mensagens tocantes e reflexivas, o título se tornou um dos meus jogos favoritos dos últimos anos, e me deixou com muita expectativa para o futuro da série daqui pra frente.

Nome do jogo:

Persona 3 Reload

Publisher:

SEGA

Desenvolvedora:

ATLUS, P-Studio

Plataformas Disponívies:

PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X

Nota: 9

Esta crítica foi escrita usando uma key enviada para o Game Lodge